Shades of Cool (Adaptação)

The other woman

Yasmin Brunet

Senti os primeiros raios de sol invadirem as frestas das cortinas e me tocarem a pele, fazendo com que a claridade amena me despertasse. Com dificuldade abri os olhos, remexendo-me vagarosamente, me livrando do enlace de Evandro. Evandro! Imediatamente lembrei-me de Bella.

Flashes da noite passada me invadiram a mente, fazendo um ardor tomar conta de meu baixo ventre, como uma ansiedade crescente... Eu estava excitada, porra! Toda minha vida pautada em orgasmos que nunca tive e que não esperava mais ter, e então numa única noite havia me transbordado de maneiras deliciosas, intensas. Mal conseguia pensar nos toques de meu marido, não podia enganar a mim mesma, gozara incontrolavelmente graças ao demônio moreno que repousava ao nosso lado.

Ela deveria ter ido embora e me poupado de tal situação. Suspirei profundamente e me atrevi a olhá-la, sua pele bronzeada reluzia no lençol negro que a cobria parcialmente, os fios escuros repousavam sobre as costas nuas, alguns deles lhe cobriam a face. Ressonava serena, emanando uma paz que não existia quando a mesma estava acordada. Tivera poucos momentos ao seu lado, mas fora o suficiente para saber que estar na sua presença era perigoso, tentador, entorpecente. Não fosse por suas façanhas, seu jeito persuasivo e a perversão de seus atos, facilmente a compararia à um anjo. Desejei tocá-la e me repreendi mentalmente, rolando os olhos com tal vontade.

Cuidadosamente levantei-me, não queria acordá-los, já que não havia outra possibilidade, ao menos lidaria com aquela situação da minha maneira, poupando o despertar ao lado dela. Adentrei o closet e busquei por peças que me agradassem, optando por um vestido tubinho azul, saltos pretos e lingerie da mesma cor. Sorrateiramente saí do cômodo e caminhei até o banheiro do quarto de hóspedes.

Enquanto tomava meu banho, refletia sobre todos os acontecimentos. Ainda não conseguia acreditar que a garota de programa de quem Evandro falara, era ela, a morena do bar. Atormentara meus pensamentos desde a noite em que a vira, me fizera gozar apenas pensando na intensidade de seu olhar e em seu corpo majestoso. Não havia possibilidade alguma de descrever a surpresa e o anseio que me acometeram quando abri a porta e encontrei seus olhos castanhos.

O único motivo pelo qual aceitara a proposta de Evandro, era a vontade absurda que vinha sentindo nos últimos dias, o tesão crescente e a falta de desejo por ele, que já não era uma novidade. Eu queria estar com uma mulher, mas jamais trairia a honra do meu casamento e com o pedido de meu marido, a oportunidade vestiu como uma luva para meus anseios.

Eu estava deitada de costas para Evandro, extremamente frustrada, não aguentava mais aquela situação e estava cansada de fingir o tempo todo, de aceitar e sorrir como se fosse bom, prazeroso. Queria mais, muito mais. Contraditório para quem se conformou sempre e nunca quis se aventurar pelo desconhecido, mas algo havia mudado, meus desejos estavam aguçados e... Exigentes? Não sei ao certo, a verdade era que não conseguia esquecer os sentimentos que me tomaram na maldita noite em que cruzei com a morena desconhecida.

De fato, eu estava enlouquecendo por uma mulher, uma mulher totalmente aleatória, que nunca vira antes. Aleatória não, não há possibilidade de denominar com aleatoriedade. Talvez, algo que eu não pudesse compreender, apenas sentir.

Durante todos os anos em que estive ao lado de meu marido, fui a mulher exemplar, que se dedica, satisfaz, mas que também tem sua independência fora do casamento e ainda assim, não falha com o parceiro.

Estar sempre impecável, digna de ser admirada, não somente como um objeto, mas também como alguém que gosta de externar a sensualidade e exalar todo poder. Poder... Exerci tanto poder em minha vida profissional, que esqueci-me de controlar minha vida pessoal, eu não tinha poder algum sobre mim, sobre minhas vontades. Vontades estas que eram inexistentes há alguns dias. Como uma desconhecida me fizera parar para analisar tão profundamente o meu estado? De repente tudo pareceu tão vago, tão fraco de emoções.