Hermínia juntou as filhas e pediu para que elas passassem a noite ao seu lado.
- No quarto do pai? - disse admirada Júlia.
- Sim minha linda... Esse quarto agora será meu de novo. Por que ele já foi meu e do seu pai um dia.
- Mas isso não te causa tristeza mãe? A casa tem muitos quartos. A senhora pode dormir em outro. - argumentou Juliete.
Hermínia pôs a mão na barriga, respirou fundo e disse as filhas:
- Não posso apagar a minha história com seu pai e se eu tivesse o poder de apagar eu também não faria.
As irmãs se entre olharam, mas resolveram não opinar sobre aquilo. Hermínia tinha uma dificuldade de locomoção, sua perna esquerda tinha dificuldade em fazer os movimentos. Mas mesmo assim ela foi olhando parte por parte das coisas naquele quarto.
Começou pelo camiseiro. Verificou as camisas do marido e ao lado delas tinham seus vestidos, usados a muitos anos atrás, mas muito conservados, apesar do tempo.
- Ele não se desfez de nada... - se pôs a chorar e as filhas lhe ajudaram a deitar na cama.
Abraçadas a mãe choraram também e Júlia conseguiu sentir um chute do bebê.
- Mexeu aqui mãe...
- Sim meu amor. É uma criança que se mexe muito e esses mexidos são tudo que mais amo sentir.
Juliete fez massagem nas pernas da mãe e percebeu o motivo da locomoção limitada da mesma, seu joelho parecia rígido.
- Me falem um pouco de vocês duas. Juliete me diga como conheceu seu noivo e de quanto tempo já está de gravidez?
Juliete lhe contou tudo da forma mais resumida que pôde e ela ouviu tudo com atenção.
- E a senhora mãe, acha que o bebê nasce quando?
- Não tenho noção de tempo, mas acho que já tá próximo, muito próximo mesmo.
As irmãs fizeram carinho na barriga da mãe.
- E tu Júlia, me fale de ti. Nem ao menos pude lhe dá o mínimo, mas não te amo menos por isso.
Júlia não tinha muitas coisas a contar, assim pensou. Disse-lhe suas preferências de vários tipos de coisas e falou de tarefas escolares.
- E esse filho do Edival... Que tipo de relação tem com ele?
- Somos amigos. É só isso. Eu juro! - ela disse juntando as mãos e Hermínia desfez o gesto.
- Tudo bem. Eu não sou o pai de vocês, não quero ser carrasco de ninguém, mas não quero que me esconda nada Júlia, por favor. Enquanto a ti Juliete tem que casar, sabe que isso é o certo e temos que fazer isso o quanto antes.
- Sim. Esse sempre foi o nosso propósito.
- No mais venham cá me abraçar e eu quero dormir sentindo o cheiro das minhas filhas.
Hermínia ainda falou muito do passado e recordou momentos com o marido.
- Acreditem se quiserem, mas só beijei o pai de vocês depois das ordens do padre. Mas eu sei que isso não acontece mais hoje em dia e cada pessoa tem seu jeito de viver.
- Casou de livre vontade mãe ou ele te obrigou?
- Não casei por obrigação. Eu amava o pai de vocês ao ponto de sentir as pernas tremerem com sua aproximação. Era um nervosismo bom e emocionante. Ele era gentil e gostava de ler versos, cantar... dançamos muito antes do casamento em todos os lugares que íamos. Júlia herdou dele o gosto por leitura.
- Nunca vi o pai lendo mãe. - disse Júlia.
- Eu já vi. - disse Juliete. - Mas por espiei e não por que ele nos deixou ver. A única coisa que o pai fazia com a gente, que ele não abria mão, era de jantar conosco todas as noites. Isso só não acontecia se ele estivesse viajando, no mais era sagrado.
- Não quero que odeiem o pai de vocês.
- Todo mundo odeia o nosso pai mãe. - Júlia disse imediatamente. - Mas eu não consigo sentir ódio dele.
- Também não consigo. Tenho pena por que ele agora vai sofrer muito, mas eu sei que ele vai pagar por toda a dor que nos fez sentir. - Juliete disse enxugando as lágrimas.
- São pessoas boas, graças a Deus. Vamos rezar pelo seu pai. Que esse tempo que hoje ele vive sirva de elevação a seu espírito. Deus pode perdoar seus pecados, os homens talvez nunca possam, mas eu o perdôo mesmo que ele tenha me feito tanto mal, por que ele me deu muitas coisas boas e vocês são as melhores de todas as coisas.
Mãe e filhas dormiram juntas. Eram só amor que tinham no coração. Estavam dispostas a recomeçar e viver o novo tempo com união e harmonia.
...
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História de um vaqueiro
FanficEssa história tem inspiração na música "Saga de um vaqueiro", porém com alterações ao longo da narrativa.