O retorno dos que não foram

19 4 8
                                    


  Cyno estava morrendo de vergonha, mais uma vez se tornou o centro da atenção pública por estar envolvido num escândalo, o que seus pais diriam sobre isso? Se bem que isso ele nem precisaria especular muito, pois logo a fofoca chegaria até a vila Aaru e de lá para sua família inteira, aí seriam cartas e mais cartas com censuras, as quais ele teria que responder de maneira respeitável e de acordo com a posição que cada parente furioso ocupava na hierarquia do culto ao rei Deshet.

 Seu comportamento não foi digno do espírito do lobo!

 Tomava um gole de arak na taverna enquanto pensava nisso, já Dehya não parava de falar de seu relacionamento moderno e como foi difícil chegar até o equilíbrio perfeito em que estava hoje. Não é que ele não a estava ouvindo, mas seus pensamentos interrompiam sua concentração na conversa.

  - E é assim!!!

  - Então... ta.

  - Você ainda não me parece convencido, talvez eu deva repetir tudo desde o começo?

  - NÃO, NÃO, eu aceito essa loucura, afinal, Candice é a principal envolvida e ela aceitou.

  - Ahhhhh, então beleza, mas vamos falar de você. Nunca te vi tirar uma licença antes, o que está rolando?

 Assustado, ele olhou - com o canto dos olhos- para os arredores, ficando aliviado de perceber que estavam sentados na mesa mais isolada da taberna, com apenas um pequeno incômodo de estarem perto da latrina, e as vezes um cheiro esquisito exalar de lá.

  - Ei, eu tiro licenças! Não vou todo ano para a vila Aaru?

  - Para checar se o seu dinheiro realmente está indo para o funcionamento da vila, e para o auxílio de outros dos nossos irmãos de fé. Nunca te vi ficar à toa! Finalmente sua carga de trabalho te quebrou? Eu vi que deslocaram a maior parte da matra para o deserto em busca do Bey, isso deve ter diminuído seu contingente para manter a cidade segura, e se eu bem te conheço, você se colocou na escala.

  - Bom, de fato eu fiz isso...

 Com a evolução do assunto, Dehya pediu mais uma bebida, tirou seu espelho do bolso, e fingiu checar sua maquiagem para ver pelo reflexo se alguém estava de olho neles. Não percebendo a existência de algum espião, tomou um gole da nova bebida, e se arriscou a dar a sua - sempre - sincera opinião sobre a vida do amigo.

  - Você tem que encarar o Grande Sábio, ele não pode pintar e bordar com a segurança pública. O general Mahamatatra é você, não ele.

  - Olha, no momento eu não estou podendo falar nem um " a" para ele... não depois daquilo...

  - Pera, pera, pera, você está me dizendo que o boato louco de uma mulher belíssima te defender do Azar, é verdadeiro? E quem é essa mulher misteriosa? Ela é bonita assim mesmo? Você está namorando?

  - Calma, são perguntas demais.

  - Pelo amor do rei Deshret, não me mantenha no suspense nem um segundo mais.

  - Tá, ela é a minha namorada, e para mim a pessoa mais honrada, justa, compassiva, leal, bem humorada, inteligente, e boa que eu já vi.

  - Ihhhh, vi que o mosquitinho do amor picou bonito, mas fico feliz, sempre temi que com suas piadas sem graça, você acabasse como um solteirão. E qual é o nome dessa alma evoluída que te namora?

 Cyno se sentiu levemente insultado pela mercenária, mas ela tinha um ponto, ele não era de perto o homem mais popular em Sumeru, em todos os aspectos possíveis para essa frase, inclusive o amoroso. Ainda era como um sonho Nilou corresponder seu afeto, sorrir para ele, buscar a companhia dele, e na noite anterior - um pouco antes deles caírem no sono após as delícias carnais- ela até riu de uma piada que ele fez.

Mascarada e MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora