Robby alcançou os amigos no corredor.
- Ainda não acabou!- Disse ele.- Acabo de ouvi-lo falando comigo. Ele não se foi para sempre.
O garoto se voltou na direção da porta. Robby insistiu, as palavras se enrolava na boca dele por causa da pressa em dizê-las.
- Não, não, vocês não estão entendendo. O ritual não deve ter funcionado direito. Camazotz vai voltar, mais cedo do que imaginamos. Eu ouvi a voz dele dentro da minha cabeça. E a estátua... Os olhos dela estavam vermelhos e...
- Acalme-se, Robby- Disse Rosa gentilmente.- Você deve eztar exausto. Vimos Camazotz desaparecer naquele abismo. Acho que ele não voltará.
- Mas...
- Rosa está certa, Robby- Garantiu Miguel.- Todos passamos por uma experiência terrível. Sua mente está pregando peças em você, só isso.
Robby suspirou. Ele queria acreditar que os amigos estavam certos, que o estresse tinha sido tão grande e que tinha imaginado aquela promessa do Deus vampiro. Mas, no fundo, sabia que não imaginara. Camazotz podia ter sumido, mas Robby tinha certeza de que não era o fim.
Ainda assim, percebeu que no momento não adiantaria tentar convencer os amigos a mudar de idéia. Ele balançou a cabeça e seguiu os dois até a rua.
Usando um casaco comprido e um chapéu puído, o professor Fernandez estava sentado a frente da casa. Ele se levantou quando os três desceram os degraus, tocou a aba do chapéu e os cumprimentou com um sorriso. Os óculos escorregaram até a ponta do nariz.
- Considerando que vocês estão saindo em plena luz do dia, e por conta própria, suponho que tenham conseguido!- Disse alegremente.
- Como o senhor sabia que estávamos aqui?- Perguntou Rosa.
- Minha cara, onde mais vocês poderiam estar?- Respondeu Freddy.- Pensaram que me deixaria fora da diversão, é?
- Professor- Começou Mihuel- Sinceramente, nós não...
Freddy agitou a mão para ele ficar em silêncio.
- Eu sei, eu sei, meu rapaz. Eu teria feito a mesma coisa no seu lugar- Ele colocou um braço ao redor dos ombros de Miguel e o outro ao redor dos ombros de Robby.- Estou imensamente orgulhoso de vocês.
- Miguel está ferido- Avisou Rosa.
Miguel olhou surpreso para a mão queimada. Por um momento, tinha esquecido. Mas a pele estava escurecida e havia feridas vermelhas nas palmas da mão dele.
- É? Minha nossa!- O professor tomou gentilmente o braço de Miguel e puxou para cima a manga do casaco do menino.- Você consegue mover os dedos?
Miguel conseguiu, apesar de sentir dor ao movê-los.
- Muito bom- Freddy tirou o lenço do bolso para fazer uma atadura.- Será preciso colocar um pouco de gelo nisso, limpar e fazer um curativo. É um ferimento nobre, jovem Salazar. Um ferimento muito nobre.
- Não sinto nobreza nenhuma, só dor- Murmurou Miguel.
- Bem, acho que é hora de vocês irem para casa, já que tudo isso acabou- Disse o professor.- Posso chamar um táxi?
Miguel e Rosa concordaram com entusiasmo, mas Robby ficou em silêncio. Ele estava pensando nos amigos, em tudo o que tinha passado juntos e em como ele se sentia- Quase- parte de uma família. Já quê "tudo isso" tinha acabado, como dissera o professor, ele estava imaginando que todo o resto tinha terminado. Era hora de ir para casa, de volta para o cais. Apesar de uma parte dele desejar rever oa antigos camaradas, ele sabia que outra parte não queria dizer adeus àquela nova família.
Robby suspirou e, quando olhou para a frente, viu que Rosa o estava observando.
Ela sorriu, colocou uma mão no braço dele e, quase como se soubesse o que o garoto estava pensando, disse:
- Você vem conosco, não é, Robby? Miguel e eu gostaríamos que Bedford Square fosse a casa de todos nós daqui por diante...
Robby a encarou com uma surpresa cheia de dúvida; ele tinha medo de acreditar nos próprios ouvidos. Mas Miguel se aproximou e deu um tapinha nas costas dele.
- Vamos, Robby- Disse Miguel.- Não será a mesma coisa sem você.
Robby sabia que Miguel estava sendo sincero e ficou emocionado demais para dizer qualquer coisa. Ele apenas concordou e sorriu para Rosa. O professor deu um tapinha no ombro do garoto e, em silêncio, foi até a rua chamar um táxi.
Uma carruagem logo chegou e os 4 embarcaram.
- Bedford Square, por favor- Disse Miguel. O táxi seguiu caminho, Miguel e Rosa começaram a contar para o professor tudo sobre a batalha contra Camazotz.
Quando terminaram de contar a história, Robby acrescentou o que tinha ouvido e visto antes de sair do porão.
- Um aviso temeroso, certamente, meu jovem amigo. Mas deve ser apenas coisa de uma imaginação muito ativa- Respondeu o professor alegremente enquanto um táxi parava diante da casa de Bedford Square.- Uma boa refeição e muito descanso é tudo que você precisa neste momento, creio eu.
E assim foi.
Robby desceu do táxi, sem estar convencido de que as palavras de Camazotz tinham sido fruto da imaginação dele. Por outro lado, tinha que reconhecer que estava cansado e ansioso. Talvez o professor e seus amigos estivessem certos. Ele esperava que sim.
- Venha, Robby!- Chamou Rosa.
Ele piscou e percebeu que tinha estado perdido em pensamentos. Os outros o esperavam no alto das escadas que levavam até a casa. Miguel sorriu para Robby, que decidiu deixar a preocupação com as palavras de Camazotz de lado. Ele sorriu para o amigo e correu até sua nova casa.
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