Ao abrir os olhos, uma luz ofuscante me cegou. Pisquei várias vezes, tentando me ajustar ao ambiente. Conforme minha visão se estabilizou, percebi que estava deitado em uma cama de hospital, cercado por paredes brancas e equipamentos médicos.
Confuso e com a cabeça latejando de dor, tentei me lembrar do que havia acontecido. Fragmentos de memórias surgiram em minha mente: a sensação de pânico, os galhos verdes flutuando em frente ao céu começando a estrelar, e uma criatura desconhecida emergindo das sombras. Eu tinha certeza de que algo terrível havia acontecido, algo que não encontrava sentido, não conseguia encontrar sentido em nada.
Minha mãe estava sentada ao meu lado, segurando minha mão com uma expressão preocupada no rosto. Seu olhar transmitia um misto de alívio e tristeza. Quando ela percebeu que eu estava acordado, seus olhos se encheram de lágrimas.
- Meu querido, como se sente? - Ela sussurrou com voz trêmula. - Você nos assustou tanto...
- Mãe, o que aconteceu? Por que estou aqui? - Perguntei, lutando para encontrar respostas em sua expressão angustiada. Eu não me lembrava de como sai daquela mata, nem de como cheguei ao hospital.
Ela respirou fundo antes de responder, escolhendo cuidadosamente as palavras. - Você e seu amigo, Fábio, estavam fazendo aquela trilha no Pico da Pedra quando houve um acidente. Vocês caíram de uma altura considerável, e você bateu a cabeça. Infelizmente, Fábio não sobreviveu...
Não conseguia acreditar no que estava ouvindo, Fábio não caiu, ele foi atacado, por uma coisa, algo que não sabia nomear. Onde nos encontrávamos nem era tão alto assim para que pudéssemos cair a ponto de morrer. Minha cabeça ficou pesada, estava tonto. Fábio morto! Eu nem o conhecia direito, mas senti uma profunda tristeza, poderia ter sido eu. Minha mente estava repleta de imagens borradas e aterrorizantes da criatura que nos atacou. Eu tinha visto o corpo de Fábio, tinha visto aquele monstro horrível sem rosto.
- Mãe, não foi um acidente. Havia algo lá em cima, algo... estranho - murmurei, lutando para controlar a emoção em minha voz. - Eu vi Fábio, ele foi atacado por uma criatura, algo sem rosto.
Ela me olhou com uma mistura de preocupação e incredulidade.
- Meu querido, você bateu a cabeça com força. É comum que as coisas pareçam confusas. Você precisa descansar e se recuperar. Os médicos disseram que sua memória pode estar instável.
As palavras dela ecoavam em meus ouvidos, mas eu sabia a verdade. Eu não estava confuso. Minha mente estava lenta, relembrando os momentos horríveis que havia vivido. As imagens eram borradas, mas ainda eram frescas.
- Quanto tempo eu dormi?
A pergunta pareceu acalmá-la um pouco.
- Você está aqui desde ontem, hoje é sábado - Consultou seu relógio de pulso - São 14:00h agora, logo trarão seu almoço novamente, na primeira vez você ainda estava dormindo. Meu querido, você acordou e dormiu algumas vezes, sempre falando coisas desconexas, o médico falou que é normal, descanse.
Cansado demais para convencê-la, fechei os olhos por um momento, me sentindo frustrado e isolado em minha própria verdade. Refleti por alguns instantes, e se fosse verdade? Se eu apenas bati a cabeça e imaginei coisas? A criatura sem rosto pairou pelos meus pensamentos, foi difícil me convencer que havia imaginado aquilo. Mas eu deveria acreditar até que se tornasse real, como algo palpável. Um fato a ser encarado e superado. Uma tragédia.
Os olhos amarelos flutuavam agora em minha mente. Tão reais como o ar que respirava. Mas não poderiam ser.
Quando abri os olhos novamente, minha mãe ainda estava ao meu lado, segurando minha mão com carinho. Ela queria acreditar que eu estava seguro, que a história que contaram era suficiente para explicar o que aconteceu. Ela tinha armas para refutar tudo que eu dissesse, resolvi não tocar mais no assunto por enquanto.
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O Lobo e o Peixeiro
WilkołakiÁlvaro é sulista de Santa Catarina, universitário de Filosofia com uma vida tranquila. Porém tudo muda quando em certa ocasião presencia uma criatura matar um colega de faculdade durante um passeio na mata. Por pouco escapa com vida e todos dizem qu...