Capítulo 22

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Teria sido legal se não fosse pelas teias de aranha, pelas aranhas e pelo fato de ser um escorregador de pedra. Fiquei um minuto inteiro escorregando antes de despencar e cair num corredor escuro e de ar úmido.

Nott caiu logo depois de mim, mas caiu de um jeito muito mais glorioso.

— Onde estamos? — pergunto ao me levantar.

— Corredor do terceiro andar — responde Nott, limpando a poeira da calça.

— Impossível. Estávamos no térreo, e, pelo o que eu saiba, um escorregador não sobe.

— Trouxas — disse Ajax, como um desabafo.

Os dois garotos olham ao mesmo tempo para o fim do corredor. Nott passa a mão pela minha boca e me arrasta até outro corredor. Ouvi passos apressados se aproximando, mas pararam bem onde estávamos há poucos segundos. Consegui ouvir o coração de Nott batendo muito rápido, como marteladas.

— Cadê a sua varinha? — Ajax questiona. Nott não responde, ao invés disso, fica com uma expressão de paisagem. — Você está de... Que tipo de bruxo deixa a varinha no dormitório?

— Onde está a sua, bruxão? — É a vez de Ajax ficar com cara de paisagem. — Julgar é fácil, quero ver ter o tamanho de varinha que eu tenho.

Socorro. Onde foi que eu me meti.

Quero o meu Malzinho.

Sons de passos diferentes surgem novamente. Dessa vez, mais apressados. Nott põe a cara no corredor.

— É o Snape. Que merda ele veio fazer aqui? O bichão não tá lá em baixo?

— Hum. Humphf — tento dizer, com a mão de Nott ainda cobrindo a minha boca.

— Você tem razão. Vamos cair fora daqui.

Bem a tempo. Quando estávamos correndo para as escadas, uma luz verde seguida por um estrondo dispara às nossas costas. A voz de Quirrell esbraveja e logo depois uma voz arrastada e fraca que não é a de Snape conversa com ele, parecendo dar ordens. Não ficamos para ver o resto. Descemos as escadas aos tropeços.

Os dois me acompanharam até a porta da minha comunal. Quando finalmente pudemos descansar, caímos no chão.

Ficamos minutos em silêncio. Eu, por educação, e os dois, por desespero. Eles se olhavam como se trocassem mensagens subliminares. Senti como se eu fosse um intruso, mas não pude conter a curiosidade:

— O que aconteceu?

Nott desviou o olhar primeiro, recusando-se a tocar no assunto.

— Fale pro seu namorado que Quirrell se revelou. Se ele quiser que você saiba, te explicará. Agora, entre — ordenou Ajax. Nunca vi Ajax como agora. Sempre fora um cara de expressões frias, porém, nesse momento, não passa de um garoto muito assustado e prestes a vomitar.

— O Mal não é meu namorado — esclareço.

Nott ajuda Ajax a levantar. Os dois estão parecendo derrotados, mas mesmo assim sorriem e se despedem atenciosamente. Não espero muito para entrar na comunal quentinha pela lareira. Muitos alunos esperam por notícias. Uma mesa estava posta com coisas do jantar, mas eram poucos os que comiam.

Alguns dos alunos perguntaram se eu estava bem e porque eu demorei. Dei respostas automáticas, como "estou bem, só me perdi" e corri para o dormitório assim que tive chance. A maioria dos meninos está aqui. Ulisses está entre eles, jogando conversa fora.

Deitei na cama e fechei os olhos. Meu sossego não durou muito. Meu bolso pesou.

"Você está bem?", perguntou Mal.

Olhe Para Mim, MalOnde histórias criam vida. Descubra agora