O futuro da Trupe Mascarada

29 5 5
                                    


  Nilou queria bater sua cabeça na parede até esquecer da idiotice que tinha feito!

  Por mais que ela tivesse certeza que o general não conseguiria reconhecê-la na vida real, ela deveria ter insistido para que a noite do banquete fosse a última dos dois. Mas não, ela quis prorrogar essa ilusão mais um pouquinho, e marcar mais um encontro! Agora Cyno deveria estar empenhado em vigiar todos na capital, o que colocava em risco todos os seus companheiros da trupe.

  Quantos de seus camaradas da trupe poderiam ser presos por sua ilusão amorosa?

  Quer dizer, nem amorosa poderia ser porque nem ela conhecia o general de verdade, nem ele a ela. Essa, de longe, foi a situação mais ridícula em que se meteu em sua vida, e isso que ela uma vez tentou fazer o teste para entrar na Akademya no Darshan Vahumana para tentar estudar todas as variações da lenda da Deusa das Flores. 

  Cultura oral era uma coisa que sempre a fascinou, principalmente o fato dos contadores de histórias apresentarem as mesmas lendas mas de maneiras diferentes, entretanto sempre reconhecíveis. Personagens sumiam, apareciam, eram divididos em dois outros personagens e, às vezes dois personagens diferentes viravam um só.

   Cada um que conta uma história, a modifica de sua maneira, imprimindo seus gostos na maneira como a contavam. Uns focavam mais nas cenas de ação, outros nos romances, outros em descrever um mundo imaginário como as miragens do deserto - ou o momento de glória das cidades do deserto- outros focavam nas virtudes dos personagens ou seus defeitos. Haviam até aqueles que se focavam em que palavras usar para contar uma história mais do que no próprio conteúdo dela.

  Isso era fantástico!

  ... mas ninguém mais parecia se importar.

  Lembrar de sua carreira que morreu antes mesmo de nascer, a fez se sentir ainda mais angustiada. Ela vivia incentivando seus camaradas da trupe a não desistir, que a liberação das artes estava perto, que era só aguentar mais um pouquinho, mas a verdade era que ela estava cansada.

   Via viajantes falando sobre a Corte de Fontaine, sobre o valor da Ópera Epiclese, de como a Arconte Hydro valorizava o teatro, as histórias, a dança, e todo o tipo de arte, e pensava consigo mesma se não era melhor ela abandonar essa terra inóspita que era Sumeru, em busca das água férteis de Fontaine. 

  O que a segurava ali era sua promessa a seus camaradas, que estaria com ele até o fim.

  Poucos dias depois da apresentação no Alcansaray, a trupe se reuniu em seu local habitual, numa noite mais iluminada do que Nilou gostaria. Ela vivia insistindo para eles se reunirem apenas durante a lua nova, quando não contaria com a luz de seu satélite mais brilhante, e a Matra tivesse mais dificuldade de seguir os rastros deles. Mas mesmo com os protestos habituais dela, o Administrador marcou a reunião para aquele dia, e deixou subentendido que o assunto era importante.

  No meio de uma clareira perto de algumas ruínas antigas, estava a trupe inteira reunida, esperando que o administrador aparecesse para dar seu recado. Os minutos se transformaram em uma hora de atraso, deixando todos meio nervosos e propensos a se dispersarem para evitarem serem pegos pela Matra. Então, quando Nilou estava se levantando de seu lugar para dar a ordem de dispersão, apareceu o Administrador, saindo do meio da mata.

  - Bom, fico feliz que vocês já estavam sumindo, treinei vocês bem. Mesmo que eu me vá, a trupe continuará, assim como aconteceu quando meu pai morreu, e o antecessor dele também.

  Nilou sentiu sua respiração falhar, de onde é que vinha esse papo mórbido? A trupe era um lugar alegre, mesmo com a perseguição que sofriam a todo momento.

Mascarada e MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora