Capítulo 13

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A casa de Terry era uma mansão em Mayfair, no oeste de Londres. Pegar um táxi até lá foi uma experiência completamente nova para Robby, que estava acostumado a pegar caronas de graça em carroças. O táxi era uma carruagem de duas rodas, aberta na frente. O assento era largo o suficiente para os três amigos se sentarem confortavelmente, lado a lado. Um pequeno teto impediria que se molhassem se chovesse, mas não muito, pois a água continua vindo pela frente. Felizmente, naquela tarde não estava chovendo.

O motorista estava sentado mais acima e mais para trás. Robby não gostava muito da idéia de ter alguém ali perto ouvindo a conversa deles. Por isso, não disse nenhuma palavra até eles descerem do táxi em Mayfair e caminharem até a casa de Terry.

- A casa é esta?- Perguntou Robby. Como muitas outras regiões de Londres, esta contava com um pequeno jardim no meio das casas, onde podiam se esconder atrás dos arbustos para observar tudo. As casas eram maiores e mais importantes que as do Salazar. Ali, todos eram mansões monumentais, com jardins vastos, mas separadas por corredores estreitos. Os jardins, na parte de trás, eram cercados por muros altos. Na frente, as portas davam direto para a rua.

Três linhas de grandes janelas envidraçadas davam para a rua e, no telhado, janelinhas de porão completo o quadro. A frente da casa era dominada por uma vasta varanda cheia de pilastras.

- Sim, é esta- Confirmou Miguel.- Rosa e eu já estivemos aqui várias vezes.

- Não sabemos se o Terry está ai, Miguel- Lembrou Rosa.- Com o corpo de Terry, Camazotz pode ir a qualquer lugar.

- É verdade. Mas ele provavelmente prefere passar o dia dormindo e esse é um lugar perfeito para o descanso dele.

- Que horas são?- Quis saber Robby.

Miguel conferiu o relógio de bolso.

- Quatro horas- Respondeu.- Ainda teremos bastante sol.

- E Terry e os vampiros dele não suportam a luz do sol, não é?- Perguntou Robby nervoso.

- Acho que apenas a luz direta do sol os machuca- Explicou Miguel.- No México, Terry e os morcegos pareciam suportar bem a luz normal do dia, mas não os raios de sol. E era à noite que eles ficavam mais... Ativos- Completou ele, ficando arrepiado com essa lembrança.

- Então, enquanto for dia, vamos torcer para que Terry e os vampiros que estiverem aí dentro com ele estejam sorrindo profundamente- Disse Rosa.

- Bom, mas alguém está acordado. Olhem- Murmurou Robby apontando para a casa.

A porta da frente tinha se aberto, fazendo um ruído. Houve uma pausa, depois uma jovem usando um uniforme de camareira e um avental saiu. Ela olhou para os dois lados, fechou a porta com cuidado e desceu os degraus na ponta dos pés, direto para a luz do sol. Assim que chegou à rua, saiu correndo.

- Bem, ela ainda é humana- Murmurou Miguel ao perceber que a luz do sol não tinha ferido a camareira. Ele voltou a olhar para a casa.

- Esperem aqui- Disse Rosa, disparando atrás da camareira. Os garotos se olharam surpresos e decidiram segui-la.

Quando alcançaram Rosa, a garota já estava falando com a camareira. Ele era jovem, provavelmente apenas dois ou três anos mais velha que Rosa.

- ...Acordados a noite toda- Dizia ela para Rosa- E... Dormindo durante o dia. Não vi o patrão desde que ele voltou, só aquele mordomo estranho, o sr. Barnes, que fica me obrigando a fazer tudo sozinha porque todos os outros empregados foram embora...

- Que estranho. Achei o mordomo de Terry fosse o sr. Myers- Comentou Rosa.

- Ele se aposentou logo depois da expedição- Explicou Miguel.- Conheci o sr. Barnes. Parecia ser um homem gentil. Então, Terry está mesmo em casa?- Perguntou Miguel a camareira desejoso de uma confirmação.- Ele voltou?

Ela olhou para ele de modo estranho.

- Há uma semana, senhor. E, desde que voltou, os outros empregados começaram a sair, ou melhor, desaparecer. Nem se despedem, o que achei muito estranho. Simplesmente não estão mais lá na manhã seguinte. É tudo muito estranho e, para ser sincera, senhorita, não gosto nem um pouquinho disso aí- Disse ela, voltando-se para Rosa.- Quando cheguei para trabalhar hoje de manhã, só tinha eu na casa! O sr. Barnes e eu! E você está certo, ele era muito gentil, mas agora é frio e grosseiro, e me assusta, porque chega de repente, sem fazer barulho... Parece que está tentando me pegar fazendo alguma coisa errada. E aí, hoje, ele chega e me diz que estavam me chamando no porão. Só que não permitem mais que nenhum empregado entre no porão. Aí fiquei pensando se os outros empregados também não foram "chamados no porão"! E não quis tentar a sorte. Está casa costumava ser feliz, mas agora é um lugar horrível e eu sai correndo assim que pude.

- Parece mesmo terrível- Concordou Rosa.- Será que eu poderia pegar emprestados sua touca... Hum... E seu avental?

- Perdão, senhorita?- Perguntou a mulher surpresa.

- Sua touca e seu avental?- Repetiu Rosa.- Por favor?- Ela mexeu na bolsa e pegou alguns centavos.- Veja, quero comprá-los de você. Não é muito, mas...

- Senhorita- Disse a mulher- Este é meu uniforme. Se eu vendê-lo, como vou conseguir outro emprego?

Rosa despejou todo o dinheiro que tinha na bolsa nas mãos da mulher.

- Sete Xelins e... 2 centavos. É tudo que tenho.

A camareira estava admirando a pequena fortuna. Com aquele dinheiro, poderia comprar uma touca e um avental novo e ainda se alimentar durante vários dias. Ela sorriu.

- É claro que pode ficar com ele, senhorita, são seus.- Ela entregou as peças para Rosa, pegou o dinheiro e saiu saltitante.

- Rosa- Perguntou Miguel baixinho- O que você está fazendo?

Rosa exibiu orgulhosamente o avental.

- Não pode ser tão difícil assim!- Disse ela.- Observo o trabalho das camareiras desde que nasci... Vou ocupar o lugar dessa menina!

Miguel levou um susto.

- Não!- Exclamou ele.- Não! É perigoso demais!

- E de que outra maneira você pretende entrar na casa?- Perguntou Rosa.- Ninguém repara nos empregados. Será o disfarce perfeito! Poderei andar por lá e encontrar os cadernos do papai.

- Mas...- Miguel falou. Será mais seguro se eu for no seu lugar.

- Você não pode- Retrucou Rosa calmamente.- Você conhece o mordomo. Sr. Barnes. Ele pode reconhecê-lo. E ele não deixaria Robby entrar na casa. Miguel, sou eu quem tenho que fazer isso.

Miguel soltou um suspiro de derrota e abraçou a irmã.

- Entre pela portas dos fundos- Disse ele.- Você sabe como a sra. Mills fica zangada quando as camareiras entram pela frente.

- É claro- Concordou ela, sorrindo e abraçando o irmão.- Voltem para os arbustos. Vou tentar não demorar.

E então, vestindo a touca e o avental, Rosa caminhou corajosamente até a casa.

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__LFG__

Despertar dos vampiros (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora