Cap. 02 - Uma Inesperada Visita

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Sasuke carregava Bia adormecida no colo, coberta por sua mantinha, enquanto avançávamos pela praia. Ele me levava para aquelas pedras cerimoniais onde costumamos ir para coletar conchas. Lembram daquele local sagrado com pedras altas que parece o Stonehenge? Chegamos lá. Faz tempo que estive aqui, mas não mudou nada, é como se estivesse congelado no tempo.

Se bem que, para a Terra, uns poucos meses não são nem mesmo um respiro.

Meu noivo indicou um ponto perto de onde as ondas quebram. Noivo... ainda não me acostumei a chamar Sasuke, que recém se tornou meu melhor amigo, de noivo. É estranho, mas... reconfortante. Fui até o local indicado e notei pedras ovaladas com certo tamanho e manchadas em padrões que não se repetem na água e elas não estavam lá antes. Ao menos da última vez em que estive aqui. 

Saem bolhinhas das pedras, um fenômeno muito curioso considerando que são pedras, então me abaixei para olhar melhor.

Quando fiz isso, as rochas se mexeram e a que estava mais perto da praia se deslocou até chegar em mim. Chocado. Não são pedras. São tartarugas. Aquela parou na minha frente e ficou emitindo um barulho repetido, como um chamado. Fitei Sasuke. Já está ao meu lado, de pé. Bia ainda dorme. Observei aquela tartaruga muito diferente - as patas de trás são nadadeiras e as da frente lembram patas de elefantes.

Tem um pescoço longo e proeminências abaixo do queixo que lembra uma barba de tentáculos, mas são pequenas demais para ser isso.

Os olhos são familiares.

Ela chega mais perto de mim e deita, deixando a cabeça ao alcance da minha mão.

Espera...

-Sexta-feira?

A tartaruga parece sorrir.

-Meu Deus, Sexta! Você está enorme! - tem pelo menos as proporções de um gato adulto. Incrível! Uma coisinha que caia na minha mão está enorme e em pouquíssimo tempo. - É a sua família? - as tartarugas continuavam na água com suas cabeças erguidas. Elas têm longos pescoços.

Sexta olhou para lá e depois para mim.

Sereno, piscava devagar.

-Diz que sente sua falta. - Sasuke comentou. Eu o encarei, incrédulo.

-Sexta está falando?

-Do jeito que sabe falar.

-Ele é incrível.

-Ou ela. - acrescentou. - Essa espécie não tem gênero definido. - deu de ombros. - É uma das poucas que nos seguiu para este mundo sem nossa permissão. - ora, ora, tartarugas rebeldes. - Minha mãe costumava dizer que não há fronteiras para Tla'daokcxa.

-O que significa essa palavra?

-Tartarugas de Pedra.

-Por que elas seguiram vocês para cá? Não era perigoso? Um tubarão pode atacá-las.

-Elas vão para onde sentem que devem ir. Seguem seu destino. Não cabe a nós questionar os porquês, mas aceitar suas bênçãos. - eu gosto quando Sasuke fala assim das espécies. É bem claro o amor que sente pelos animais marinhos.

Sem pensar, sentei na areia molhada. A tartaruga, e eu a chamo assim porque este animal é muito parecido com os nossos quilópodes, mas ao mesmo tempo é diferente, veio para o meu colo. Saindo da água, tenho uma melhor noção do quão grande ela é.

Cobre as minhas pernas. 

Suas patas nadadeiras são longas e musculosas, ainda tem uma cauda. As patas dianteiras são fortes, com garras, mas não me machucam porque Sexta as retrai. Sexta tem dentes finos, mas afiados, centenas deles, como as cerdas das baleias, e parte da sua carapaça é maleável porque cobre uma parte do pescoço e da cauda. Passei a mão pelo seu casco tirando a lama, e Deus, reluzir como metal e vidro.

Sob a TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora