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Soraya...


_Que droga_ murmuro.

Me encontro sentada na beirada de minha pequena cama, com um pedaço de papel nas mãos, olhando para os galhos da árvore que balançam em frente à minha janela do quarto, nenhuma lágrima sai, embora eu queira colocar algo para fora.

_O que eu fiz?_ uma pergunta que não me trará respostas.

Tanto essa como várias outras perguntas não terei respostas, porque estou sozinha, nessa casa, nessa cidade, nesse mundo, sou apenas eu e minha cachorrinha, que se encontra dormindo sobre um tapete azul perto de minha penteadeira.

_Filha, nós vamos embora daqui_ digo baixinho.

Ela nem se move, continua no seu sono profundo, e eu não consigo nem me mover, percorro com os olhos cada parte do meu quarto, até ontem eu tinha sentada na cadeira ao lado da cama a minha mãe conversando comigo, e hoje me encontro só.

_Por quê isso comigo?_ agora meus olhos se enchem de lágrimas.

Quando uma lágrima cai, várias outras começam a cair e molhar meu rosto, nem consigo mexer minha mão para poder enxugar, fecho os olhos e os abro no segundo seguinte, me jogo na cama, o papel cai ao meu lado.

_Como vocês tiveram coragem de fazer isso com a própria filha?_ uma nova pergunta.

Não havia feito nada de errado, minha consciência está limpa, e até ontem eu agi como todo o meu respeito que tenho pelos meus pais, e hoje eu acordo e dou de cara com a casa vazia e uma carta sobre a mesa.

Com letras cursivas não está escrito um motivo do porquê eles foram embora, mas sim um "você já está grandinha para dar conta de se virar" e entre outras coisas mais, e no final se diz, "cuide-se, você ficará bem".

_Como vou ficar bem diante dessa situação?_ volto a me sentar.

Tava tudo bem aqui, o único problema era a dificuldade financeira que passamos a enfrentar quando meu pai perdeu seu emprego, por sorte, minha mãe trabalhava com costura e recebia muitas encomendas, isso nos ajudou até então.

Mas estávamos felizes, não tínhamos muitas coisas mas éramos felizes, e então não consigo ainda entender o que levou eles a tomarem essa decisão, sem ao menos me comunicar, mas levaram a minha irmã mais nova, pelo menos ela tem eles.

_O que vou fazer agora?_ levanto.

A minha cachorrinha me olha, e levanta, abana o seu rabinho e vem até mim, pego ela no meu colo e saio do quarto, na geladeira não há nada, apenas duas garrafas de água, no armário nada também, apenas um sachê da deusdete.

_Você precisa tomar seu café da manhã_ coloco ela de volta no chão.

Pego o pacote e despejo a carne que há dentro no pratinho dela, ando pela casa, tudo silêncio, e eu não escutei nada, nem notei nada também, me enganaram direitinho, foram embora sem se despedirem.

_É, estou sozinha_ murmuro.

Decido tomar um banho, pois após eu ler a carta já havia decidido que iria embora daqui também e tentar algo mas lá na frente na cidade, já que nossa casa é um pouco mais afastada.

_Não, eu nunca vou entender_ digo e balanço a cabeça em negação.

Tiro minha roupa e fico nua, tomo meu banho rápido, sigo para o quarto e visto uma nova roupa, pego uma mochila e vou colocando todas as outras peças minhas que há na penteadeira, deixo arrumada e pego outra.

Nosso DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora