- Anis não irá se materializar na porta do restaurante só por que você não para de olhar pra lá John! - Mary chama a atenção do chefe que mal se concentrava em seu trabalho preocupado com a amiga.
- Eu sei Mary. - John solta um suspiro. - Eu vou parar prometo.
- Ela não vai fazer nenhuma besteira fique tranquilo. - Mary pega um copo de água e entrega ao chefe. - Vá lá fora um pouco pegar um ar, eu cuido de tudo por aqui.
John pega o copo, tira a touca e o avental e vai para os fundos do restaurante. Acende um cigarro e percebe que está falhando miseravelmente na tentativa de parar de fumar. Bebe alguns goles de água e joga o restante do liquido que sobrou no copo sobre as hortaliças. Em um canteiro ao lado da porta dos fundos, ele mesmo fez questão de plantá-las. A grande maioria dos ingredientes usados ali eram comprados, mas John gostava de usar temperos que fossem colhidos na hora.
Encostado na parede com os pés cruzados a frente do corpo e olhos fechados John traga seu cigarro tranquilamente não percebendo minha aproximação cautelosa . Eu havia ido até o restaurante e fora avisada que John estaria ali fora, apoio minha mão esquerda em sua cintura e com a direita arranco o cigarro de sua boca.
- Pensei que tínhamos um acordo sobre isso! - Digo fingindo desapontamento. Jogo o cigarro no chão e apago com a ponta do coturno de couro preto, gasto pelo uso. Fora uma das coisas que mais gostou de todas as que ganhou de Mary e Melissa.
John sorri e concorda com a cabeça ainda ciente do toque despreocupado de Anis em sua cintura.
- Como foi na terapia? - Ele pergunta desfazendo o coque em seus cabelos e refazendo novamente.
- Foi bom, eu acho. - Respondo encostando na parede ao seu lado enquanto observo os cachos pretos de John caindo ao redor de seu rosto. Não eram muito longos, mas tinham volume e extremamente bonitos, me pego imaginando se eram macios como aparentavam. - Foi rápido. - Continuo. - E ele me aconselhou a me ocupar um pouco. Me convidou a ir a um grupo de jovens com problemas psicológicos e ensinar desenho a eles.
John cora levemente lembrando da sua descoberta da noite anterior.
- Eu estive pensando no caminho até aqui talvez se você e seu sócio não se importarem eu posso ajudar com as mesas na hora do almoço alguns dias? Ou até mesmo com a louça. Não tenho muito pra fazer em casa mesmo.
John contrai os lábios ponderando sobre o assunto. Não era uma má ideia.
- Eu acho que pode dar certo. - Ele responde. - Mas teríamos que acertar seu preço.
- Preço? - O olho curiosa. - Não nada disso! Estou morando de favor com você pelo amor de Deus! Você está pagando minhas consultas. Estou me oferecendo para ajudar.
- Tudo bem a princípio! Mas apenas alguns dias da semana, ok? Porque ainda preciso de alguém que limpe o apartamento! - John brinca.
- Engraçadinho! - Reviro os olhos. - Nunca vou poder te pagar por tudo isso então, é o mínimo! - Pego na mão de John e o olho com carinho. - Obrigada! - Murmuro e encaro o chão constrangida.
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John a puxa pela mão e a leva em silêncio para dentro do restaurante, mesmo que tudo ao redor deixe claro que isso pode não dar certo, ele sente que tem de fazê-lo. Mesmo que essa mão que ele segura agora o largue depois, talvez ele se redima de alguma forma de seus pecados. Ver o bem que se faz a outra pessoa não tem preço, mas o quão grande seu peito se infla de orgulho ao vê-la diferente é talvez o sentimento mais egoísta que ele tenha no momento.
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ChickLitDecidida a tirar a própria vida Anis contempla seu futuro nas águas calmas de um rio. Um estranho surge de repente e a impede de cometer tal loucura. Enfrentando seus medos mais íntimos Anis encontra na amizade, na determinação e no amor forças pa...