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KITANA TENÓRIO

Eu escutei um barulho vindo do meu celular na mesa de cabeceira ao lado da minha cama. Eu enruguei a testa e resmunguei, vendo que o relógio digital ao lado marcava três horas da manhã. Pedro resmungou ao meu lado e se mexeu na cama. Peguei o meu celular e atendi a chamada sem nem olhar o nome.

— Olá, boa noite. Aqui é do Hospital San Vida, eu estou falando com a Kitana Tenório? — uma mulher perguntou por trás da linha. De repente, eu me senti fora do meu corpo e gaguejei. Pedro estranhou e se assentou na cama, eu ouvi a voz dele de longe.

Geralmente o hospital ligava para a família dos pacientes quando eles morriam. Eu já presenciei isso muitas vezes.

— Sim, sou eu. Pois não? — eu perguntei.

Precisamos de alguns documentos da sua mãe, Kitana. Compareça com eles aqui, por favor. — a mulher disse. Eu fiz um som nasal, concordando, e a mulher se despediu, logo encerrando a chamada.

— A minha mãe morreu. — eu disse. Pedro arregalou os olhos e me puxou para um abraço enquanto acariciava os meus fios de cabelo. Eu estava sem reação, não conseguia mais chorar, só sentia um vazio intenso no meu coração.

Acho que depois que eu vi tantas mortes dentro do hospital, eu me tornei assim. O médico preceptor não deixava nós termos tempo para chorar e termos nosso tempo de luta quando víamos alguém morrer e eu aprendi isso com o tempo. Mas também, chorar agora não ajudaria nada. O hospital já deve ter ligado para a Mileena também.

O meu pai não queria saber dessa situação. Ele era nojento e sem coração até quando a sua esposa está prestes a morrer. Ele jogou esse peso para mim e para a minha irmã. Será que dariam a notícia para a Skarlet? Ela também era filha da minha mãe. Era impossível não pensar nisso agora, eu poderia ter acabado com a garota, mas ainda era um ser humano e me coloquei no lugar dela.

Meu maior defeito é pensar nos outros mesmo que eles tenham errado para caralho comigo.

Eu tenho repúdio e ódio dela, não minto, mas ainda sim me coloquei em seu lugar. Se eu fosse presa e a minha mãe morresse, eu gostaria que me informassem.

(...)

Eu estava usando um moletom do Pedro, que tinha um capuz. A imprensa estava procurando porquês para o Pedro estar aqui, e consequentemente eu também, já que eu era namorada e mãe dos filhos dele.

Eu pensava que não poderia me sentir mais mal ainda, mas a vida me mostrou que sim quando jornais e páginas de fofoca disseram que eu era uma vagabunda por ter dois filhos com o Pedro e não ser casada com ele.

Me aproximei do médico que estava cuidando da minha mãe e ele me encarou cabisbaixo.

— Já deve saber o que aconteceu, Kitana... — Julian disse. Ele se tornou um colega de trabalho com o tempo. — Sua mãe veio a óbito às uma e vinte e sete da manhã. Nós fizemos de tudo, mas ela não resistiu.

Eu senti as minhas pernas se tornarem gelatina e o Pedro me segurou. Julian me encarou com lágrimas nos olhos e abaixou a prancheta que ele estava segurando, sentindo o luto por mim.

Por que as pessoas mais importantes para nós precisam morrer? Por que elas não podem viver eternamente? A minha mãe se arrependeu de verdade e ela teve que morrer para aprender que me tratou mal em vão, ela nem teve uma oportunidade de criar memórias boas comigo. Mileena deveria estar pior do que eu, já que ela era mais grudada na minha mãe.

Além disso, a minha sobrinha nasceu há uma semana atrás e o seu nome dava continuidade a saga dos nomes de Mortal Kombat. A filha do Pablo e da Mileena se chamava Jade.

kitana², pedri gonzález. Onde histórias criam vida. Descubra agora