Capítulo 7

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Estava escurecendo. Vimos montanhas e matas sob um céu arroxeado. O trem parecia estar diminuindo a velocidade.

Ulisses e eu nos vestimos juntos e Safira foi procurar uma cabine segura, longe de garotos.

Não sabíamos se Malignan voltaria para buscar os doces, então dividimos e enfiamos nos bolsos das vestes (fiquei muito fofo nelas, aliás).

Uma voz ecoou pelo trem:

— Vamos chegar a Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor deixem a bagagem no trem, ela será levada para a escola.

A mesma sensação de quando vi Malignan na estação tomou conta de mim. Meu estômago revirou e meu coração bateu mais forte. Fiquei ansioso para sair do trem e ver tudo o que me aguardava.

O trem foi diminuindo a velocidade e finalmente parou. As pessoas se empurraram para chegar à porta e descer na pequena plataforma escura bem parecida com a de Londres.

Então apareceu uma lâmpada balançando sobre as cabeças dos estudantes. Reconheci a voz que chamava:

— Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui! Tudo bem, Harry?

Fiquei na ponta dos pés para ver o famoso Harry Potter. Obviamente não consegui ver nada.

— Vamos, venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?

Seguimos Hagrid por um caminho estreito. Estava tão escuro em volta que certamente seria um lugar para desovar cadáveres. Ninguém falou muito. Neville, o menino de rosto redondinho que perdeu o sapo continuava chorando, embora bem menos do que antes.

— Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo — Hagrid gritou por cima do ombro —, logo depois dessa curva.

Ouviu-se um Uaaaaaaau muito alto vindo de todo o grupo do primeiro ano.

O caminho estreito se abriu até a margem de um lago enorme. No alto de um penhasco na margem oposta, havia um castelo imenso, com várias torres e janelas brilhando com o reflexo das estrelas.

— Só quatro em cada barco! — gritou Hagrid, apontando para uns barquinhos parados na água junto à margem. Vi Malignan entrar em um com mais dois garotos feios e tentei ir preencher o lugar vago naquele barco, mas Safira me puxou pela mão para outro.

— Todos acomodados? – Hagrid perguntou. Ele tinha um barco só para si. – Então... VAMOS!

E os barcos largaram todos ao mesmo tempo, deslizando no lago. Todos os alunos estavam em silêncio, olhando para o castelo no alto. Parecia ficar maior a medida que nos aproximávamos.

— Abaixem as cabeças! — berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessaram uma cortina de mato pendurado na frente de uma abertura no penhasco. Seguimos por um túnel escuro, que parecia ir para debaixo do castelo, até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcamos em chão de pedra.

Estou com medo. Senti um frio na espinha ao olhar o lugar. Faz três anos que durmo com a luz do abajur ligada, tudo por causa do filme O Exorcista que insisti em assistir com a minha mãe. Ah, se arrependimento matasse...

Para piorar esse medo, alguma coisa aperta o meu calcanhar. O choro veio mais rápido do que o esperado. Gritei e corri para longe como uma criancinha. Lógico que os outros alunos riam enquanto eu chorava. Mal estava entre eles, ao lado do menino que apertou o meu pé. Rindo como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

Não pode ser real.

Malignan não faria isso. Ele é meu amigo.

Esperava que ele parasse de rir e viesse me dizer que está tudo bem. Mas, ao invés disso, Hagrid colocou a mão no meu ombro e disse o que Malignan deveria ter dito se não estivesse ocupado batendo mão com mão com o garoto que me assustou.

Olhe Para Mim, MalOnde histórias criam vida. Descubra agora