De volta pra casa

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— Por quê?

— Porque... – ele pressionava os lábios, pegando outra cerveja. Bebíamos rapidamente, sem dar intervalo entre uma e outra, motivados pelo calor da noite – não é legal quando ela está aqui.

— Ela é tipo, babaca com você?

— Nem é isso – seu semblante tornava-se sério – é o que ela representa, entende?

— Se for pra ser sincera... – negava com a cabeça – não.

— Tu vê como meus pais falam dela, Téo? – ele cerrava as sobrancelhas – a qualquer oportunidade, eles citam ela ou alguma coisa que ela fez.

Sobre isso, ele tinha razão. Não a conhecia além da foto que sua mãe me mostrava, mas sabia o suficiente sobre ela. Sabia que ela foi considerava um prodígio porque tinha começado a ler muito cedo e sempre era destaque na escola, mas ganhou prestígio na faculdade.

Foi morar fora da cidade para estudar ainda adolescente, e não voltou mais para lá se não fosse nas férias de fim de ano, e ainda assim ela vivia estudando. Seu estudo tinha ganho um prêmio ou coisa assim, e ela tinha sido indicada para fazer seu doutorado fora do país, e que agora estava retornando para um período de férias definitiva. Tudo isso e ainda ia fazer trinta anos.

Ela era tão focada nos estudos que sua mãe dizia que ela tinha uma estante de livros só dos quais ela leu, sem tirar as teses e os livros que ela já tinha escrito, as entrevistas que tinha dado e as inúmeras palestras que fazia para a sua Universidade.

— Você não deveria se sentir assim – negava com a cabeça – talvez ela nem seja tudo isso.

— Como não? – ele ria com desdém – Ela é uma doutora e eu sou um vagabundo que joga videogame o dia todo.

— Cris – passei a mão sobre seu ombro – Você é diferente dela e ela de você, não temos como nos comparar.

O entendia, e talvez fosse o que queria ter ouvido na época.

— E essas coisas não querem dizer nada. Diploma, status, nada. No final não somos nada.

Cristiano me olhou sério, e voltou a rir.

— Téo, você já está bêbada?

Peguei outra latinha, e abri batendo na sua.

— Não. Quando eu tiver, você vai perceber.

Continuamos a beber durante a festa inteira. O amigo de Cristiano, de nome Lucas tinha se juntado a nós e ajudado a terminar o pacote que tinha, que começava a ficar quente, mas não nos importamos com isso.

A única coisa que importava era que já era de madrugada, e tanto eu quanto Cristiano estávamos totalmente bêbados. Reconhecia quando estava porque eu olhei para a minha própria mão e ria, e Cristiano falava de forma arrastada qual eu nunca tinha visto.

— Eu estou...te falando...mano... – ele segurava o ombro de Lucas, que ria de nós dois – essa menina foi uma enviada divina.

— Olha aí, Téo – ele balançava a cerveja em suas mãos – concordo com ele.

— Ah, calem a boca vocês dois!

— Tá vendo? – Cristiano me abraçava pelo pescoço – Eu adoro esse garota...

— Agora vocês vão me dar licença... – tentei me levantar, trôpega – tenho que ir no banheiro.

O excesso de cerveja começava a pesar enquanto eu caminhava contra as pessoas. Segui a fila que imaginei ser a do banheiro e ali fiquei, sentindo minha cabeça girar e voltar.

Ao Norte de lugar nenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora