Mascarada e Misteriosa

Um palco para uma diva

  Em sua carreira como dançarina ilegal, defensora fiel das artes contra a opressão da lógica fria da Akademya, Nilou esteve em muitas situações em que seria presa, mas nenhuma delas chegava, nem perto, da que se encontrava agora:  estar no banquete do líder do maior cartel de Sumeru. Nada mais, nada menos do que o famoso  Bei. 

  Isso era ao mesmo tempo a coroa de sua carreira, e a maior cagada de sua vida. Se ela fosse pega naquela noite em meio a reunião de todos os traficantes de mercadorias ilícitas, sua pena seria no mínimo prisão perpétua.

  O coração dela batia descontrolado, seu corpo não parava de suar - arriscando assim estragar seu figurino feito de musselina branca com bordados em fio de ouro- suas pernas não tinham a firmeza de sempre, e seus olhos estavam lacrimejando. Seu estado de espírito era tal que nem conseguiu olhar como eram os cômodos do palácio, apenas se focando em andar o mais rápido possível para o camarim improvisado.

  Seu nervosismo passou quase desapercebido aos seus camaradas, sendo o único aspecto notado, o suor que estava escorrendo por sua nuca, o que era devidamente cuidado por uma das musicistas com uma máscara de jinn. Nilou estava se esforçando ao máximo para corresponder ao papel de Rainha das Flores que representava perante sua trupe: a segunda em comando que era confiante, atraia a Matra para que os outros escapassem, e claro, a melhor dançarina do grupo, aquela que era digna de ser chamada de diva.

  Se olhou no espelho para checar se seu figurino ainda estava perfeito, da exata maneira que a ajudante do Bei - uma garota simpática chamada Dori- tinha dito que seu chefe queria que ficasse. O vestido branco esvoaçante, e ao mesmo tempo revelador tanto pelas fendas nas duas pernas, como no decote ousado, e até  pelo tecido de musselina quase transparente.. Além disso, ela estava com braceletes, brincos, anéis, e uma espécie de diadema em formato de padishara, tudo feito de ouro maciço, retirados - de forma ilegal- das ruínas do deserto.

  Sua máscara característica foi substituída por outra com traços típicos do deserto, com o desenho da maquiagem com uma sombra dourada, e um delineado preto que contornava os olhos os alongando, e do outro lado fazendo um traço reto até quase chegar nas bochechas. Pelo que tinha pesquisado para o papel de Luoliper, essa maquiagem era chamada de : olhos da Ibis. Os livros da Akademya que estavam ao dispor do público leigo, não falavam nada sobre o uso de batom no reinado de Deshret, então a dançarina resolveu adicionar um toque seu no figurino, colocando uma tinta dourada nos lábios da máscara. Complementando o figurino, ela prendeu uma peruca de cabelos negros na máscara.

  A visão que o espelho refletia não era nada parecida com a verdadeira Nilou.

  Era uma jinn sedutora que destruiu um reino inteiro para se vingar por seu amor doce e puro, o qual foi traído por aquele que dizia amá-la. Ler a história de Louliper na situação em que se encontrava, a fez valorizar bastante essa peça de sabedoria ancestral que resistiu ao tempo. O que as pessoas só viam como uma história de loucura e crueldade, era, na verdade, uma lição para que as futuras gerações não confiassem cegamente no amor, pois o ser humano por melhor que fosse, ainda era capaz de enganar o ser amado para benefício próprio.

  - Uauuuu Rainha das Flores, você está divina! As deusas de Celestia devem estar morrendo de inveja de você.

  - Não diga isso Aranara roxa, você não sabe da lenda?

  - Vossa Majestade floral, não faço ideia do que você está falando.

  - Ora, da lenda da mortal que ousou se dizer mais bela do que Istaroth e foi punida por isso.

  - Eu realmente não conheço essa história.

  - É de um livro de peças dos antigos de Remuria, nós fizemos uma adaptação dela para dança quando eu entrei na trupe, a Rainha das Flores ainda era a minha mestra.