Capítulo 34: O poder

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Todos que estavam em casa ficaram alarmados com a nova informação por que o delegado comunicou sobre a fuga.

- Ele fugiu. Mas acho pouco provável que ele venha aqui. Seu Egídio deve tomar outro rumo.

- Não acho. Em algum momento ele virá. - pensei na minha mãe e no bebê. - Ele escreveu para minha mãe e pediu para ver o bebê que ainda nem nasceu.

- Talvez ele escreveu isso quando não imaginava que ia fugir, cartas demoram a chegar. - ponderou o delegado. - Não precisam entrar em pânico.

- E se ele estiver armado delegado? - perguntou Rodolfo. - Temos duas grávidas em casa, é preciso pensar nisso. Precisamos que a polícia fique aqui.

- Isso não vai ser possível, mas os próprios funcionários podem fazer uma ronda. Cuidar da casa e das grávidas. Vir até aqui, será muita burrice para um homem só. Porém comunico desde já a família que se ele for cercado e resistir, tomaremos medidas sérias, não temos piedade de bandido e fujão pior ainda.

- Obrigada por avisar delegado. Ficaremos de alerta.

Entrei em casa e fui até o quarto da minha mãe. Ela estava deitada, mas logo abriu os olhos quando me viu.

- Oi filha.

- Tá tudo bem mãe?

- Tá sim. Eu tava cochilando um pouquinho. Estou muito cansada nesse fim de gravidez.

- Tudo bem. Eu te entendo. Realmente o cansaço, já está chegando para mim também. Fique bem mãe. Eu te amo. - disse depositando um beijo na sua face.

Minha mãe colocou a mão na minha barriga e sorriu.

- Amo a ti, a tua irmã, a esse bebê que carrego e ao teu que me chamará vovó. Eu amo muito a minha família.

Lhe beijei a mão e fechei a porta do quarto.

No meu coração eu sabia que o meu pai ia voltar, mais cedo ou mais tarde. E o motivo da volta dele era a minha mãe, mesmo que isso fosse tão difícil de entender.

- Pequena... - Rodolfo disse se aproximando. - Pedi que os funcionários dessem uma volta pelos arredores da casa. Quatro homens ficarão de sentinela hoje e até eu faço questão de ficar, João Pedro disse que também está disposto. Hoje você pode dormir com a Júlia.

- Não vou conseguir dormir. Estou aflita e eu acho que minha mãe está em trabalho de parto. Fiquem a postos, eu acho que teremos que sair com ela para a maternidade.

- Tudo bem. Fique calma. Sim?

- Sim.

...

Duas horas mais tarde. Quarto de Hermínia.

A mulher despertou com cólicas e sentiu a roupa molhada. Não era xixi que tinha feito.

- É chegada a tua hora meu amor... Vai ver a luz do mundo, te darei a luz.

Hermínia quis se levantar da cama, mas teve muita dificuldade e sentou-se de novo. Quando pensou em gritar por suas filhas levantou a vista e se assustou.

- Não grite! - Egídio disse com a voz firme.

Hermínia não se conteve e encheu os olhos de lágrimas.

- Eu estou sonhando? É isso?

- Não. Eu estou aqui nesse quarto mais uma vez. Isso é real. Eu fugi do presídio Hermínia.

- Veio me matar, não foi? Eu sabia que você viria...

Egídio se aproximou de Hermínia e se abaixou para ficar cara a cara com ela.

- Eu já tive vontade e muitas oportunidades de te matar Hermínia. - ele fez uma pausa e lhe tocou o rosto. - Nunca consegui e eu sei o por quê. Eu tenho por ti amor... Um amor doente e opressor, mas eu te amo. Não sei viver sem você.

Surpreendeu a mulher com um beijo e desgrudou seus lábios depois de satisfeito.

- O bebê vai nascer hoje. - Hermínia temeu uma investida do marido. - Não pode me tocar.

- Eu estou aqui desde a madrugada Hermínia. Eu vi tudo, ouvi tudo. Inclusive quando disse as meninas que estava com contrações. Vi você e Juliete juntas, confirmei que minha filha também está grávida. Eu vi a sua bolsa rompendo e te molhando toda. Estou nesse quarto antes de você chegar nele, velei seu sono Hermínia. - ele colocou a mão na barriga dela. - Eu quero ver essa criança nascer, é só isso que eu quero antes de cumprir meu destino.

- Então me ajude. Eu preciso ir ao banheiro. Se me levantar, eu consigo ir.

- Não diga a ninguém que estou aqui. Seremos só nós dois nesse momento.

- Não sei se consigo dá a luz desse jeito. Egídio, preciso de uma parteira.

- Não precisa. No parto de Juliete nós não tivemos tempo e ela nasceu aqui nesse quarto.

- Mas no de Júlia foi mais difícil. Eu a tive na cidade e eu não sou tão jovem quanto antes. Vivi por anos presa... Meu corpo não é mais o mesmo.

- É o mesmo. Nada mudou. Então vamos confiar. Deixe nossas filhas no mundo delas e vamos viver isso a sós.

Hermínia tinha muito medo pelas filhas. Ela pensou que Egídio poderia lhes fazer mal e avaliou que não era bom avisar nada as meninas.

Ele a ajudou e ela foi para o banheiro, encontrando no caminho com Rodolfo que tomava café.

- Acordado a essa hora? - ela perguntou.

- Sim. Hoje estou sem sono. A senhora está bem?

- Estou sim. E Juliete?

- No quarto com Júlia. Qualquer coisa a senhora pode gritar. Estou por aqui.

Hermínia viu também João Pedro chegar próximo a Rodolfo e falar sutilmente.

- Tudo tranquilo Rodolfo.

- Se quiser ir dormir, eu fico João.

- Não. Ele pode aparecer a qualquer hora.

Todos sabiam da fulga de Egídio então todos corriam o mesmo risco e só ela podia mantê-lo preso a um quarto.

...

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