Naquela semana tudo que fiz foi ir ao máximo de reuniões do AA que podia, na terapia das quartas e sextas, na consulta mensal com o médico. Trabalhar no restaurante se tornava cada dia mais insuportável. John e eu mal nos falávamos a não ser pelo dia em que ele deixou um bilhete sobre meu colchão avisando a data prevista para minha entrevista na Big Shoes.
Eu sei que essa situação não podia se estender mais, afinal eu morava na casa dele e John pagava meu tratamento. Eu evitava-o o tempo todo. Mary chegou a perguntar o que havia acontecido, mas não quis decepcioná-la confessando minha recaída, apenas desconversei e tentei convencê-la que tudo corria bem.
Hoje seria o grande dia, eu iria até a empresa para minha entrevista. Não sei o que me esperaria lá, não sei como reagiriam perante meus problemas, mas enfim eu teria que fazer isso, teria que tentar.
Eu estava pronta em frente a porta do quarto de John, ainda era cedo, queria avisá-lo que me atrasaria para ir ao restaurante. Bati duas vezes levemente, sem obter resposta.
- John? - Chamei-o.
Nada.
A porta da frente é aberta e vou até a sala para encontrá-lo chegando de sua corrida matinal. Noto no relógio que ele havia ido mais cedo que o normal hoje. Talvez para não me encontrar, ele sabia dos meus planos de hoje pela manhã. John secava a testa com a camiseta que estava fora de seu corpo enquanto fechava a porta, apenas de bermuda de corrida e fones de ouvido ele não havia percebido minha presença ali. Ele vai até a cozinha e eu o sigo, não deixando de suspirar analisando seu peitoral nu.
Abre a geladeira e tira uma garrafa pet de água de lá, bebe diretamente no gargalo. John adorava beber água do gargalo ele comprava garrafas pet de água apenas pelo prazer de fazer isso. Depois mandava as garrafas vazias para reciclagem junto com as que sobravam do restaurante. O chamo novamente, mas ele não ouve graças ao fone de ouvido.
Me aproximo e toco seu ombro, a pele quente sobre meus dedos frios causam um choque térmico e sinto suas costas se arrepiarem sob meu toque. John vira-se para mim e faço sinal em minha orelha para que tire os fones de ouvido, podia-se ouvir a música alta que ele ouvia através do silêncio da cozinha. John retira os fones e eu sorrio murmurando um bom dia que ele responde baixando os olhos.
- Eu vou me atrasar um pouco no restaurante hoje. - Aviso. - Estou indo a aquela entrevista.
- Eu sei. - John levanta novamente o olhar para o meu. - Quer que eu te leve?
- Não, estou bem. Você não pode se atrasar para ir ao restaurante.
- Já tomou café? - Ele pergunta enchendo a cafeteira com água.
- Eu não estou com muita fome, eu como algo no restaurante quando voltar.
Nossa conversa robotizada e fria estava me deixando ansiosa, mais que a entrevista que eu teria que encarar mais tarde. Nunca agimos dessa forma um com o outro.
- John eu vou indo, não posso me atrasar e a Big Shoes fica a dois bairros inteiros daqui.
Viro as costas já saindo da cozinha, quando John me alcança já vestindo a camiseta e pegando as chaves do apartamento sob o aparador ao lado da porta.
- Me deixa levá-la até o ponto de ônibus pelo menos.
- Não seja bobo, John eu vou andando. - Sorrio, ele me olha aborrecido e insiste:
- Vamos eu te acompanho até o ponto.
Diante de sua insistência não pude fazer outra coisa a não ser concordar. Peguei minha bolsa com os desenhos dentro e segui-o.
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ChickLitDecidida a tirar a própria vida Anis contempla seu futuro nas águas calmas de um rio. Um estranho surge de repente e a impede de cometer tal loucura. Enfrentando seus medos mais íntimos Anis encontra na amizade, na determinação e no amor forças pa...