Shikamaru me disse para ficar quieto durante a cerimônia, mas eu não segui seu conselho e agora eu serei condenado pela criatura - burrice é foda, bicho.
Abri os meus olhos e ergui meu rosto para encarar a Hidra. Tenho medo, mas não abaixarei a cabeça por uma condenação injusta. Obviamente coisa pior eu jamais enfrentei, mas não sinto que um monstro seja pior que a maldade humana que me persegue. Esperei. A pata desceu cortando o ar, um silvo, mas não foi para me golpear. Apenas repousou na areia a metros de mim. A cabeça mais central curvou para me fitar de perto mais uma vez.
Seu olho é feito de dezenas de pupilas e todas se unem de uma vez só para focar em mim e eu me vejo refletido naqueles orbes.
Me vejo dez vezes, vinte vezes, não consigo contar.
-Culpado. - ela repetiu. - Seu destino não é a morte. - dez cabeças passaram por cima de mim e capturaram aqueles homens com as bocas, de maneira tão repentina que causaram berros engasgados e nervosos neles, tentativas de fuga e quebra de ossos. As vozes repetiam “culpado”. Entendi que não se referem a mim, mas falam de cada homem acorrentado.
Os sacrifícios foram levados, então a criatura se arrastou para dentro da água, de ré, enquanto os berros desesperados dos homens somavam-se às dezenas de vozes na minha cabeça. As águas engoliram tanto os homens quanto as cabeças e levou quase cinco minutos para o mar se acalmar. Eu não sentia meus braços e nem minhas pernas porque ainda estava tomado pela situação: eu conheci algum tipo de deidade, de entidade de carne e osso, colossal, monstruosa e poderosa. Não é um dos monstros submarinos que vagam sob os rios e os oceanos deste planeta, mas uma criatura racional, apta a tomar decisões, alguém que a realeza teme e se submete porque é superior.
Algo que deveria ser apenas um mito, uma lenda, algo que os gregos diziam estar morto pelas mãos de Héracles, só que eu vi com meus próprios olhos e senti em cada célula do meu corpo algo que não é para os mortais.
Não é para os humanos.
Caí de joelhos e com as mãos na areia molhada.
Não sinto meu próprio corpo e nem a minha alma. É o que verei quando me casar? Os deuses são reais e aguardam nas profundezas.
Era difícil respirar com o véu sobre mim, com aquelas memórias terríveis girando dentro da minha cabeça, com a verdade venenosa escorrendo por baixo da minha pele, está comprimindo o meu coração.
Sinto que vou desmaiar a qualquer momento.
As vozes não silenciam, os gritos não param, eu não sei se meu coração bate.
Eu preciso de algo ou alguém que apague essas memórias de mim. Sinto uma mão em minhas costas, depois ela me levanta e eu vejo o rosto idoso de Vovô Madara. Ele me leva de volta para as cadeiras e me deixa lá, tremendo e tentando respirar, os dedos estão formigando. Fiquei na cadeira do meio. Tio Obito tirou o véu de mim e arrumou sua cadeira de modo que pudesse ficar mais perto.
Ficamos em silêncio não sei por quanto tempo, mas foi o bastante para a minha mente se acalmar, então eu os olhei e os dois pareciam ter a mesma postura relaxada, observando o mar, sentindo o vento, ouvindo as aves. Não sei quando isso aconteceu, mas eu estou de mãos dadas com vovô e nós estamos sozinhos aqui ainda, isolados na praia. Respirei fundo e soltei o ar bem devagar, foi o sinal para que os dois me olhassem: Tio Obito, não sei como e nem de onde veio, está com um copo de bebida que me parece ser uísque e Vovô Madara estava lendo alguma coisa, um caderno pequeno.
-Desculpe, eu… - tentei me justificar, mas o barulho do caderno sendo fechado me silenciou. Não sei por que quero me desculpar, nem por que eu preciso fazer isso, mas é algo que sinto que devo fazer para acalmar meus próprios pensamentos. Vovô olhou para frente.
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Sob a Tempestade
FanfictionContinuação da fanfiction Durante a Chuva Naruto é um ex-médico, cuja natureza ômega condenou a si e à sua família há 15 anos de sofrimento sob um regime tirânico que domina a Púnia. O Mandachuva deseja se manter no poder, mas sabe que precisa da ri...