O único som que se podia ouvir era o ressonar baixo e as respirações tranquilas, um contraste comparado aos uivos da noite passada. Madeixas escuras e douradas se misturavam, corpos entrelaçados como um só e corações preenchidos pela paz de algo desconhecido, mas tão imutável. Uma vivera de paixões, casos e acasos, pessoas evasivas as quais tivera apenas em alguns momentos. A outra, uma vida de costumes, conformações, onde era confortável estar. Almas tão distintas, pólos opostos que se atraem e tornam-se singular.
A claridade da tarde que raiava do lado de fora, não atravessava as grossas cortinas escuras, deixando-as no breu ameno que tomava o cômodo, impossibilitando-as de ter noção de quantas horas haviam se passado. Alane foi a primeira a dar indícios do despertar, seu corpo esguio se alongou, desatando cuidadosamente as pernas das de Yasmin, causando-lhe um sorriso inconsciente nos lábios, fazendo-na apertar os braços ao redor daquela que, mesmo submetendo-se, a domara. Respirou profundamente, captando o cheiro que emanava do corpo adormecido ao seu lado, deliciando-se com a sensação de pertencimento. Abriu os olhos temendo estar presa em alguma espécie de sonho, mas alargou o sorriso ao ver o quão real aquele momento era.
Jamais imaginara que viveria algo parecido, era surreal a forma com que toda a vida que antecedeu a chegada de Yasmin, parecia ter se nublado diante de seus olhos e em suas memórias também. Sentia-se diferente, não como se não fosse mais a mesma, mas como se o rumo de sua jornada livre houvesse mudado e não soava de maneira negativa. Sentia correr por seu corpo um sentimento tão arrebatador, como uma dor iminente, mas uma dor prazerosa, como um veneno do qual se almeja tomar mais um gole. Talvez a definição de veneno não coubesse, não poderia denominar algo tão pleno assim. Amor? Amor. Mas afinal, o que seria tal sentimento? Sentiu os olhos marejarem ao pensar em tudo que seria capaz de fazer para vivenciar aquele momento diversas vezes ao longo de sua vida. Nunca se recusou a lutar por algo de seu almejo por mais tolo que fosse, não seria de algo tão grandioso que desistiria. Correu o olhar pela extensão do corpo delgado ao seu lado, atentando-se às marcas que causara em sua pele; algumas mansas, outras abruptas e gritantes. Pensou imediatamente em como Yasmin estaria dolorida ao despertar. Demorou algum tempo para conseguir abandonar a cama e então seguir até o banheiro e preparar um banho que fizesse a loira relaxar da possível dor muscular. Deixou a água morna o suficiente para ser aconchegante e não incômoda, dispensou os sais e derramou apenas um pouco de espuma, formando uma fina camada na superfície. Vestiu um roupão felpudo que encontrara num dos armários e voltou para o quarto à procura do telefone para pedir o café-da-manhã. Marcou no relógio o tempo que lhe pediram e pontualmente, quinze minutos depois, a campainha tocara. Agradeceu ao rapaz e empurrou o carrinho para dentro do local, impedindo que o mesmo entrasse; o cômodo único lhe daria a visão de Yasmin, mesmo que ao longe. Transferiu o que havia nas bandejas para a mesa: sucos, café, leite, pães, torradas, geleias, frutas e iogurte. Checou se estava tudo certo e caminhou até Yasmin novamente.
Seus pensamento estavam silenciosos, como se analisasse minuciosamente todos os acontecimentos. Havia também o medo da reação de Yasmin, o que compartilharam era diferente do que tinham vivido até então e temia sua reação. Suspirou como se procurasse por coragem, desde quando não a tinha? Balançou a cabeça e encolheu os ombros, sentando-se ao lado da designer. Traçou as linhas de seu rosto com as pontas dos dedos e se inclinou para selar seus lábios diversas vezes, até que a mesma começasse a despertar. Afastou-se e aguardou que abrisse as cortinas que revelariam as orbes castanhas. Não tardou para que Yasmin a fitasse. O silêncio não fora quebrado, o peito de Alane subia e descia ansiando por alguma reação, acalmou-se apenas quando a viu sorrir; um sorriso que fora espelhado, derretendo a prostituta. A loira voltou a fechar os olhos e virou a face para o lado, revelando algumas marcas causadas pelo lençol, um gesto adorável que não passou despercebido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Shades of Cool (Adaptação)
FanficYasmin Brunet, dona de si, autoritária e realizada profissionalmente. Vive para o trabalho e para seu marido, com quem tem uma vida tranquila e luxuosa. Preza pelas aparências e a boa fama de mulher exemplar que carrega, amante de tudo que não foge...