Capítulo 9: Desconfianças

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Nada mais me doeu tanto quanto ter que deixar ela sozinha depois de receber tanto amor. Eu queria dormir com ela e ficar agarrado, mas ainda não era possível.

- Vá com cuidado. - ela pediu ainda enrolada no lençol.

- Se cuide. Eu sei me cuidar.

Sai dali com passos de gato e logo voltei para a minha dormida. Meu pai continuava dormindo e eu não preguei mais os olhos. Minha mente só repensava a nossa primeira vez infinitas vezes. Ela era a minha mulher e eu mataria e morreria por ela.

...

No dia seguinte...

Casa Grande, quarto de Juliete.

Como não consegui mais dormir depois que Rodolfo saiu, fui arrumar o meu quarto. Nele tinham as marcas do nosso ato e Marina não poderia ver nada disso.

Troquei toda a roupa de cama e escondi aqueles lençóis sujos que eu teria que dá fim em um lugar seguro.

- Juliete, bom dia. - Marina chegou animada no meu quarto e eu lhe respondi da mesma forma.

- Bom dia Marina.

- O quê houve que está de pé tão cedo. Trocou a roupa de cama? - ela deu reparo imediato. - Cadê os lençóis para eu lavar?

Fiquei sem reação. Eu não poderia dá os lençóis.

- Eles estão limpos, não precisa lavar, só guardei e depois eu volto a usar.

- Eu preciso ver e me certificar. Seu pai gosta das coisas impecáveis.

- Marina não confia em mim? Acredite no que eu te digo.

Ela me olhou um pouco mais e balançou a cabeça.

- Claro que confio. Agora venha... Vou arrumar seu cabelo.

Fui para a penteadeira e me sentei o mais normal que consegui na cadeira. Eu me sentia dolorida e sensível, mas não poderia falar nada com ninguém.

Marina começou a pentear meu cabelo e vez ou outra se aproximava da minha cabeça.

- Que cheiro é esse Juliete?

Eu ainda tinha o cheiro de Rodolfo pelo corpo.

- É o meu cheiro. Perfume que papai me trouxe do Recife, lembra-se?

- Na verdade não lembro, mas estou lhe achando estranha hoje. O quê se passa?

- Só tive pesadelos a noite. Dormi muito pouco.

- Isso é bem ruim.

Marina era uma mulher experiente, ao menor sinal ela pegaria as coisas no ar. Mas mesmo com todas as coisas que eram contra nós, eu me sentia feliz. Se era uma completa loucura, era a melhor das nossas vidas.

...

Uma semana depois.

A noite escura e chuvosa me dava as condições ideais para ver minha amada. Faziam três dias que não podíamos nos ver por que a festa de boi estava chegando e o pai dela só vivia nos arredores da casa. Eu estava enlouquecendo de saudades.

Fiz como de costume e deixei meu pai adormecido. O quarto de Juliete estava totalmente escuro, mas a janela estava aberta. Hoje não poderia existir barulhos, mas eu iria tê-la para mim.

- Meu amor... - Disse enquanto te beijava. - Que saudades.

- Eu também.

Nossa conversa era um sussurro e dessa vez fizemos amor no chão por que a cama não podia entregar nós dois. O nosso crime era silencioso e muito gostoso.

- Estou me arriscando demais. Se seu pai descobrir vai me matar. Não se pode fazer isso embaixo das barbas de um pai de família.

- Não pode me deixar. Por favor...

- Amor... - eu segurei seu rosto. - Nunca vou lhe deixar. Prefiro morrer a viver sem você. Eu vou ganhar o prêmio da vaquejada e esse dinheiro será nosso, lhe juro.

- Eu acredito amor.

- Quero pedir sua mão a seu pai, mas estou tentando ter o respeito dele.  Faço tudo que ele me pede com dedicação e se eu me mostrar um bom vaqueiro, ele pode confiar em mim e aceitar que a gente se case. Mas se ele disser não, vamos fugir.

- Eu estou pronta.

- Sabe que não tenho dinheiro, mas se eu conseguir ser um bom vaqueiro eu consigo dá conta de uma família.

- Irei contigo a qualquer lugar. Não importa qual seja, eu só quero que não me abandone.

- Vamos casar, te juro.

A abracei mais forte, lhe dei um beijo apaixonado, me vesti e fui embora. O pior momento era esse, mas era por pouco tempo.

...

Dois dias se passaram e a festa do boi começava a acontecer. A fazenda estava lotada de pessoas de todos os lugares e eu via tudo de longe.

Muita gente rica reunida e eu via Juliete interagindo com algumas pessoas. Ela era muito sociável e simpática, mas esse não era o problema, o quê estava me irritando era um galego que estava sempre a sua volta.

Deixei de olhar para aquilo mas o ciúmes já estava em mim. Fiquei despeitado e impaciente.

- Que comportamento é esse fi?

Perguntou meu pai assim que chegamos no nosso canto.

- Eu vou ganhar esse prêmio. Vou dá o melhor de mim. Eu preciso disso.

- Mas nunca será um deles... Um dos granfinos.

- Não quero ser ninguém. Não me interessa esse povo.

- Está morto de ciúmes e nem está trabalhando direito. - ele me repreendeu. - Acaso não confia no que cês tem?

Eu não respondi. Não podia dizer a meu pai o quê tínhamos atualmente.

- Não te criei para ser o homem que está sendo agora Rodolfo. Não meu fi, isso não é ensinamento meu e nem de sua mãe. - ele aumentou o tom da voz. - Acaso acha que não sei o quê está fazendo quando sai daqui na calada da noite? - ele jogou um copo na parede.

Meu pai era um homem de grande paciência, mas quando se irritava.

- Lhe digo que na condição de pai, se um dia eu pegar um barbado com uma de suas irmãs fazendo indecências sobre o meu teto eu capo o sujeito.

- Pai... Me entenda. O senhor sempre me compreendeu.

- Entendo, mas não aprovo. É errado e eu não gosto disso. Sabe o quê pode se passar e que vocês não se dão conta? Ela pode pegar barriga, aí o problema é muito maior. Mas não lhe dou mais conselhos, é um homem feito. Mas se realmente gosta dela, confie na mulher que cê tem.

- Vou pedir a mão dela em casamento, se não for aceito, vamos fugir.

Meu pai não disse mais nada e eu também não disse. Só comecei a me arrumar para ir ao parque onde iria acontecer a vaquejada.

...

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