Anjo e Demônio

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13 anos atrás

Entro apressada na escola olhando por todos os lados, percorrendo cada canto com os olhos na esperança de encontrar ela. Ando pelos corredores, olhando dentro das salas de aula. Na porta da última sala encontro um grupo de quatro pessoas e tenho a sensação de já tê-los visto com ela. Olho em direção a eles, engulo secamente a saliva e tomo coragem para abrir a boca.
- Vocês viram a Maria Paula por aí? - falo em um tom baixo e seco, mas é perceptível o nervoso em minha fala.
- Se você que é a sombra dela não sabe onde ela está porque nós saberíamos? - responde uma garota de cabelo rosa pink e piercings pelo rosto.
Olho para ela por dois segundos, aperto a alça da minha mochilla e desvio o olhar para o chão tentando controlar meu coração acelerado e as lágrimas que estão se formando em meus olhos.
Sinto alguém parar na minha frente, colocar um dedo em meu queixo e levantar minha cabeça com certa ignorância.
- Virgem de Guadalupe ela não colou com a gente hoje. Agora vaza! - um cara com a aparência mais velha e algumas cicatrizes pelo rosto falou em um tom mais ríspido e alto.
Foi a deixa para eu apressar meus passos e entrar no banheiro feminino. Jogo minha mochila em cima da pia, apoio meus cotovelos e afundo minhas mãos em meu rosto deixando algumas lágrimas escaparem.
- Que inferno Maria Paula onde você se meteu... - murmuro de forma quase inaudível pensando alto.
Depois de alguns segundos levanto a cabeça e me olho no espelho. Como pode duas pessoas serem tão parecidas e ao mesmo tempo serem completos opostos?! Viajo por meus pensamentos e sou despertada com uma voz masculina do lado de fora me gritando.
- Dul para de procurar por essa maluca. Ela não apareceu na escola de novo.
Não respondo nada, mas sinto um estalo de pensamento e começo a procurar pelas cabines do banheiro, porém sem sucesso.
- Dulce Maria se você não sair desse banheiro agora eu vou entrar e não tô nem aí se você vai estar abaixando ou levantando a calça.
Solto uma risada fraca pelo nariz, pego minha mochila e saio do banheiro.
- Chris eu só estou preocupada. Tem 3 dias que ela não aparece na escola e ontem ela não dormiu em casa.
- Dul eu sei que você se preocupa, mas ela não está nem aí para você. Para de se colocar na posição de mãe, vocês são irmãs e você não tem nenhuma obrigação com ela.
Christian era meu melhor amigo. Nos conhecemos desde bebês, nossos pais são velhos amigos e ele, diferente de quase todo mundo, me acha a gêmea mais legal. Christian nunca se deixou levar pelo jeito cínico e manipulador de Maria Paula. Ela conseguia persuadir todo mundo para conseguir o que queria e, na maioria das vezes, dava certo.
- Eu sei, mas é difícil ter que mentir para os nossos pais. Eles me cobram o tempo todo me questionando sobre como ela está na escola. Não aguento mais ter que fazer as mesmas provas duas vezes me passando por ela.
Christian me olha de forma piedosa, leva a mão até meu rosto e faz um leve carinho.
- Dulce, Maria Paula não quer ser ajudada, na verdade ela não se importa com ninguém além dela mesma. Deixa seus pais tomarem as rédeas da situação. Você não merece perder o seu ensino médio sendo babá de uma adolescente inconsequente.
Ouço suas palavras e sinto o choro subindo pela garganta. Fecho os olhos e deito levemente a cabeça em sua mão respirando fundo para não chorar. Christian me abraça de forma afetuosa, abraço de urso como costumamos chamar e só fazemos isso quando sentimos que o outro está desmoronando. Temos uma conexão quase que espiritual, na maioria das vezes falamos um com o outro apenas com o olhar e ele sabia que, nesse exato momento, eu estava a ponto de explodir.
Ficamos alguns minutos abraçados e somos despertados pelo som alto e estridente do sinal avisando que as aulas iriam começar. Me solto de Christian limpando meus olhos e fungando algumas vezes pelo nariz tentando puxar o ar já que entupiu devido ao choro. Saímos do banheiro feminino e seguimos para sala. Olho para o lado e paro em frente ao banheiro masculino e penso rápido.
- Será que ela está aí dentro? - pergunto olhando em direção ao banheiro.
Christian franze a testa como uma feição de dúvida
- A gente conhece muito bem ela e sabemos que facilmente ela poderia estar atracada com algum menino aí dentro.
Christian arregala levemente os olhos, mas não dou tempo para que ele responda. Entro no banheiro masculino abrindo todas as portas. Christian entra apressado atrás de mim.
- Você está maluca? Se alguém pega você aqui é advertência na certa e sorte sua que não tem nenhum homem pelado aqui.
Olho para ele confusa
- ué vocês costumam ficar pelados para fazer xixi? Achei que só abaixassem a calça.
Ele ri do meu questionamento e balança a cabeça.
- Dul vamos sair daqui. A aula já começou a 5 minutos e estamos atrasados, no intervalo eu te ajudo a procurar por ela, mesmo que ela não mereça toda essa sua preocupação.
Dou um sorriso fraco sem mostrar os dentes.
- Eu só queria que ela pensasse um pouco que as atitudes dela geram consequências que prejudicam muita gente. - digo abaixando o olhar mirando o chão.
Sinto as mãos de Christian segurar meu rosto me fazendo olhar nos seus olhos.
- Dul você não tem que se culpar por ter uma gêmea louca e dissimulada. Você não tem que ser responsável pelas atitudes dela. Vocês dividiram um útero, mas são duas pessoas completamente diferentes. Deixa esse problema para seus pais, ninguém tem culpa se eles fizeram um anjo e um demônio. Eles que lidem com o inferno.
Eu dou um sorriso triste de canto e Chris beija minha testa.
- Agora vamos para aula, temos prova no primeiro horário e aquela bruxa da sua irmã não merece que você abaixe sua média por ela.
Saímos de banheiro apressados em direção a sala.

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