SEDE

XXI

Finalmente uma senhora vai à frente da sala contar-nos a sua história, eu que a essa altura debulhava-me em lágrimas graças ao sofrimento daquele pai que havia perdido os filhos para o álcool. Desesperava-me a idéia de que também perdi meus pais e irmã dessa forma, Adele engolia-me graças a John, mas foi a primeira a incentivá-lo a me mandar embora, e meus pais não os via desde que fugi da clínica. De certa forma, pela falta da procura deles, eu aceitei que não me queriam mais por perto e me afastei. Sinto falta deles, tornei-me solitária ao extremo, graças ao querido álcool.

- Olá a todos. – A senhora começa. – Por incrível que pareça não é sobre mim que vim falar esta noite. O álcool destruiu sim a minha vida, mas não por meu intermédio. Meu falecido marido era alcoólatra e tornou nossa vida em um inferno, desestruturou toda a família por causa do vício. Meus filhos a certo ponto romperam ligações com ele e só vinham me visitar quando ele não estava para não encontrá-lo, eu sofria vendo o desprezo que eles sentiam do pai, mas não era por menos, eles passaram poucas e boas na mão do pai enquanto bêbado. A noiva de meu filho mais velho chegou a romper o compromisso depois de um dos infinitos escândalos de meu marido. Com uma garrafa em uma mão e a outra gesticulando conforme falava ele vinha com discursos inflamados cheios de moralismo e aos poucos ele ia se alterando e de repente estava a gritar e quebrar coisas. Foi assim durante alguns anos, apenas lamento que ele tenha parado de beber um pouco tarde demais. Meu marido tomou consciência de seu estado quando foi levado as pressas para um hospital com cirrose hepática, foi proibido de beber novamente restava-lhe pouco tempo, freqüentei as reuniões do AA com ele durante cinco meses. Não foi fácil para ele, mas antes de morrer ele fazia questão de vir aqui e alertar as pessoas a pararem de beber antes que fosse tarde de mais. Para ele foi tarde, mas para vocês não é. Prometi a ele que depois que ele partisse eu estaria aqui e contaria a vocês nossa história. E é isso que faço hoje, o álcool não faz mal apenas a pessoa que é alcoólatra, mas a toda família e pessoas ao redor dela. Meu querido Alan não viu o quando o álcool estava nos destruindo e a nossos filhos, mas durante aqueles cinco meses em que ele viveu longe dele, se esforçou para fazer e ser tudo que ele não tinha sido e feito a vida toda para mim e para meus filhos. Foram os meses mais felizes da minha vida e pude ver ele partir com o perdão e o amor de nossos filhos. Eu alerto vocês a apararem enquanto há tempo. Não percam contato com seus amigos e familiares. Tenho certeza que eles os amam e não importa o que você tenha feito eles vão o perdoar, se esforcem vocês conseguirão basta querer. Obrigada.

- Obrigado Dona Maria, somos gratos pela presença da senhora esta noite e todas as noites que você pode estar aqui conosco. – Carlos se levanta de onde estava sentado e agradece. – Acho que está noite já foi recheada de emoções e motivação, não é fácil vencer o vício, mas é possível desejo uma boa noite a todos e até semana que vem.

- Vamos? – John convida-me segurando minha mão.

- Sim. – Respondo já me levantando.

- Anis? – Paro onde estava e procuro ao redor da sala a voz que me chamava. Depara-me com a garota que sentou ao meu lado me encarando com um sorriso no rosto. – Não lembra mais de mim?

Mais é claro que eu lembrava, aquele perfume eu deveria ter reconhecido, já o usei emprestado algumas vezes e emprestado por ela: Rachael.

- Claro que eu lembro. – Respondo com um sorriso forçado. – Como eu poderia esquecer de você Rachael.

Rachael foi uma colega que saía para beber comigo, um tempo atrás éramos tipo Best Friends Forevers até eu ir parar nas ruas e ela "puft" sumir.

- E não vai me apresentar para esse pedaço de mau caminho que está com você? – Desavergonhadamente Rachel leva um dedo à boca enquanto despi John com os olhos fazendo todo o esforço possível em parecer sensual vestida de moletom e camiseta em meio a uma reunião do AA.