Bella

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Alane Dias

Uma vez me perguntaram o que me levara a ser quem sou, não tive resposta para tal indagação, considerando o fato de que sou quem sempre fui. Não recordo de em algum momento ter sido diferente.

Minha personalidade sempre fora a mesma, meus desejos, objetivos e prazeres não desviaram de seu curso, realmente, não mudaram de rota. Nunca me senti vazia, com necessidade de ser preenchida por algo ou alguém. Também nunca entendi a necessidade de me rotularem como fora do comum, o que me impede de estar nos padrões? A única diferença entre mim e os outros, é que não escondo quem sou, não faço rodeios e detesto entrelinhas. Se quero, eu tenho. Não me considero arrogante, apenas decidida o suficiente para ter certeza da minha capacidade de atrair o que desejo.

Anny sempre diz que há uma garotinha presa dentro de mim, tal fato me arranca risos, não vejo necessidade de personificar que há uma pessoa diferente perdida em meu interior. Tenho momentos, assim como todos, às vezes estou mais dócil, até mesmo frágil, mas isso não necessariamente precisa ser visto ou sentido por pessoas que estejam ao meu redor. Sou dona de mim e dos meus fantasmas, cuido eu.

Bella surgiu na minha vida naturalmente, me apaixonara pelo nome quando criança, na adolescência eu costumava separá-la de mim, Alane era a garota exemplar que meus pais desejavam e Bella, o meu verdadeiro eu, que extravasava longe deles.

Hoje não há mais uma ponte entre uma e outra, sou ambas, ou melhor, a mesma. Bella passou a ser apenas um nome com o qual me apresento, não há um motivo específico para não revelar minha verdadeira identidade, apenas me sinto bem assim, faz parte do show e usar um codinome me excita demasiadamente.

– Bom dia, Lane. – Disse Anny ao se aproximar, colocando sobre o balcão os remédios que eu havia pedido para ela comprar, não conseguira dormir na noite passada e precisava estar bem, o dia seria cheio. Virei o corpo sobre o banco giratório e fiquei de frente para ela, Anny era uma jovem bonita, sua pele alva, seus cabelos escuros e os olhos puxados e grandes lhe davam um ar de inocência, talvez de fato, ela fosse, o que era um contraste considerando que ela trabalhava para mim.

– Obrigada, Anny. – Sorri para ela e levei a xícara que segurava até meus lábios, sorvendo o líquido quente. – Me diga o que temos para hoje. – Suspirei profundamente e a ouvi com atenção, desmarcando alguns compromissos e adiantando outros mais importantes.

– E sobre o que me pediu, bem... Não havia muito para descobrir, mas aqui estão todas as informações que consegui reunir. – Ela me estendeu uma pasta preta, fazia exatamente uma semana que pedira para que descobrisse um pouco sobre a desconhecida que estivera no bar de Rodrigo naquela noite.

Coloquei a xícara sobre o balcão e abri a pasta, procurando por seu nome, sorri torto ao encontrá-lo. Yasmin Brunet. Forte e extremamente sexy. Levantei, deixando Anny seu café e fui para meu escritório. Sempre gostei da ideia de ter um canto para resolver coisas, receber pessoas e tratar de negócios, minha profissão não impede que eu seja executiva de meus próprios interesses. Sentei-me e procurei por meu óculos sobre a bagunça que estava minha mesa, o coloquei e voltei minha atenção para os papéis que tinha em mãos.

Realmente não havia muito a descobrir, uma mulher extremamente rica, renomada, casada com o CEO mais importante de São Paulo, formada em designer de interiores, dona de uma empresa que por coincidência, eu já conhecia, não tinha filhos, a vida bem privada e em todas suas aparições, segundo as fotos, passava-me a impressão de ser a típica mulher perfeita do empresário ideal. Eu ainda não tinha certeza do que estava fazendo, se era uma simples curiosidade ou se levaria adiante de alguma forma. Gostaria de vê-la outra vez. Na verdade, há muito tempo eu não farejava algo desafiador e aqueles olhos me instigavam. Estava pronta para caçar.

Shades of Cool (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora