Capítulo 22

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Capítulo 22.

...

arthur teve uma pendência para resolver, resolvi acompanhá-lo.

"nós somos irmãos, filhos do mesmo pai". a surpresa de ezequiel ao nos ver no presídio foi logo esquecida pela revelação posterior.

"dizer que lamento é pouco". não era brincadeira, ele realmente falava sério.

"posso perguntar o que foi que ele fez com a sua mãe?". arthur quis saber.

"minha mãe não foi nenhuma santa não arthur, procurou algumas coisas". "largou faculdade, emprego, os pais e a família depois de ter ido em um baile funk, queria conhecer sabe?". "conheceu tanto que acabou conseguindo o patrocínio do falcão". "depois que a mulher deixou ele ela virou fiel, entrou para essa vida com ele por vontade e escolha".

"me desculpa, mas você disse que tinha raiva dele pelo que ele fez com a sua mãe". interrompi.

"se acalma que você já vai entender". "meu avô insistiu para ela voltar para casa quando ficou grávida, quase tinha sido presa uma vez por associação ao tráfico". "ela ficou toda iludida, dizendo para o pai dela que o falcão iria mudar por causa do filho, que quando soubesse da gravidez os dois recomeçariam a vida longe do morro". "quando ele soube ele tentou forçar ela a me abortar". "ela usou os poucos miolos que ainda tinha na cabeça para lutar por mim, mas nem se animem muito, logo esses miolos acabariam". algo irritante em ezequiel era a forma engraçada que contava coisas tensas, um mecanismo de defesa triste.

"ela voltou para casa,, eu nasci, ela cuidou de mim nos meus primeiros 4 anos". "quando estava quase concluindo a faculdade de enfermagem, ele ligou para ela na cadeia dizendo que precisava dela". "você é o amor da minha vida, me perdoa, sem você eu não vivo!". "vem aqui me ver e eu te prometo que nós vamos começar uma vida nova, nós dois e o nosso filho, traz ele para me conhecer também, eu tenho que pedir desculpa!". ezequiel sorriu. "se o falcão desce aula de teatro para atores da globo, a gente teria uma qualidade de dramaturgia muito melhor nesse país!".

"é por isso que você proibiu que a gente trouxesse a ester aqui, né?". artur perguntou.

"eu conheci meu pai na cadeia, você não tem noção de como foi estranho tudo isso". "vai acreditar se eu disser que minha mãe me levou para participar do plano de fuga dele arquitetado pelos amiguinhos dele do morro?". coloquei as duas mãos no rosto completamente horrorizada.

"como é que pode uma pessoa fazer isso com o próprio filho?".

"existem mães e mães no mundo abigail". "eu cresci tendo tudo que você pode imaginar". "os brinquedos mais famosos, os celulares do ano na época, os melhores videogames". "só que a polícia, ó". bateu palmas.

"Essa situação é de acabar com o psicológico de qualquer criança". arthur comentou consternado.

"minha mãe começou a ser traída, ameaçava ir embora até ele pedir perdão e ela voltar a fazer os corres para ele". "ela não era uma mãe ruim, mas não dá para esperar muita coisa de uma mulher de miolo mole como ela né?". "quando eu tinha 15 anos, ele expulsou nós dois de casa para colocar uma das amantes". "nos deu outra casa para morarmos, mas no outro dia, eu entrei no quarto dela e encontrei ela morta". "ele foi mais importante que eu, isso me dói até hoje". "a cadeia me fez parar, esfriar um pouco essa cabeça que eu tenho e pensar que eu guardei ódio do falcão pelo que ele fez a minha mãe, mas no final de tudo acabei percebendo que os dois erraram, ninguém obrigou ela a continuar com ele".

"mas por que você seguiu os passos dele ezequiel pelo amor de deus ? " . arthur não estava julgando, simplesmente tentava entender.

"a gente passou toda a minha vida usando nomes falsos". "eu estudei até o primeiro ano do ensino médio com uma série de nomes falsos, morando em todo tipo de lugares". "o falcão me deixou em uma casa em angra com a minha mãe, voltou para o morro para ajudar o maurício levando a outra mulher". "eu comecei a trabalhar, mas tive que morar numa favela". "eu fazia todo e qualquer serviço que aparecia". "podia não ter o ensino médio completo mas sabia o básico da vida". "conheci a alicia quando nós dois tínhamos 18 anos". "quando ela me contou que o pai fazia com ela, os abusos que sofria, eu perdi a cabeça, matei ele". "ele era o braço direito do chefão do morro, o cara me julgou no tribunal do crime e me condenou a morte". "sinceramente, pensando hoje acho que até teria sido melhor". "não sei o que que deu no tico e o teco dele, mas me ofereceu uma proposta para não morrer, eu tinha que trabalhar para ele". "o burro aqui aceitou, pensando na namorada que ficaria sozinha, ainda naquela ilusão de um dia conseguir sair disso e viver por minha conta". "até que o maurício e o falcão me procuraram.

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