Capítulo 35

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A água estava parada enquanto ela a observava. Com os joelhos puxados até o peito e o rosto enterrado neles, ela contemplava a água calma e límpida. Já fazia um tempo desde que ela entrou no banho. Em algum momento, a água estava quente e agora estava morna. Ela movia os dedos sob a água, observando como seus movimentos afetavam a superfície. Pequenas ondas, pequenas perturbações. Tudo o que ela fez foi mover a mão, e ela quebrou a calma.

Tudo o que ele fez foi chamá-la de prostituta, e ele quebrou o coração dela.

Arrepios surgiram na pele exposta de suas costas e ombros. Ela apreciava o frio, pelo menos era como ele.

Sem mais estrelas.

Ela fechou os olhos, enterrando o rosto mais fundo nos joelhos. Então, uma lágrima escorreu por seu joelho e caiu na água do banho. Pequena perturbação. Ela calculava ter chorado lágrimas suficientes para encher cem banhos apenas neste ano. Com uma mão, ela podia contar as vezes que sentiu alegria genuína nos últimos doze meses. Uma mão e uma pessoa eram a fonte de todas elas. Uma pessoa que ela não poderia mais ter porque todos os outros estavam certos.

Não eram apenas as palavras de Ron. Eram os olhos de Ginny. Hermione magoou-a, traiu a ambas. Traiu a todos. Aqueles reconfortantes olhos castanhos tão vazios, tão perdidos. Ela causou isso. Suas palavras tão insensíveis, tão cruéis. Era tudo culpa dela. As pessoas que ela amava, os amigos que ela prezava, todos a odiavam e por quê? Porque, pela primeira vez, ela se colocou em primeiro lugar. Ela tinha o que queria.

É por isso que ela nunca se colocava em primeiro lugar.

A água estava calma novamente. Era bonita quando não era perturbada. Apenas águas serenas, tranquilas, claras e adoráveis. Seus olhos avistaram seu braço. As veias estavam piorando de alguma forma. Estavam avançando para um tom mais escuro e profundo de preto. Ônix, mais profundo do que o céu à noite, mais marcante do que tinta pura. Envolvendo seu pulso, torcendo-se pelo braço, e não havia sensação. Quanto mais tempo?

Ela mergulhou o braço na água, desejando que a calma consertasse a dor. Assim como ele fez. Sua voz calma, seus olhos profundos, consertavam sua dor. Sem falhas, ele consertava sua dor. Não havia conserto para essa dor, e ele não poderia vir. O anel estava em algum lugar, em seu quarto. Ela não queria perdê-lo, mas não podia usá-lo. Se ele viesse, ela teria que enfrentá-lo e contar a ele.

Contar a ele o quê, exatamente?

Contar a ele que ela não podia ficar com ele por causa dos olhos de Ginny. Ele não poderia ser o mundo dela por causa da voz de Ron. Ele não deveria segurá-la ternamente por causa das palavras de Molly. Ele não podia mais beijá-la e chamá-la de "minha" por causa do julgamento de todos os outros. Por causa da traição.

Hermione não podia perder a única família que lhe restava. Deixá-los ir simplesmente não podia ser uma opção. Ela não poderia ficar sozinha pelo resto da vida por causa de um erro estúpido de um garoto quando tinha dezenove anos.

Resto de sua vida?

Erro estúpido?

Um cacho escorregou e caiu sobre seu olho, mesmo sendo marrom opaco, mal enrolado. Sem vida, perdeu seu viço. Ela era patética. Verdadeiramente. Tudo o que os outros pensavam dela era verdade. Tudo o que Ron disse era verdade. Molly estava certa. Ginny também.

"Você é uma maldita prostituta."

"Pensei que você teria um pouco mais de auto-respeito."

"Nunca me decepcionei com você. Até agora."

"Você está manchada."

"Eu só... é errado."

Various Storms and Saints | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora