Lust for life

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Yasmin Brunet

O cheiro de café nubla meus pensamentos, o quentinho da caneca em minhas mãos me leva à concluir que, meu estado de espírito se assemelha ao calor que domina meu tato. Está frio lá fora. a umidade do dia se acomulava na janela, mas neste quarto de hotel, ainda é verão. O sol adormece em minha cama, seus raios lhe cobrem parcialmente as costas; estas que podem ser comparadas à noite, também, devido a constelação de pequenas pintas simetricamente distribuídas por sua pele morena.

É inverno, mas em meu peito habitam todas as estações. O outono, marcado pela saudade incessante, o cair das folhas velhas para abrigar as novas, tão ansiosas para nascer. A primavera, colorida por seus sorrisos e beijos que florescem minha alma e pintam uma esperança desconhecida. O verão, quente, tão quente quanto sua alma e o calor que emana de seu corpo; abrasador e voraz, como no dia em que a conheci.

As lembranças de algumas horas ainda bailam em meu consciente, fazendo-me sorrir como uma boba, agradecida por tê-la encontrado, e principalmente, por ter cativado seu amor. Sobre o pequeno balcão, o seu presente. A chave. Meus olhos marejam ao recordar suas palavras, fora um gesto tão inesperado... Talvez ela não soubesse a grandeza que o mesmo possuía. Alane me ofertou uma nova vida, convidou-me à morar não somente com ela, mas nela. Seu pedido soou como um convite à muito mais, um espaço que ela cedeu e dedicou à mim. Seríamos família. Theo havia me surpreendido também.

Há um tempo eu era apenas Yasmin Soldati; robótica, caótica, acomodada e infeliz. Hoje sou Yasmin, não somente Yasmin, mas A Yasmin. Quem quero ser, ao lado das pessoas que desejo estar. Alguém que pertence por inteiro, mas também se basta unicamente. O Brunet nunca fez tanto sentido como meu sobrenome. Sou uma Brunet e amo minha família, imensuravelmente. Me questiono sobre ter vivido de maneira impessoal com meus pais por tanto tempo. A chegada de Alane foi um divisor de águas, com ela, não somente o fato de me apaixonar e desprender-me de uma vida que não me cabia, mas o abrir dos meus olhos ao que realmente importa.

Ela desperta e sorri para mim, estende os braços e eu cedo, me rendendo ao conforto de seu corpo morno, me aconchego nas batidas tranquilas de seu coração e permito-me descansar. A semana será um tanto quanto caótica, mas passará depressa para que finalmente possa dedicar-me à Alane outra vez.

[...]

Yasmin Brunet

Os dias são atropelados por reuniões e papéis, tento conciliar a rotina desgastante com visitas à casa dos meus pais para ver Theo, encontrando brevemente com Alane nesses intervalos. No ano novo, a empresa entrará em recesso e voltará somente no próximo mês, o que me conforta. Finalmente terei tempo para ajeitar minha nova vida ao lado dos meus amores.

É véspera de ano novo e o clima continua frio. Sinto o vento bater contra meu rosto e bagunçar levemente meus cabelos; estes parcialmente protegidos por um cachecol que adorna meu pescoço sob o casaco. Toco a campainha e aguardo Helena me receber. Seu abraço caloroso é um contraste ao inverno de São Paulo. Ao entrar, vejo Theo com seus brinquedos ao lado da lareira. Luiza e Armando bebericam um chá enquanto observam o neto criar histórias com seus bonecos.

— Yasmin, minha filha. — Armando sorri para mim e eu me aproximo para lhe dar um beijo, repetindo o gesto em Luiza antes de me sentar na poltrona ao lado do garoto.

— Ei, criança.

— Oi Yá! Olha. — Me mostra a Barbie nova que ganhara de Helena, esta que possui um vestido de noiva aveludado e chamativo. Ao que parece, ele a está casando com um de seus soldados.

— Eles se conheceram no cinema. — Me conta, empolgado com o que faz.

— Eles são lindos juntos, querido. — Toco seu queixo e o aperto delicadamente, inclinando-me para beijar a ponta de seu nariz.

Shades of Cool (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora