Não pude me dar ao luxo de comprar as tintas e penas legais, mas pude comprar para Cole uma tinta que mudava de cor enquanto a pessoa escrevia. Quase comprei uma pena que escreve sozinha, mas Hagrid disse que não funcionam direito.
Após comprar os pergaminhos, penas e tintas, fomos comprar os livros numa loja chamada Floreios e Borrões, onde as prateleiras estavam entupidas de enormes livros de couro, livros pequenos de seda; livros com desenhos estranhos (na minha terra isso é chamado de satanismo). Hagrid teve que chamar a minha atenção algumas vezes, não consegui desviar o olhar dos livros de azarações. Queria ter dinheiro para comprar um e testar com o Cole (as legais e que não fazem mal), mas fazer magia em casa é proibido.
Já na loja de caldeirões, havia alguns estranhos, tipo de ouro. Não comprei, é claro, e julgo quem comprou. Fomos à farmácia, que seria muito fascinante se não tivesse um cheiro horrível, uma mistura de enxofre com leite estragado. Havia no chão barris de coisas estranhas, frascos com ervas (o pessoal do meu bairro ia se amarrar), raízes e pós coloridos (alô, pessoal de Whitehawk, essa é pra vocês) cobriam as paredes. Enquanto Hagrid falava com o homem do balcão os ingredientes necessários, eu examinava chifres de unicórnio. Fiquei com vontade de chorar quando percebi que os unicórnios precisavam morrer para seus chifres estarem à venda.
Ao sairmos da farmácia, verifiquei a lista de novo.
— Só falta a varinha — digo, quase ansioso demais.
Hagrid sorri, e então diz:
— Vou comprar a sua coruja para não perdermos tempo.
Aceno com a cabeça e nos separamos.
A loja de varinhas é pequena e meio feia. Letras douradas a cima da porta dizem: Olivaras: Artesãos de varinhas de qualidade desde 382 a.C. Na vitrine empoeirada há apenas uma Varinha sobre uma almofada roxa meio capenga.
Um sininho toca em algum lugar da loja, anunciando a minha entrada.
Tento fazer todas as perguntas irem para a lixeira do meu cérebro. É tão confuso estar aqui. Uma sensação esquisita, como se eu não pertencesse a esse lugar. O mundo normal não parece ser ideal, mas o mundo bruxo também não.
— Boa tarde — diz uma voz suave, que faz eu me borrar inteiro.
Há um velho parado diante de mim, os olhos grandes e claros, como duas luas.
Quase deixo escapar um palavrão.
— Bem vindo! — exclama o velho. — Veio comprar a sua primeira varinha, suponho?
Aceno com a cabeça, nervoso.
O Sr. Olivaras chega mais perto e analisa o meu rosto com os olhos prateados. Um pouco assustador, confesso.
— Hum... — resmunga, lançando um olhar curioso ao se afastar. — Qual é o braço da varinha, meu jovem?
— Ah... eu sou canhoto.
— Estique o braço. Isso. — Ele me mediu do ombro ao dedo, depois do pulso ao cotovelo, do ombro ao chão, do joelho à axila e ao redor da minha cabeça. Enquanto media, disse: — Toda varinha Olivaras tem o miolo feito de uma substância poderosa. Pelos de unicórnio, penas de cauda de fênix e corda de coração de dragão. Não há duas varinhas Orivaras iguais, assim como não há unicórnios, fênix nem dragões iguais. E é claro, o senhor nunca jamais conseguirá resultados tão bons com a varinha de outro bruxo. — Parecia que ele já tinha dito isso antes, e parecia achar estar falando com essa pessoa.
Então, algo me assustou ainda mais. Percebi que a fita métrica estava medindo sozinha. O velho maluco andava em volta das prateleiras.
— Já chega — falou, e a fita métrica caiu formando um montinho no chão. — Certo. Experimente esta. Faia e corda de coração de dragão. Vinte e três centímetros. Boa e flexível.
Apanhei a varinha e (como um idiota) fiz um movimento qualquer com ela, mas o Sr. Olivaras a tirou da minha mão quase imediatamente.
— Bordo e pena de fênix. Dezoito centímetros. Bem elástica. Experimente.
Experimentei — mas mal ergui a varinha quando o Sr. Olivaras a tirou da minha mão.
— Não, não. Tome, ébano e fibra de coração de dragão, 32 centímetros, flexível. Vamos, experimente.
Apanhei a varinha. Senti um repentino calor dos dedos. Ergui a varinha acima da cabeça, baixei-a cortando o ar com um zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta como fogos de artifício. O Sr. Olivaras bateu palmas e exclamou:
— Bravo! Muito bom!
Entrego a varinha. Ele põe numa caixa e a embrulha num papel pardo.
— Obrigado, senhor — murmuro, contente até demais.
O velho sorri.
— Seu nome?
— Aiden McKane, senhor.
— Irei me lembrar. Aiden McKane, ébano e fibra de coração de dragão, 32 centímetros, flexível. Lembro-me de cada varinha que vendi, Sr. McKane. De cada uma.
— Irei lembrar do senhor também — Quis me dar um soco assim que terminei a frase, mas ele pareceu contente.
Paguei sete galeões pela varinha e o Sr. Olivaras curvou-se à minha saída.
O sol já estava baixo quando Hagrid e eu refizemos o caminho para sair do Beco Diagonal, atravessar a parede e passar novamente pelo Caldeirão Furado, agora vazio. Não parei de falar em momento algum durante a viagem, e nem reparei nos olhares que as pessoas nos lançavam devido aos pacotes e a minha coruja (Cinza com algumas penas brancas, ela é linda demais). E não, eu ainda não escolhi o nome dela. Vou deixar essa parte com o Cole.
Antes de virmos embora passamos numa loja de doces para comprar algo para o meu irmãozinho. Hagrid aconselhou-me a comprar um sapo de chocolate, mas esse eu achei irado demais, então comprei feijõezinhos de todos os sabores para Cole.
Hagrid me ajudou a embarcar no trem que me levaria para casa, e então me entregou um envelope.
— A sua passagem para Hogwarts. Primeiro de setembro, na estação King's Cross, está tudo na passagem. Se tiver alguma dúvida, mande uma carta pela sua coruja sem nome, ela saberá onde me encontrar... Vejo você em breve, Har... Hum, Aiden.
O trem parou na estação. Quando pisquei os olhos, Hagrid tinha desaparecido.
...Continua...
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Olhe Para Mim, Mal
RomanceUm sonserino e um lufano, um casal totalmente improvável, certo? Errado. Vou usar muitas cenas reais dos livros/filmes para a construção do casal.