Capítulo 23

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Entramos em novembro. O tempo esfriou muito. Hogwarts ficou incrivelmente cinza e o lago congelou. Uma confissão: não gosto do inverno. É tão sem graça e frio. Claro, tem um lado bom. Malignan começou a frequentar mais o nosso dormitório para dormir comigo.

Graças à chegada do inverno não ficamos mais tanto tempo de bobeira no campo. Agora passamos nosso tempo livre nas nossas comunais, não juntos. Escapamos para a biblioteca sempre que podemos e usamos um feitiço para conversar sem ninguém se incomodar.

Hogwarts inteira está agitada hoje. Amanhã vai rolar o primeiro jogo da temporada de Quadribol. Grifinória contra Sonserina. Se Grifinória ganhasse, subiria para o segundo lugar no campeonato das casas. Pelo o que eu ouvi, nós, lufanos, nem perdemos nosso tempo nos preocupando com isso. Já fui avisado de que não deveria me iludir achando que vamos ganhar. Ao que parece, Grifinória e Sonserina são os protagonistas do quadribol por aqui.

Malignan estava animado demais com essa partida, como se ele próprio fosse jogar. Quando chegou no nosso dormitório, só me deu um beijo rápido e foi conversar com os meninos sobre o que poderia acontecer no jogo.

— Acho que a Grifinória ganha. Não sabemos como o Potter joga mas ele tem bons reflexos e é rápido — disse Justino F-F.

— Você está equivocado. Potter é muito magrela e fraco — rebateu Ulisses.

— Acontece, Abbot, que Potter é um apanhador. Eles precisam ser magrelos para serem rápidos. Estou com Justino nessa — Mal argumentou.

Desisti de participar da conversa e fui fazer alguns trabalhos pendentes. Depois de trinta minutos Mal veio até mim com um sorriso enorme. Ele deitou a cabeça nas minhas pernas e fechou os olhos. Mal não tentou puxar assunto comigo. Ele sabe que odeio quando ficam conversando quando estou tentando fazer algo que precisa de atenção.

Enquanto escrevia um texto para um dever de Poções, passei a mão por dentro da blusa de Mal e acariciei suas costas. Ele não pareceu se importar; soltou um suspiro e abraçou a minha barriga. Senti suas cicatrizes e as casquinhas que se formavam nos novos arranhões, mas não me incomodei. Era como sentir um lado íntimo dele, um lado que poucas pessoas conheciam. É maravilhoso saber que sou o único que pode tocá-lo assim.

Passou mais algum tempo até eu terminar de fazer tudo. Malignan estava roncando baixinho, parecendo o garoto mais inocente do mundo. Ele acordou assustado quando me mexi para guardar os materiais.

— Porra. Você me assustou.

— Cuida essa boca. E eu não fiz absolutamente nada.

Mal sentou de frente pra mim. Abriu um sorriso carinhoso segundos antes de enfiar a língua na minha boca.

— Você vai ver o jogo amanhã? — pergunta.

— Não estou a fim.

— Está sim. Você precisa assistir.

— Vou pensar.

Malignan sorri e me beija de novo.

— O que eu preciso fazer para você ir?

Cenas muito erradas passaram pela minha mente. Estou em choque com o que eu sou capaz de pensar.

— Não precisa fazer nada. É claro que eu vou assistir.

Recebo um beijo na bochecha como agradecimento. Mal se aproxima para beijar a minha boca, mas um dos garotos resmunga "como conseguem?" e um som de vômito. A primeira reação do Malignan foi pegar a varinha. Ele identificou a voz, pois apontou para um garoto em específico. Nunca fui muito com a cara de Neo Donelly, e a pessoa precisa se esforçar muito para isso acontecer. Já vi ele olhando para nós de um jeito carrancudo, mas achei que era um problema pessoal comigo ou com o Mal. Não pensei que o problema era com nós dois juntos.

Ulisses e Justino também levantam as varinhas para Neo Donelly.

Enquanto isso, só consegui ficar sentado com as mãos tremendo. Desespero puro. Eu sabia que tudo estava bom de mais para ser verdade. Ainda não tínhamos ouvido nada sobre a nossa "amizade", mas ambos sabíamos que o dia chegaria. E infelizmente a crítica veio de um colega com quem convivo e durmo no mesmo quarto.

— Repete — Malignan esbraveja. Ele dá um passo à frente, ainda com a varinha erguida na altura dos olhos. Donelly recua. — Você tem algum problema com a gente? Fale em voz alta como um homem de verdade.

— Você quer falar de "homem de verdade" enquanto beija um cara? — Donelly cospe as palavras. Elas cravam como agulhas em cada centímetros do meu cérebro. — Que hipocrisia.

Mal prensa o garoto na parede e pressiona a varinha na garganta dele.

— Eu vou te matar — Malignan diz calmamente, com um sorriso nos lábios.

Esse é o meu garoto.

— Mal, já chega — digo. — Isso não vai mudar o que ele pensa. Idiotas não deixam de ser idiotas.

Quando ficou tudo calmo, Malignan me deu um beijão que até me deixou constrangido. Ele subiu em cima de mim e continuou me beijando, sem se importar se os outros estavam julgando e nos condenando.

Queria que isso fosse fácil para mim como é para ele. Não consegui tirar Neo Donelly da cabeça. Quantas pessoas como ele estão por aqui? Corremos o risco de sermos espancados todos os dias.

A música que está tocando agora é I Am What I Am de Village People.

O mundo seria bem melhor se todos conhecessem as músicas deles.

— Isso não vai acontecer sempre, Baixinho.

— Você não sabe disso.

— Eu não sei — admite. —, mas vou fazer o possível para te poupar disso.

— O único jeito de me poupar disso é se afastando de mim. E eu arranco a sua cabeça se você fizer isso.

Malignan ri e me beija.

— Relaxa. Iriam precisar arrancar os meus braços e pernas para me afastar de você. Eu já disse que gosto de você, e nada vai mudar isso.

Fico em silêncio, sem saber como responder. Mil e uma músicas passam pela cabeça, mas apenas uma chega às finais.

— Você é a minha estrela da sorte.

— Não sabia que era possível alguém ser romântico e sem sentimentos ao mesmo tempo.

— Eu estou tentando melhorar nisso.

— Tudo bem — diz Mal, sorrindo. —, eu gostei.

Levanto as mãos para o céu.

— Obrigada mãe Madonna por me ajudar a conquistar o garoto dos meus sonhos — digo como uma prece.

— Sua mãe se chama Madonna?

Dou risada até os garotos reclamarem do barulho.

Continua

Olhe Para Mim, MalOnde histórias criam vida. Descubra agora