IX

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Ouvimos batidas na porta e John levanta-se para atendê-la. Olho pela fresta da porta uma moça linda de cabelos castanhos curtos na altura dos ombros e olhos verdes esperava do lado de fora com duas malas enormes ao seu lado. Deve ser Mary a amiga para qual John telefonou logo cedo.

- Demorei? – Pergunta ela cheia de charme.

- Entre. –John a convida abrindo a porta para lhe dar passagem.

- Você pode me ajudar com isso? – Mary pede indicando as malas para John.

- Como assim você veio de mudança? – Ele faz graça enquanto carrega as malas. – Seu namorado te deixou?

- Não, engraçadinho. – Mary revira os olhos. – Esse é um caso de emergência, uma mulher não pode simplesmente, não ter nada. – Ela vira-se para mim e sorri largamente. – A propósito você deve ser a amiga de John.

- Sim. – Respondo levantando-me estendendo a mão para cumprimentá-la. – Prazer, sou Anis.

Mary ignora minha mão estendida e vem ao meu encontro me dando um abraço de urso.

- Olha pra você! Que linda! Não é a toa que John anda com a cabeça na lua, nervoso cortando dedos por aí, eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Prazer querida sou Mary. – Ela vira-se para John com olhar de malícia. – E você safadinho, quando ia me contar da existência dessa sua "amiga". – Mary fala fazendo o gesto de aspas com as mãos.

- Amiga sim, Mary. – John responde largando as malas impaciente. – Pare de fantasiar coisas, vejo que vocês já se apresentaram. Anis, Mary trabalha comigo na cozinha do restaurante.

- Então Anis. – Mary me puxa pela mão até as malas ignorando John. – Você vai me contar tudo, como vocês se conheceram enquanto eu te mostro o que eu trouxe pra você. Você tem um quarto aqui?

- Sim, estou provisoriamente no quarto de hóspedes.

Levamos as malas para o quarto e Mary as coloca sobre a cama. Quando as abre começa a me mostrar as coisas que trouxe.

- Assim que John me ligou e disse que você não tinha nada, imediatamente abri meu armário à procura de roupas que não uso mais e calçados. Muitas coisas aqui são novas que nunca cheguei a usar, eu compro muito por impulso e depois acabo não gostando mais das coisas que compro. E também minha irmã me ajudou e mandou algumas coisas pra você. Olha essa blusa? Acha que te serve?

- Acho que sim.

- Então prova. Vai ficar linda em você.

Começo a provar as peças que Mary me trouxe me apaixonando por cada uma delas. Pelo reflexo de um espelho quebrado atrás da porta vejo algo que muito tempo não via em mim: feminilidade e beleza. Mary me entregou um vestido insistindo para eu vestir. O corte era lindo estilo princesa, quando virei para me olhar no espelho enxerguei o vestido preto rodado moldando suavemente minha cintura e meu busto num decote coração, nas costas um recorte em U mostrava a linha da minha coluna de uma forma não vulgar, mas delicada. Enxerguei também uma antiga Anis que há alguns anos não via, uma Anis que foi substituída pelo espírito auto-depreciativo e que achava não ser mais nada além de um lixo bêbado ambulante. Me vendo assim, chego a pensar em como pude me vestir com trapos imundos e rasgados.

- Gata, você arrasou nesse vestido! – Mary comenta me observando. –Você só precisa de uns retoques e ficará perfeita.

Ela me senta sobre a cama e pega de dentro da mala um estojo.

- Como soube que você não tem nada me encarreguei de comprar umas coisinhas que você sabe, mulheres precisam uma vez por mês, alem de desodorante, um creminho que nenhuma pele é de ferro, meias calças, escova de cabelo, xampu, condicionador e um monte de coisas.

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