Capítulo 27: Decisões precipitadas

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As filhas ficaram ao lado da mãe e Juliete tratou de lhe ajudar com tudo que ela precisava. Júlia ficava mais parada admirando a mãe que qualquer outra coisa, estava muito impressionada com tudo que envolvia sua figura materna.

- Estou tão feliz de estar com vocês. Isso é um sonho realizado. - disse ela a segurar a mão de cada uma.

Júlia aproveitou para tocar a barriga da sua mãe.

- Tem um bebê aqui? - ela perguntou e sorriu com os olhos admirados.

- Tem princesa. Esse bebê foi minha companhia nos últimos tempos. E acho que já estou perto de ter ele ou ela nos braços, estou muito pesada, sentindo dores.

- Juliete também tem um bebê na barriga. - Júlia disse sorrindo a irmã. - Nem acredito que terei dois bebês em casa. Que felicidade meu Deus.

Júlia dizia tudo com sua habitual inocência, mas a informação pegou Hermínia de surpresa.

- É sério filha? Seu pai nunca me disse que já era casada. - ela se dirigiu a Juliete.

- Ainda não sou casada, mas serei em breve mãe. Eu te juro.

Hermínia resolveu não se alongar no assunto por hora. Foi tomar um banho e Juliete que lhe ajudou com a tarefa já que Marina foi presa também.

Depois que estava limpa, Juliete andou até o quarto do pai e buscou roupas de sua mãe.

- será que ainda serve? Parece roupa de grávida.

Hermínia chorou ao ver aquele vestido. Ela tinha recordações de usar a peça durante a gravidez de Juliete.

- Me ajudem e vamos ver se vai servir.

O vestido serviu e as meninas lhe arrumaram o cabelo. Ela estava pronta para conversar com todos que lhe aguardavam.

Quando chegou a sala, lhe deram uma cadeira e ela sentou.

- O delegado precisa ouvir seu depoimento irmã. - disse seu irmão militar.

- Tudo bem. Estou pronta.

Hermínia disse tudo que era necessário sobre seu cativeiro.

- Seu marido lhe batia constantemente e lhe abusava também?

- Eu não queria falar disso na frente de todos.

- Basta dizer "sim" ou "não". - explicou o delegado.

- Ele não me visitava com frequência, haviam dias que eu não sabia quando serião que ele aparecia.

- Todas as vezes ele espancava a senhora?

- Não. As vezes ele não me dizia uma única palavra e nem me batia.

- Então abusava da senhora?

- Eu aprendi com o tempo que desafiar ele era pior, seria um sofrimento a mais. Meus únicos pedidos eram para ver as meninas.

- E ele nunca permitiu?

- Permitia com ele do lado e eu amordaçada. Ele tirava as correntes e me levava pela mão até dentro de casa. Eu vi as meninas adormecidas e era só.

- A senhora acha que seu marido cometeu mais crimes durante a vida.

- Tenho certeza. Ele matou um vaqueiro de nome Jeremias por ciúmes do homem. - ela respirou fundo. - Eu estava de resguardo de Júlia e como de costume estava no nosso quarto com a bebê nos braços, eu dava de mamar a ela e esse homem invadiu a minha privacidade. Disse coisas improváveis, fazia insinuações como um louco, eu tive muito medo e meu marido entrou ali para me defender como era de costume, mas meu fim foi por que o vaqueiro afirmou que a Júlia era filha dele. Nisso Egídio enlouqueceu.

- A senhora afirma que o vaqueiro mentia?

- Sim. Eu nunca tive nada com aquele homem. Aquilo era terrível e eu não merecia passar pelo que passei. Meu marido ficou transtornado. Naquele momento o Egídio que eu amava sumiu e deu face a outro homem. O homem que me amarrou numa cama e fez todos que podiam me ver acreditarem que eu estava muito mal de saúde.

- Seu marido não acreditou na senhora?

- Não. Ele sempre me disse que as mulheres eram levianas e que eu não fugia a regra. Egídio já tinha tido um caso com uma mulher casada durante muito tempo na juventude e isso fez a cabeça ser um poço de desconfiança. Ele me julgou adúltera sem eu merecer. Então ele se livrou de mim e matou o vaqueiro. Ele me confessou olhando nos olhos que tinha explodido a cabeça do infeliz.

- Vejo que a senhora se encontra grávida? Quantas vezes isso aconteceu nos últimos anos e quantos filhos seu marido assassinou?

- Tive dois abortos antes dessa barriga. - Hermínia disse isso de olhos fechados. - E ele não assassinou nenhum. O primeiro eu perdi por que me revoltei, fiz muita força tentando arrombar a porta e cai no chão, me machuquei e tive o aborto. O segundo,   foi devido a um susto que eu tive.

- Que tipo de susto?

- Me acordei com Egídio ao meu lado. Eu tinha tanto medo que dei um grito. Depois disso, tive muitas cólicas e perdi o bebê.

- Tem certeza que não foi por um surra que ele lhe deu?

- Tenho. Não foi por isso, mas ele me batia e não vou negar. Eu via fúria nos seus olhos quando ele me procurava e eu não podia lhe atender, nessas vezes apanhei de chicote. Ele também não suportava que eu pedisse para sair dali. Era muito agressivo e da última vez ele chegou a me bater nas pernas.

- Ele não tentou matar seu bebê?

- Ele disse que eu ia morrer com esse na barriga, mas acho que não era verdade. Egídio poderia ter me matado a muito tempo, eu já estava morta, mas ele não tinha coragem.

O irmão mais novo de Hermínia se intrometeu no meio da conversa e lhe disse:

- Irmã, assim que tirar essa coisa de você, será uma mulher livre e terá o direito de recomeçar. Esse monstro vai apodrecer na cadeia e você viverá sua vida como quiser. Estamos aqui totalmente para ti.

- Está chamando o meu bebê de coisa Herbert? Não admito que diga isso.

- Ora como não? Podes dá ele a um orfanato, sei lá... Existem muitas possibilidades.

- Não tem possibilidade. Se eu estou livre quero ser mãe dessa criança, não vou dá e nem entregar a ninguém. Fui privada de criar minhas meninas, mas isso não vai acontecer de novo.

- Acaso não ver que esse bebê é a lembrança do seu sofrimento... É filho de um monstro.

Juliete resolveu se retirar dali. Toda aquela conversa lhe causava ânsia de vômito e Júlia também se sentiu muito mal, acompanhando a irmã. Afinal, elas eram filhas do monstro.

- Não queiram me trazer mais uma dor. Não tirem esse bebê de mim. - pediu Hermínia.

...

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