Não sabia como, mas a família de Arthur me forneceu um atestado para o trabalho e como minha mãe não estava em casa no momento do meu 'sequestro', nem soube que sumi.
Quando entrei pelo portão de casa levei um susto quando um homem mexia na fechadura da porta.
— Ei! O que está fazendo?!
Ele se virou e o reconheci como uma das pessoas que estavam na casa do Arthur. Sorriu solene e apontou orgulhoso pelo ombro.
— Arrumei sua porta, está novinha de novo — ele tinha o semblante parecido com Arthur, os olhos eram idênticos, azuis profundos. — aliás roubei uma lata de água tónica da sua geladeira, espero que não se importe.
— Quem é você?
— Caio. Irmão do Arthur. Fui designado para arrumar sua porta.
— Pensei que Arthur faria isso.
— Ele vai pagar as dobradiças e o meu serviço braçal, claro. Mas nosso pai não deixou ele vir comigo. Vamos dizer que está envolvido demais nisso já.
— Nisso o que? — me aproximei já mais relaxado e verifiquei a porta, fechava e abria normalmente, rangia menos também — no fato de vocês me contaminarem com sangue de lobisomem?
— Contaminar? Que palavra feia, eu diria presentear.
— Um presente que não pedi
— Muitos matariam por isso.
— Que seja.
— Você vai ver. — um silêncio estranho ficou no ar.
— Não sei se quero pagar pra ver.
Caio cruzou os braços e se apoiou na parede, era maior que Arthur e de cabelo mais curto.
— Você vai ver. É estranho no começo, mas vai gostar sim.
— Já é estranho, e bem dolorido.
— Pois é, tem isso também — seu sorriso era de diversão enquanto pegava suas ferramentas do chão. — mas vale o esforço.
— Tanto faz, de qualquer forma vão tirar de mim.
— O que?! — a chave de fenda tilintou no chão quando se levantou me olhando nos olhos — ta brincando né?
— Não estou, tenho minha família para proteger, e até onde sei lobisomens não são famosos por sua segurança — falar isso em voz alta soou tosco e infantil.
Caio esfregou a mão no rosto.
— Você não sabe nada sobre lobisomens.
— A espera, você quer que eu fique agradecido?
— Eu ficaria.
— Então obrigado a todos por me infectar, quebrar minha porta e me deixar agonizando no chão.
— Não foi bem assim. Papai disse que te explicaria.
— Ele explicou e após isso disse que tem reversão. Será revertido.
— Nossa, ok. A escolha é sua. — revirou os olhos e pegou o resto das suas ferramentas e foi em direção ao portão, mas antes de sair virou e disse:
— É um prazer te conhecer Alvaro, apesar da sua primeira impressão não ter sido tão agradável já que acordou a casa toda. Mas a gente vai se dar bem. — sua voz foi calma e educada — e quem diria em? Além do Leo, agora temos mais um lobinho para ensinar. Muito foda!
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O Lobo e o Peixeiro
Hombres LoboÁlvaro é sulista de Santa Catarina, universitário de Filosofia com uma vida tranquila. Porém tudo muda quando em certa ocasião presencia uma criatura matar um colega de faculdade durante um passeio na mata. Por pouco escapa com vida e todos dizem qu...