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Sete e meia da manhã.

Soava o despertador. Bastou apenas uma sequência de bipes para fazer Edgar acordar e acertar o aparelho com o punho fechado para desligá-lo.

Aquilo já chegava a ser cansativo, mas que opção tinha ele?

Levantou-se e, como de costume, buscou pelas roupas dentro do armário. Seus olhos ainda pesavam com certo sono, levando em consideração que o rapaz passara até altas horas da noite pensando e repensando sobre seu estado.

Durante dois anos, ele nunca sentira essa necessidade do questionamento. Então por que agora sua mente se conturbava de tal maneira?

O tanto que havia refletido naquilo valia por uma semana inteira.

Com as mesmas roupas de todos os dias ajustadas em seu corpo de alta estatura e os costumeiros tênis da Coca-Cola nos pés, Poe olhou para seu livro manuscrito sobre a escrivaninha antes de pegá-lo. Sentia algum tipo de remorso, um sentimento estranho, agora encarando mais atentamente a capa escura desprovida de título.

De que adiantava carregar o exemplar incompleto para todos os lados mesmo sabendo que, a menos que um milagre acontecesse, provavelmente não teria capacidade de finalizar o trabalho tanto tempo antes iniciado? De qualquer forma, talvez não fosse de todo lá tão impossível. Se existe um chance dentro de um milhão, ainda existe uma chance.

Ele mal reparou na luminosidade do amanhecer que se derramava no céu por através da janela.

Karl, seu guaxinim de pelúcia, ao lado da cama, não recebeu o "bom dia" de sempre.

Prestes a sair do quarto, Edgar parou um instante, a mão ainda pairando próxima da maçaneta da porta. Era cansativo manter aqueles hábitos de mesmisse. Mas se isso significasse permanecer em uma zona de conforto que foi responsável pela sua estabilidade, então Poe não abriria mão.

Deu alguns passos para trás e mumurou "bom dia" antes de deixar o quarto.

No corredor, Yosano deu-lhe o mesmo sorriso matinal de todos os dias. Não foi necessário da parte dela oferecer um cumprimento, porque Poe fez isso por conta própria:

-Yosano, bom dia. Poderia me dizer se Mori-san deseja me ver hoje outra vez? Não me sinto disposto para outra consulta médica. -A médica fez sumir o sorriso usando a espontânea surpresa que perspassou sua expressão.

-Bom, ele talvez gostaria de algum relatório de rotina, mas se quiser eu aviso para deixar para outro dia...

-Ótimo. -Rapidamente, Poe deu as costas para Yosano, e seguiu mecanicamente em direção à escada.

A cada degrau descido, Edgar parecia se sentir ainda mais deprimido para continuar naquele lugar. Estava em conflito com sua mente: por um lado, pensava que já não se sentia mais tão bem com toda aquela repetição de acontecimentos todos os dias, mesma roupa, mesmos sapatos, mesmos exames e relatórios de saúde de rotina, mesmos remédios, mesmos lugares, mesmo bloqueio na hora de tentar escrever. Por outro, a simples ideia de abandonar todas aquelas coisas, aqueles detalhes obsessivos, o apavorava; sabendo que Poe não possuía nenhuma memória de vida diferente daquela que se repetia todos os dias pelos últimos dois anos, então como poderia reaprender a se adaptar ao mundo ao redor?

A resposta era muito óbvia: ele não reaprenderia. Não se adaptaria. Se encaixar nunca deixou de ser um dos piores desafios, em todas as épocas da humanidade.

Se encaixar...

Edgar flagrou-se divagando sobre o assunto. Enquanto andava timidamente, de ombros caídos, pelo corredor que levava à área de refeições, o livro e a caneta acomodados entre os braços, ele ponderava muito profundamente. Se encaixar era um ato estúpido ou necessário? Afinal, o mundo de todas as eras tinha esse princípio oculto em alguma história. Talvez valesse a pena anotar isso em alguma página de seu livro.

⋆°• Lovely Memories⋆⁺₊ ~{Ranpoe♡}~Onde histórias criam vida. Descubra agora