Retratos renunciados

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A parte mais difícil foi convencer minha mãe de que aquilo era uma boa ideia. Ela achava aquilo péssimo em todas as esferas, sem contar o notável descontentamento com o fato de termos mexido em suas coisas pessoais. Minha tia se prestou a explicar de que, já que ela não estava contribuindo com nada além de brigar conosco e virar a cara, tivemos que nos virar como podíamos.

Escolhi não falar nada para meu pai e nem para a sua irmã. No entanto, um convite havia sido feito.

"Terá um jantar de negócios aqui nesse final de semana. Gostaria que viesse para ser minha companhia. Tem uns amigos que quero te apresentar também. Dizem que querem finalmente te conhecer."

― É o evento da elite daquela cidade, Teodora – dizia Catarina entre os dentes, em um sorriso malicioso sentada na minha cama– coisa grande. Tenho certeza que tua família inteira vai estar lá.

― Justamente por isso estarei indo – voltei a falar, colocando o travesseiro do seu lado.

― Vai confrontar sua vovó querida na frente de toda a sociedade? – ela levantava uma das sobrancelhas, curiosa. Neguei com um aceno.

― Nada de tão grandioso assim – voltei a olhar pra ela – e, além do mais, nós temos que ir, de qualquer jeito.

― Não sei se quero ir pra casa... – disse ela me puxando pela camisa – Está ótimo aqui na casa da minha sogra.

Ri envergonhado do seu comentário, mas não pude deixar de aproveitar a aproximação e a beijar. Não entendia como sua presença se tornou algo tão comum na minha vida a ponto de que soa estranho o fato de pensar que ela não esteve ali o tempo todo, e sim de um tempo pra cá.

É como se aquele tivesse que ser o seu lugar. Não me importava como estava com ela, seja andando até algum lugar ou a vendo ler, ou somente se prestar a me encarar de volta. Gostava quando ela se deitava do meu lado e acariciava seu cabelo, até a fazê-la dormir, ou quando estávamos em momentos mais íntimos, e nossos corpos se roçavam até a hora que o cansaço era mais forte do que a vontade de estar ali.

Mas, infelizmente, por mais que quisesse que minha vida se resumisse a ficar com Catarina o dia todo, tinha outros problemas para resolver, e eles tinham acabado de chegar, tentando dar um cumprimento tímido para a visita, e logo indo para o quarto.

― Já falou pra sua mãe sobre isso? – perguntou Catarina enquanto ainda me abraçava. Neguei, e ela fez uma careta – Por quê?

― Não sei se é a melhor hora...

― Mas, seu pai já até mandou as passagens – ela franziu o cenho – uma hora ou outra, tu vai ter que falar.

Pressionei os lábios, relutante. Continuei sem ter uma resposta melhor do que esse mero gesto de confusão.

― Bom... – ela se levantou, assentindo com um aceno – Vou te ajudar com isso.

Pegou o casaco da cadeira, me fazendo estranhar completamente aquela atitude. Vestiu e procurou logo pelo gorro.

― Você vai sair? – perguntei ainda mais confusa.

― Vou dar uma volta, andar um pouco... – assim que o colocou, pegou a bolsa e colocou de lado – Acho que vocês precisam de privacidade.

E, dando como vencida, concordei com um aceno. Ela me beijou mais uma vez e se despediu de mim, saindo pela porta da frente, e para piorar, levando minha chave.

Passei um tempo ali até que tive coragem de ir para o quarto da minha mãe. Dei algumas batidas na porta, e ela falou para que eu entrasse. Estava olhando um álbum de fotografias, com um ar nostálgico. Não era aquele que ficava na sala, e sim outro que ficava guardado no quarto, dentro de uma caixa com outras coisas. Foi ali que, vendo algumas coisas com minha tia, soube do meu pai.

Ao Norte de lugar nenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora