XII

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Esperamos na recepção por cerca de dez minutos enquanto o medico não me chamava, estava nervosa e torcia minhas mãos no colo. John lia um jornal que pegou ao lado do sofá. A secretária digitava coisas em seu computador e o barulho constante das teclas começava a me chatear.

- Anis?

Ouço meu nome ser chamado e me levanto, viro-me para John que solta o jornal e me segue, entramos no consultório e um médico um tanto quanto jovem nos esperava na porta sorrindo.

- Podem se sentar. – Fala indicando-nos duas cadeiras a frente de sua mesa.

- Obrigada.

- Então Anis o que a traz a meu consultório?

Olho receosa para John que me dá um sorriso encorajador.

- Eu sou alcoólatra. – Decido ser curta e grosa para adiantar as coisas.

- É um bom sinal ser você a ter consciência disso. Há quanto tempo você bebe Anis?

- Há uns oito anos, desde que tinha 16. – Respondo enquanto o médico fazia anotações em seu bloquinho.

- E desde quando a bebida passou a ser um problema pra você?

- Isso faz de uns quatro anos pra cá.

- Você já tentou tratamento alguma vez?

- Já, eu fiquei internada durante uns meses, mas acabei fugindo. – Olho para minhas mãos envergonhada.

- Entendo. E o que fez você buscar ajuda novamente?

- John.

- Ele te convenceu?

Fico em silêncio, não consigo contar como John me encontrou, simplesmente essa ainda é uma solução na qual eu me agarro. Se nada der certo a ponte continuará lá.

- Encontrei-a tentando suicídio. – John responde por mim, me sinto aliviada que essas palavras não saíram de minha boca.

- Então teremos que tratar além do alcoolismo de um caso de depressão. Vou te indicar um terapeuta amigo meu e quero que você comece a terapia imediatamente. Entenda Anis que tratar apenas o alcoolismo e não tratar de seu problema psicológico não adianta. Você precisa que seu corpo e sua mente estejam em sintonia. Se sua mente não vai bem você terá muito mais chances de ter recaídas.

- Tudo bem. – Respondo o encarando.

- Durante esse período de quatro anos para cá que você considera os mais críticos de sua dependência, quantas vezes foi ao médico?

- Nenhuma.

- Qual foi o maior espaço de tempo que conseguiu ficar sem beber?

- Dois dias no máximo. Apenas o tempo suficiente para conseguir dinheiro e comprar mais bebida.

- Teve contato com outros tipos de drogas?

- Sim.

- Ainda usa?

- Não. Apenas o álcool.

- Quanto tempo faz que não bebe?

- Quase dois dias.

- Já teve crise de ansiedade?

- Sim.

- Bom pelo tempo que você está dependente é bem provável que seu fígado esteja debilitado, mesmo você sendo jovem o consumo agressivo do álcool pode ter causado danos irreversíveis. Vou pedir alguns exames que você pode fazer assim que sair daqui falando com minha secretária e já deixe marcado seu retorno para avaliação dos exames. Vou te receitar um medicamento para a ansiedade e outro para seu corpo rejeitar o álcool, esse você deve tomar todos os dias ele causa efeitos colaterais fortíssimos quando você ingere bebidas alcoólicas acostumando assim seu corpo e seu cérebro que se você beber pode ficar muito mal. O medicamento para ansiedade é faixa preta então aconselho a tomar a noite antes de dormir e quando estiver sentindo muita vontade de beber, mas não tome mais que três comprimidos ao dia: pela manhã, ao meio dia e a noite. – O médico vira-se para John. – Vocês moram juntos?

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