A fúria contida do general

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 Cyno não podia acreditar no que estava acontecendo, ele nunca tinha sido humilhado de tal maneira em toda sua vida, e isso que ele - mesmo sendo de uma família prestigiada- enfrentou muito preconceito na capital por ter nascido no deserto. Então para o Grande Sábio, ele deveria ser um escravo feliz em obedecer às ordens da Akademya, e com prontidão?

 Ele não teria direito a ter uma folga?

 A ter uma família?

 O espírito do lobo uivava raivoso em sua mente, fazendo coro a sua ira.

 Queria deixar o espírito sair e canalizar electro nele, para então bater em Azar até seus punhos doerem, mas sabia que não podia fazer isso. Sua vila dependia do dinheiro que ele enviava todo mês. Não podia colocar a sobrevivência de seu povo em jogo porque se sentia ofendido, o jeito era engolir esse sapo.

 Até porque a Arconte Dendro queria que ele continuasse a atuar em seu papel, enquanto ela e Alhaitham desvendaram os esquemas criminosos do Grande Sábio, e de todos que estavam se aproveitando da lei contra as artes para driblar a Matra, para fazerem seus experimentos proibidos.

 Mal podia esperar para prender Azar, faria questão de levá-lo para sua cela pessoalmente..

 E dar uns cascudos nele também.

 Talvez uns socos e pontapés também fossem necessários.

  - Então general, não vai falar nada.

 Ia responder que voltaria a trabalhar no dia seguinte quando ouviu Nilou falar.

  - O que ele faz na licença dele não é da sua conta, mesmo que você fosse o Arconte.

  - Quem você é para ousar me responder assim?

  - Uma cidadã de Sumeru! Você não é deus de Celéstia para ser adorado, dentro da sua área você tem autoridade nas questões de TRABALHO, mas na vida pessoal de qualquer cidadão deste país, sua autoridade é menor que a de um parente distante.

 As pessoas da rua já estavam olhando a cena inusitada, por nunca antes o general Mahamatra ter sido alvo de escândalos, mas agora eles tinham mais interesse na mulher que ousou desafiar o Grande Sábio, e colocar ele em seu devido lugar. Além de corajosa, a mulher que seguia o famoso general era linda, o que a ajudou a ganhar o coração do povo. Logo a cena foi discutida em todos os cantos da capital, e em questão de dias do país inteiro.

 Haviam pessoas que acharam a fala de Nilou um acinte?

  Sim.

 Mas o número de pessoas que queriam falar coisas piores para o Grande Sábio era muito maior, então, sem que Cyno ou a dançarina soubessem, ela se converteu numa heroína nacional.

 Azar bateu em retirada com uma expressão que misturava fúria com humilhação, enquanto o general olhava para a vendedora de tapetes sem saber o que pensar. Num primeiro momento ele ficou horrorizado por ela desafiar tão abertamente seu chefe, mas depois viu que ela falou o que ele não podia, e se sentiu vingado. Por fim, acabou temendo por ela, pois o Grande Sábio era um homem egocêntrico, que tinha por hábito se vingar de pessoas por qualquer coisa.

  - Nilou, você sabe o que você fez?

  - Estou plenamente consciente dos riscos que corri, mas não pude deixar de falar ao ouvir as palavras dele. Ninguém da Akademya tem o direito de julgar o que as pessoas fazem em seu tempo livre. O que raios você estar na rua comigo tem haver com a sua sobrecarga de trabalho? Nada. O que é isso? É contra a lei falar com pessoas? Ter amigos? Uma vida?

 Fazia muito tempo  desde que alguma pessoa se indignou por algo que aconteceu com ele, e o protegeu, afinal de contas, ele era a pessoa que protegia os outros, com seu cargo, e seu senso de justiça. Mais uma vez naquele dia, se sentiu grato por seu tom de pele não ser compatível com ficar corado, pois se fosse, todos da rua veriam o quanto ele estava com vergonha.

Mascarada e MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora