Robby deu a volta na casa dos Salazar até a parte de trás. Ele não bateu na porta da frente, porque, se batesse, provavelmente a sra. Mills atenderia.
A governanta tinha aceitado, ainda de que forma relutante, a história que Rosa sugeriu e que Miguel contou: Hector Salazar e John Kreese ainda estava no México e Miguel tinha voltado antes para a Inglaterra. Afinal, por que Miguel mentiria sobre uma coisa dessas? A notícia da chegada de um navio fantasma ao porto de Londres tinha aparecido em todos os jornais, mas ela não ligou uma coisa à outra. E quem ligaria? O porto de Londres era um dos mais movimentados do mundo, e navios chegavam e partiam o tempo todo. Qualquer um deles poderia ser o que trouxera Miguel.
A sra. Mills até tinha engolido a história de Miguel de que Hector havia escrito uma carta a ela explicando tudo e que ele a tinha perdido. Mas ela certamente não aceitaria um moleque de rua como Robby morando na casa deles. Nem mesmo a autoridade de Miguel poderia mudar algo a esse respeito.
Em vez disso, Robby escalava um cano e batia na janela de Miguel. Logo em seguida, Miguel aparecia e ajudava o amigo a entrar.
- Simplesmente caiu?- Perguntou Miguel mais tarde.
Os três estavam no escritório de Hector. Como o resto da casa, o cômodo era silencioso, pacífico e impecável. As paredes estavam cobertas de livros com capas de couro. Para Robby, parecia muito a livraria, só que mais limpa, com um grosso tapete vermelho e móveis polidos. Rosa estava à mesa de Hector, folheando o livro que Robby comprara. Cinco os seis livros na pequena biblioteca do pai estavam espalhadas ao redor dela. Miguel e Robby conversavam num canto da sala.
- Num minuto estava cambaleando, no outro, morto- Confirmou Robby.- Ele não é o primeiro. Ouvi histórias em vários lugares. Até o garoto que trabalha com o livreiro está assim.
Muito sério, Miguel pegou novamente a edição daquele dia do jornal no The Times.
- As páginas sociais estão cheias de avisos de eventos sendo cancelados. É como se a cidade estivesse com uma praga, mas não há praga. Ninguém quer sugerir um motivo para isso tudo, porque não há como explicar todos os corpos que estão sendo encontrados praticamente sem sangue. E tem mais uma coisa. Ouça isto- Ele ergueu a voz- Rosa? Rosa!
Rosa estava muito compenetrada na leitura. Com um dedo, acompanhava o texto do livro que Robby tinha comprado; com o outro fazia o mesmo em um livro retirado da estante atrás dela.
- Ouça- Repetiu Miguel. Ele abriu o jornal e leu um trecho da terceira página: - "O corpo de um homem desconhecido foi encontrado boiando no Tâmisa ontem, nas proximidades de Waterloo..."
- Não tem nada demais nisso- Comentou Robby.
Miguel o encarou e voltou a ler.
- "O coração do homem foi removido antes que ele fosse atirado no rio. Um médico afirmou que o esterno foi aberto de forma violenta, com um objeto pontiagudo."- Ele dobrou o jornal novamente e franziu a testa, olhando para os outros dois.- Parece familiar?
- Caramba!- Exclamou Robby.- Normalmente, quando os caras querem matar alguém, só batem a cabeça e jogam no rio. Não arrancam o coração...
Miguel e Rosa olharam para ele com uma expressão estranha.
- O que o Miguel quer dizer é que essa é a forma como os maias sacrificavam as pessoas, Robby- Disse ela gentilmente e Robby se sentiu um bobo.
- Ah... Então, vocês acham que foi o Terry, é isso?
- Bem, coisas assim nunca aconteceram por aqui, que eu saiba- Disse Miguel. Ele se voltou para a irmã.- E como vão as coisas, Rosa?
Rosa suspirou e olhou para as anotações que fizera.