Cap. 01 - Memórias, Lembranças, Passado

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Adivinha quem voltou? EXATAMENTE! Somos 3k de primos, primaiada! Sejam todos bem-vindes, bem-vindas e bem-vindos ao volume dois de Durante a Chuva, também conhecido como "Sob a Tempestade". E como cumprir a meta não me basta para agradecer, não só postei o prólogo, como o primeiro capítulo para vocês se deleitarem. E anotem aí no calendário: toda quinta-feira, sempre que possível, estarei bem linda postando os capítulos dessa história.

Um abraço, um beijo, um xêro e vamos de nova fase.

Um estranho fenômeno me aconteceu de umas semanas para cá. Certas memórias que foram roubadas de mim retornaram, primeiro como sonho, depois quando eu ouvia alguma coisa ou via alguém. Gatilhos para o passado. O bom passado. Eu me lembro de certos dias da minha vida, dias que eu julgo importantes porque significam muito para mim.

Como o dia em que passei em Medicina e entrei para o seleto hall de ômegas que se formaram nesse curso. Mesmo antes da Reforma Educacional do Novo Governo, era difícil para os ômegas serem admitidos em cursos superestimados. Não basta o vestibular, havia uma segunda fase com questões específicas das matérias mais importantes para o curso e um teste de admissão. Eu havia tentado duas vezes antes de ser inegavelmente aprovado.

Que dia, que dia!

Passei uma semana comemorando com os meus amigos da época, a maioria hoje ou está morta ou se tornou estranha para mim.

Eu bebi tanto quando saiu o resultado com Kurama que nós dois apostamos quem ia ter uma cirrose mais cedo - sorte que ninguém teve ou não estaria contando essa história.

Coisa de adolescente.

Também me lembro do dia que comprei o meu primeiro apartamento. Eu era tão jovem e cheio de ambições típicas. Orgulho era o sentimento que me consumia todos os dias. Felicidade e realização. Todos fomos morar lá. Era no Distrito 4. Um condomínio feito por 3 prédios com fachadas simples e amplas nas cores primárias. Todas as janelas voltadas para frente tinham vasos de plantas. Era apertado para tanta gente, mas a casa era minha e mandava eu nela, não pagávamos aluguel. Havia segurança e conforto.

Nós moramos lá até eu me formar e completar minha residência. Em cirurgia. Dei-o para Kurama, o primeiro de nós a casar, e comprei outro, no Distrito 3. Ir de Distrito em Distrito me dava a sensação de importância. Estava subindo na vida. Comprei outro para os meus pais viverem seguros com os meus avós e meus irmãos no Distrito 4. Saber que todos estavam bem porque, de alguma forma, eu garanti me dava poder.

Eu era um médico ômega que veio do Distrito 6 e chegara ao 3 com muita dedicação, estudo, noites de sono sacrificadas e dois empregos. Morar no 3 significou a vida que eu queria porque eu andava de cabeça erguida, nariz empinado, sorriso largo no rosto e absolutamente ninguém questionava a minha pessoa. Eu ajudei muitas pessoas como eu, ômegas e sem oportunidades, a chegarem perto de onde eu estava. Mas nunca no meu lugar. Era meu, eu o conquistei com extrema dificuldade e a custos altos, não o cederia para ninguém, e eram estes os mesmos argumentos de Mandachuva.

Me identifiquei com ele porque dizia ter sofrido muito para chegar à presidência. Começara pobre e sem recursos, um "Filho do Oito" dizia em algum momento dos discursos. Não conheceu os pais e vivera nas ruas por anos, roubando e apanhando, até que ouviu um pastor evangélico, dessas congregações mais progressistas e reformadoras, que discursam aos berros, quase cuspindo, como cães ferozes. Daqueles pastores que são capazes de te alucinar e moldam teu jeito de vestir, de pensar. Mandachuva ouviu o pastor dizer que Deus tinha um propósito para todos, que os grandes líderes da Bíblia vieram da lama, mas Deus trilhou seu caminho para a glória e o reino. Eu lembro bem disso porque fiquei obcecado com os discursos dele. 

Sob a TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora