19 - Amigos da igreja

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A casa estava em silêncio profundo, todos entregues ao sono.

Com um aceno de mão, a porta principal abriu sem resistência. Nenhuma proteção presente.

Um cão surgiu do corredor, sua pelagem branca como a neve ouriçada para mim, dentes à mostra. Um sorriso se formou em meus lábios, e o animal se curvou ao chão, um ganido abafado ecoou.

Retratos de uma família feliz adornavam a estante da sala. Rostos banhados pelo sol, sorrisos congelados no tempo.

Passei pelo cão e meus dedos roçaram sua pelagem. A porta lilás clamava por mim; lá dentro, encontraria o que buscava.

Um ranger agudo preencheu o ar e a porta se abriu. O aroma da juventude fez minha boca salivar.

Sobre a cama, a menininha dormia tranquilamente. Seus cobertores de unicórnios caíram ao chão quando os deslizei delicadamente para fora.

Doce menina em seu pijama rosado, hoje serás minha.

Meus dedos flutuaram sobre seu rosto antes de se fecharem sobre sua boca.

Silêncio.

Seus olhos se arregalaram. Tarde demais doce criança.

Doce durmo, feroz me levanto.

Fio de fumo.


Acordei suando, minhas mãos doíam, segurava firme a coberta. Quando estiquei os dedos percebi que haviam garras no lugar de unhas. Afiadas e opacas.

— Filho? — ouvi minha mãe abrir a porta e escondi as mãos. — tudo bem? O que houve? Você estava gritando.

— Acho que tive um pesadelo mãe, só isso. — limpei o suor da testa — Foi horrível, mas não lembro o que era.

— Meu Deus menino, quer me matar do coração? Pensei que estavam invadindo a casa.

— Desculpa mãe. Já passou. Isso na sua mão é uma tesoura de costura?

— Foi a primeira coisa que vi pela frente. Meu menininho estava gritando no meio da noite, o que quer que eu fizesse?

— Jesus Cristo, a senhora não existe. Vou tentar dormir mais um pouco. Desculpa se te preocupei.

— Bobagem, acontece. Vou fazer um chá pra nós.

Dez minutos depois minha mãe voltou com xícaras fumegantes, só peguei a bebida de suas mãos depois de ter certeza que as garras haviam sumido.

Andando pela faculdade me senti muito bem disposto apesar de ter dormido mal. O trabalho havia sido bem puxado durante o dia, mas foi só escurecer que me senti bem. Seria algo de lobo? Fiz anotação mental para perguntar a família Krausemann quando possível.

Lizz me esperava na praça de alimentação com Rodrigo, ambos com livros e cadernos abertos. Me sentei e Rodrigo me ofereceu um copo de café da sua garrafa.

Colocamos a conversa em dia, Rodrigo me disse que seu TCC foi corrigido e que seu orientador era um carrasco. Isso fez meu estômago gelar, havia esquecido completamente do meu projeto e não fazia ideia do que fazer com ele. O prazo não estava tão distante assim como pensava.

Lizz falou de Karine, haviam voltado a conversar, mas sem romance. Lizz tinha desconfianças, e eu a apoiava em manter um pé atrás.

Faltava pouco para dar o horário da aula quando vi Arthur e Vitória entrando na praça, ambos sorriram quando meu coração acelerou. Caminharam até a nossa mesa e recebi um olhar de indagação de Lizz.

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⏰ Última atualização: Mar 10 ⏰

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O Lobo e o PeixeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora