Malignan olhava admirado para a sala comunal, como se nunca tivesse visto nada tão encantador. Me apressei para levá-lo ao dormitório antes que algum aluno mais velho aparecesse.
— Você pode dizer o que aconteceu com o seu rosto? — perguntei.
— Por quê? Ele ficou feio? — Tive certeza que Mal estava sorrindo.
— Quem te bateu?
— Você acha mesmo que alguém seria capaz de me bater, baixinho? — Parei de andar e olhei para ele. — Nott me acertou uma cabeçada quando eu tentei acordar ele.
Finjo acreditar e sigo caminho. Ouço risadas antes mesmo de abrir a porta. Os garotos já estavam todos juntos na cama do Justino F-F, jogando cartas. Eles param de rir quando entramos. Malignan não disse nada, apenas encarou os garotos com os olhos sérios.
— Hum... Esse é o Mal. Ele é meu amigo. Veio jogar com a gente.
— Você é o garoto que enfeitiçou o Malfoy? — Abraham Nelsen pergunta.
Olho para Malignan, mas de repente ele acha o teto muito interessante.
— Aqui é quente, né?
— Malignan! Você fez o quê??? — pergunto e cruzo os braços.
— Ele é um chato. Mereceu.
Não quero acreditar que eu sou amigo de uma pessoa assim.
— Malfoy é horrível, Aiden, acredite — diz Justino.
— Isso não é razão para enfeitiçar alguém! E se ele tivesse se machucado? — Olho perplexo para Justino.
— Teria sido maravilhoso — Ulisses entra na conversa.
— Vocês são pessoas horríveis — digo após uma pausa.
— Você que é bonzinho demais, baixinho.
Fico mais um tempo em silêncio, raciocinando. Mal enfeitiçou o Malfoy. Malfoy estava cercado por dois garotos gigantes. Malfoy é uma pessoa ruim. Mal está com um olho roxo.
— Você levou um soco do Malfoy, Malignan?
— Em primeiro lugar: para você é Mal. M-A-L. Em segundo lugar: Malfoy nunca encostaria um dedo em mim. Os dois bobalhões me pegaram desprevenido. Não tive chances contra os dois juntos.
— Que fraco. — Meu pensamento intrusivo sarcástico fala mais alto. Eu não deveria ter dito isso, pois agora Mal está me fuzilando com o olhar. Malignan segura o meu rosto com uma mão. Seus olhos se fixam nos meus, mas, por um breve momento, eles deslizaram para baixo.
— Eu não sou fraco.
— Entendi. — Senti o meu rosto ficar quente por causa da proximidade. Malignan voltou a me olhar nos olhos. — Mal, os meus pés estão doendo. Caso não tenha percebido, preciso ficar na ponta deles para ficar da sua altura.
Mal ri de um jeito leve e solta o meu rosto.
Isso foi encantador pra cacete (mãe, desculpa por usar essa palavra). Mal fica muito bonito sorrindo. Ainda mais do que quando está sério, embora eu também aprecie.
— O que estão jogando? — diz, caminhando até a cama.
Malignan se junta aos garotos. Está na hora de escrever para a minha mãe, então tiro um pequeno tempo para mim. Sento de pernas cruzadas na minha cama, de costas para os meninos.
...Mãe, hoje o dia foi tranquilo. As aulas não foram ruins, eu me saí muito bem. Muito melhor do que nas escolas normais. O Mal veio dormir aqui no meu dormitório. Eu queria te dizer uma coisa, mas não sei se a senhora aprovaria. Provavelmente sim, mas não vou falar ainda. Não é algo bom, eu acho....
Amanhã vou ter a minha primeira aula de Poções, e não estou muito animado. O Professor Snape parece ser mau, mas por sorte o Mal vai estar comigo. Ele me deixa confortável.
Mãe, encontrei algo para fazer o meu dia melhorar 100% agora que a senhora não está aqui. Fazer Malignan sorrir tornou o meu dia muito melhor.
Estou fechando a carta quando lembro que a Tony ainda não voltou. Será que ela conseguiu chegar na minha casa?
☆☆☆☆
Mal ganhou três partidas do jogo com as cartas, Justino ganhou uma, Abraham e Ulisses não ganharam nenhuma. Como eu não sabia jogar, fiquei de fora.
Depois das cartas, fomos jogar adivinhação. É basicamente as brincadeiras da escola, quando o professor pede para alguém imitar um animal e os outros precisam adivinhar. Ulisses disse que eles brincam de um jeito diferente, usando um tipo de doce, que, quando engolido, faz a pessoa imitar o animal ou objeto perfeitamente. Mas o jeito trouxa é muito mais divertido, na minha opinião. É mais difícil e engraçado tentar acertar sem som, enquanto a pessoa parece estar tendo um derrame.
Um dia, no segundo ano, fomos brincar disso, ATENÇÃO NO GATILHO!, um dos meninos foi imitar um macaco e, ao invés de fazer movimentos estranhos e catar piolho, ele apontou para mim e para uma amiga que sentava ao meu lado. Nós dois temos a pele escura e éramos os únicos negros da sala. A sala inteira riu do ocorrido e o professor fingiu que não viu nada. Bom, a minha mãe começou uma guerra com a escola.
Eu não entendi na hora. Quando cheguei em casa e contei pra minha mãe, ela me explicou um pouco sobre o racismo. Disse que eu tive sorte de não ter sofrido com isso antes. Faltei na aula por uma semana porque a minha mãe estava procurando outra escola. Ela não achou, então tive que voltar pra lá. A outra garota, Eleanor, continuou lá também. Acho que os pais dela não se importaram muito.
Mas está tudo bem agora. Eu sei que os garotos não vão ser maus comigo. E, se forem, o Mal vai acabar com a raça deles.
Continua
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Olhe Para Mim, Mal
RomansaUm sonserino e um lufano, um casal totalmente improvável, certo? Errado. Vou usar muitas cenas reais dos livros/filmes para a construção do casal.