Fazia um amanhecer divino naquela manhã.
Por mais que Poe não fosse muito fã de dias mais acalorados, não pôde evitar de flagrar-se admirando o céu muito azul através de sua janela. Parecia que, mesmo àquela hora, o sol já radiava um esplendor de renovação por sobre toda a extensão visível do C.G.R.Y.
8 horas.
Edgar, já vestido, rezava para que as enfermeiras da organização não fizessem perguntas sobre seu pijama úmido e sujo de terra. Era melhor que ninguém soubesse que ele estivera perambulando à noite pelo jardim, por uma questão de prevenção, decidiu. Dessa forma, deixou o pijama o mais escondido possível sob as cobertas para que as chances de ser pego não fossem tão preocupantes em sua mente perturbada.
Uma sensação estranha de observação o acompanhou em todo o caminho, desde a porta de seu quarto até a área de refeições. A cada passo, um desconforto estranho se apossava dele.
Não queria tomar café. Não tinha fome. Não podia ter fome.
Sabemos que é de certa forma até entediante seguir os passos de um ser tão deprimido como Edgar, mas espere...
Por detrás daquele olhar cansado pela monotonia da repetição de seus dias, Poe ocultava um sentimento novo. Um brilho diferente que acalentava seu interior.
Cá entre nós, sabemos o que --ou quem-- causou essa leve e repentina mudança. Mas vamos deixar por conta do próprio "Ed" para descobrir isso. Sem pressa.
Enquanto esse cenário poderia se repetir mais uma vez, ocorreu a primeira anomalia. Anomalia, por assim dizer, como Edgar trataria uma quebra de sua rotina.
Ao chegar à área de refeições, já sabendo que nem sequer seu café de todo o dia iria tocar seus lábios, uma figura perturbadoramente animada andava ligeiramente em sua direção.
Sob a luz que filtrava das janelas naquele amanhecer alvo e celestial, foi possível reconhecê-la de cara. Aquela a quem nenhum paciente do Centro Geral de Recuperação de Yokohama poupava esforços para repelir de uma conversa.
-Bom dia Poe!- Ela tentava soar animada, mas o cansaço era perceptível em seus olhos verdes como vitrais de verão.
-Ah, Lucy. -Suspirou ele, apertando o livro contra o corpo como que para se defender.
Não é como se Lucy fosse uma pessoa abominável. Ela apenas... era complicada, devido aos seus surtos do transtorno de hiperatividade com déficit de atenção¹, os quais poderiam durar horas, e depois deixá-la sedada pela própria falta de energia. Um caso um tanto quanto incomum, porém muito bem estudado e medicado. Edgar se compadeceu dela por um segundo, pronto para receber uma porção de palavras profundamente significativas ou de curiosidades indesejadas.
-Não faz um dia exuberante hoje, Poe? -Ela indagou, juntando as mãos em frente ao corpo, o vestido branco desgastado na barra revelando os pés descalços.
-É... eu acho- ele concordou, com uma espécie de insegurança em suas palavras.
-Não é engraçado dizer que "acha" sobre algo que se pode ver com clareza? Eu acho então que seu gosto para clima não é o mesmo que o meu- Lucy suspirou. Os dois estavam parados logo próximos da entrada da área de refeições, logo era muito fácil ver e cumprimentar qualquer outro paciente que por ali passasse.
-Eu acho que temos somente perspectivas diferentes- Edgar interpôs, timidamente.
-Perspectivas diferentes não querem dizer, necessariamente, que algo não pode ser belo. É só um jeito diferente de ver as coisas- ela esboçou um sorriso fraco.
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⋆°• Lovely Memories⋆⁺₊ ~{Ranpoe♡}~
Fiksi PenggemarEdgar Allan Poe não consegue se lembrar de absolutamente nada do seu passado além das informações básicas. Seu nome, sua caligrafia, as coisas que aprendera na escola, bem como detalhes românticos da vida que ele não faz ideia de onde aprendeu; o me...