O maravilhoso teatro do Bey

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  Pela primeira vez desde que se juntou a trupe mascarada, Nilou ia para uma reunião de má vontade, e não era só porque isso a faria perder uma noite preciosa com seu general, não, ela não queria ver nada que tivesse relação com o cartel do Bey, mesmo que fosse um teatro de verdade para que pudesse dançar. Respirou fundo e se lembrou que a Arconte esperava que cada um atuasse em seu devido papel, e o dela era o da grande diva da trupe.

A noite estava escura, mas nem por isso a vida na floresta parava. Os fungae continuavam a flutuar pelo ar brincando entre eles, os crocodilos nadavam pelo rio com seus olhos cintilantes, os núcleos de cristais pousavam nos galhos das árvores, as corujas batiam asas e soltavam seus piados, cupins e formigas não paravam seus trabalhos por falta de sol, e flores noturnas desabrocharam  compartilhando com o mundo seus aromas secretos.

Nilou costuma apreciar o espetáculo noturno enquanto caminhava para suas reuniões clandestinas, mas naquela noite só se focou em chegar lá o mais rápido possível.

  - Que erro nós estamos cometendo...

Sua concentração deu frutos a fazendo ser a primeira a chegar, o que não deixava de ser um tormento por si só, haja visto que teria seus pensamentos negativos para assombrá-la. Numa tentativa de limpar sua mente, começou sua rotina de treinamento, e logo seu corpo em movimento se integrou ao ritmo do espetáculo noturno, a fazendo se esquecer de si. Só parou quando ouviu uma salva de palavras vindas dos arredores.

  - Nossa diva já está se preparando para a nossa estreia.

 Era o administrador todo animado, atrás dele estavam praticamente todos da trupe. Nilou se sentiu um pouco envergonhada por ter sido pega no flagra enquanto treinava, pois estava acostumava a fazer isso escondida. Além do mais, era um pouco preocupante ela ter ficado tão concentrada que nem ouviu uma multidão chegando...

  - Bom eu.. é...

  - Fique tranquila, todos aqui entendemos a sua animação e a compartilhamos. Só peço para que economize sua energia porque hoje temos uma bela distância para andar.

  - Certo.

O Administrador ocupou o lugar de Nilou no meio da clareira para dar as instruções para a trupe. Mesmo com a iluminação precária de uma lanterna com fragmentos de pedra Pyro, era nítida a animação dele.

  - Atenção me sigam o mais silenciosamente que puderem, e não deem bobeira na floresta, porque se perder dos seus camaradas pode ser a sua morte.

 Por mais que todos soubessem essa verdade tão básica, mencionar mortes nunca era agradável, e sempre causava um clima esquisito e bem desconfortável. Todos na trupe assentiram com a cabeça e começaram a se organizar para a partida. Mas a mensagem do Administrador ainda não tinha acabado, ele parecia ter esperado todos começarem a se mover de propósito, para que sua ultima mensagem tivesse mais impacto.  Então falou com uma voz  travessa:

  - Calma lá seus apressados! Quando chegarmos no teatro teremos uma surpresa.

 Um dos músicos aranaras não conseguiu se controlar perguntando.

  - Que surpresa?

  - Ora, não seria surpresa se eu contasse.

 Essa troca tão simples de palavras tão comuns, foi o bastante para restaurar o ânimo das pessoas, as quais passaram o caminho inteiro sussurrando entre amigos enquanto tentavam adivinhar qual seria a surpresa. Até mesmo alguém que estava tão preocupada com tudo, como Nilou, não ficou imune e também entrou na brincadeira.

 Assim, entretidos nessa atividade, a trupe andou por caminhos tortuosos dentro da floresta até chegarem num porto improvisado num dos muito rios da nação, lá os aguardavam 4 barcos - e seus respectivos barqueiros- e continuaram o trajeto rio acima até chegarem num vale com um robô gigante caído. O barulho da correnteza produziu uma sensação de tranquilidade na dançarina, a fazendo relaxar um pouco e voltar a ter condições de apreciar o cenário. O vento fazia as árvores balançarem juntas como se estivem dançando.

Mascarada e MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora