Young and Beautiful

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Alane Dias

"– Faz amor comigo, Alane?"

Todo e qualquer conhecimento que eu tinha sobre o mundo e o que pairava ao redor, se desfez no momento em que aquelas palavras foram proferidas. Um pedido que me roubou o ar e qualquer pensamento concreto que abrigava minha mente. O coração retumbante denunciava meu nervosismo, senti meu corpo tremer sob o dela. Perdi-me na mansidão daqueles olhos, admirei o corpo esculpido e a senti tão quente, imersa numa vontade mútua, reduzindo-me à pedaços. Desmanchar-se nem sempre significa algo ruim. Pude ver o controle escapar de minhas mãos e alçar voo para longe, algo em meu interior disse que ele não voltaria.

Os olhos marejaram e a voz perdeu-se, nenhuma atitude fora tomada. Eu desejava avançar, sempre tivera o próximo passo calculado, mas naquele instante, desaprendi. Desaprendi a respirar, pensar, agir, tocar. O que eu deveria fazer? O que aquele pedido implicava? Por qual motivo meu estômago se embrulhou abruptamente e tudo passou a inexistir? Minha garganta secou, divaguei em minha mente, mergulhando em minhas próprias sensações. Viajei por cada parte do meu subconsciente, tentando encontrar a porta que me levaria de volta à realidade. Fazer amor. Amor.  Tudo ficou tão claro como uma folha de papel aguardando uma nova história ser escrita.

Um filme me invadiu como flashes, cenas em que nós duas éramos protagonistas. Então o amor era assim? Agia dessa forma? Era possível amar em tamanha intensidade? Um sentimento capaz de me fazer esquecer toda sabedoria e esperteza que possuía sobre tudo. Ali, sobre aquela cama, eu não era ninguém. Ninguém além da mulher que estava aprendendo o que era amar. Eu não sabia fazer amor... A insegurança domou-me, me fazendo refém dos olhos tempestuosos que agora emanavam um brilho tão incomum.

Suas expressões cansadas e sofridas denunciavam a fragilidade, as marcas profundas abaixo de seus olhos; olheiras que lhe pintavam a pele, deixando-a tão humana, tão palpável. Yasmin era forte, extremamente forte e eu a amava. Amava... eu a amava! Explodi dentro de mim e transbordei pelos olhos. Seus dedos tocaram-me a face, enxugando minhas lágrimas que talvez ela não compreendesse.

Tentei buscar em meu interior todo ego, segurança e altivez que cultivei a vida inteira, o que encontrei fora uma menina com o coração nas mãos, dizendo-me que fases se iniciam e chegam ao fim. Bella estaria para sempre vivendo em mim, como uma memória divertida de alguém que conheceu o mundo, que foi jovem por inteiro e voou para todos os horizontes. Não desejava mais voar, havia encontrado abrigo, braços para chamar de casa.

Senti minha visão nublar e tudo pareceu distante, fora do meu alcance. Sussurros que não fui capaz de ouvir e toques que me lançavam para outra órbita. Lábios, mãos, pernas, coxas, tecidos. Suspiros, corações acelerados e respirações descompassadas. Beijos sôfregos, lágrimas salgadas. Não sei em que momento fui beijada, apenas sentia e completava os gestos, perdendo-me no sabor de sua alma. Minhas mãos apalpavam o roupão felpudo, mantendo-a contra meu corpo. Não desejava me separar, não desejava deixá-la nunca mais.

Young and Beautiful – Lana Del Rey. ♫

A dúvida sobre o que ela sentia cintilava em minha mente, mas dada às sensações compartilhadas, devia haver reciprocidade... E se ela não me amasse na ausência de Bella? E se fosse minha liberdade a dona de seu fascínio? Quando isso findasse, quando ela soubesse dos sentimentos que assolavam minha porta, ela ficaria? Ela ficaria e me amaria quando eu não fosse mais jovem e cheia de seguranças? Ela seria capaz de me ver num estado que nem mesmo eu reconheço? Quis me desesperar, mas o martelar agudo de seu coração me levou novamente à bolha do turbilhão que nos cercava. Não mais pensei. Coloquei minhas dúvidas de lado para amá-la, fosse por uma noite ou a vida inteira. Yasmin Brunet valia todos os riscos.

Shades of Cool (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora