Todos que estavam em casa ficaram alarmados com a nova informação por que o delegado comunicou sobre a fuga.
- Ele fugiu. Mas acho pouco provável que ele venha aqui. Seu Egídio deve tomar outro rumo.
- Não acho. Em algum momento ele virá. - pensei na minha mãe e no bebê. - Ele escreveu para minha mãe e pediu para ver o bebê que ainda nem nasceu.
- Talvez ele escreveu isso quando não imaginava que ia fugir, cartas demoram a chegar. - ponderou o delegado. - Não precisam entrar em pânico.
- E se ele estiver armado delegado? - perguntou Rodolfo. - Temos duas grávidas em casa, é preciso pensar nisso. Precisamos que a polícia fique aqui.
- Isso não vai ser possível, mas os próprios funcionários podem fazer uma ronda. Cuidar da casa e das grávidas. Vir até aqui, será muita burrice para um homem só. Porém comunico desde já a família que se ele for cercado e resistir, tomaremos medidas sérias, não temos piedade de bandido e fujão pior ainda.
- Obrigada por avisar delegado. Ficaremos de alerta.
Entrei em casa e fui até o quarto da minha mãe. Ela estava deitada, mas logo abriu os olhos quando me viu.
- Oi filha.
- Tá tudo bem mãe?
- Tá sim. Eu tava cochilando um pouquinho. Estou muito cansada nesse fim de gravidez.
- Tudo bem. Eu te entendo. Realmente o cansaço, já está chegando para mim também. Fique bem mãe. Eu te amo. - disse depositando um beijo na sua face.
Minha mãe colocou a mão na minha barriga e sorriu.
- Amo a ti, a tua irmã, a esse bebê que carrego e ao teu que me chamará vovó. Eu amo muito a minha família.
Lhe beijei a mão e fechei a porta do quarto.
No meu coração eu sabia que o meu pai ia voltar, mais cedo ou mais tarde. E o motivo da volta dele era a minha mãe, mesmo que isso fosse tão difícil de entender.
- Pequena... - Rodolfo disse se aproximando. - Pedi que os funcionários dessem uma volta pelos arredores da casa. Quatro homens ficarão de sentinela hoje e até eu faço questão de ficar, João Pedro disse que também está disposto. Hoje você pode dormir com a Júlia.
- Não vou conseguir dormir. Estou aflita e eu acho que minha mãe está em trabalho de parto. Fiquem a postos, eu acho que teremos que sair com ela para a maternidade.
- Tudo bem. Fique calma. Sim?
- Sim.
...
Duas horas mais tarde. Quarto de Hermínia.
A mulher despertou com cólicas e sentiu a roupa molhada. Não era xixi que tinha feito.
- É chegada a tua hora meu amor... Vai ver a luz do mundo, te darei a luz.
Hermínia quis se levantar da cama, mas teve muita dificuldade e sentou-se de novo. Quando pensou em gritar por suas filhas levantou a vista e se assustou.
- Não grite! - Egídio disse com a voz firme.
Hermínia não se conteve e encheu os olhos de lágrimas.
- Eu estou sonhando? É isso?
- Não. Eu estou aqui nesse quarto mais uma vez. Isso é real. Eu fugi do presídio Hermínia.
- Veio me matar, não foi? Eu sabia que você viria...
Egídio se aproximou de Hermínia e se abaixou para ficar cara a cara com ela.
- Eu já tive vontade e muitas oportunidades de te matar Hermínia. - ele fez uma pausa e lhe tocou o rosto. - Nunca consegui e eu sei o por quê. Eu tenho por ti amor... Um amor doente e opressor, mas eu te amo. Não sei viver sem você.
Surpreendeu a mulher com um beijo e desgrudou seus lábios depois de satisfeito.
- O bebê vai nascer hoje. - Hermínia temeu uma investida do marido. - Não pode me tocar.
- Eu estou aqui desde a madrugada Hermínia. Eu vi tudo, ouvi tudo. Inclusive quando disse as meninas que estava com contrações. Vi você e Juliete juntas, confirmei que minha filha também está grávida. Eu vi a sua bolsa rompendo e te molhando toda. Estou nesse quarto antes de você chegar nele, velei seu sono Hermínia. - ele colocou a mão na barriga dela. - Eu quero ver essa criança nascer, é só isso que eu quero antes de cumprir meu destino.
- Então me ajude. Eu preciso ir ao banheiro. Se me levantar, eu consigo ir.
- Não diga a ninguém que estou aqui. Seremos só nós dois nesse momento.
- Não sei se consigo dá a luz desse jeito. Egídio, preciso de uma parteira.
- Não precisa. No parto de Juliete nós não tivemos tempo e ela nasceu aqui nesse quarto.
- Mas no de Júlia foi mais difícil. Eu a tive na cidade e eu não sou tão jovem quanto antes. Vivi por anos presa... Meu corpo não é mais o mesmo.
- É o mesmo. Nada mudou. Então vamos confiar. Deixe nossas filhas no mundo delas e vamos viver isso a sós.
Hermínia tinha muito medo pelas filhas. Ela pensou que Egídio poderia lhes fazer mal e avaliou que não era bom avisar nada as meninas.
Ele a ajudou e ela foi para o banheiro, encontrando no caminho com Rodolfo que tomava café.
- Acordado a essa hora? - ela perguntou.
- Sim. Hoje estou sem sono. A senhora está bem?
- Estou sim. E Juliete?
- No quarto com Júlia. Qualquer coisa a senhora pode gritar. Estou por aqui.
Hermínia viu também João Pedro chegar próximo a Rodolfo e falar sutilmente.
- Tudo tranquilo Rodolfo.
- Se quiser ir dormir, eu fico João.
- Não. Ele pode aparecer a qualquer hora.
Todos sabiam da fulga de Egídio então todos corriam o mesmo risco e só ela podia mantê-lo preso a um quarto.
...
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História de um vaqueiro
Fiksi PenggemarEssa história tem inspiração na música "Saga de um vaqueiro", porém com alterações ao longo da narrativa.