A calmaria

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  Primeiramente Cyno estava belíssimo com aquela roupa formal no estilo do deserto!

 Era um pensamento bem dos fúteis? Sim, mas Nilou não conseguiu evitar de pensar isso assim que o viu surgir da multidão para brigar com Dehya. Se sentiu um tiquinho culpada por ter reparado nisso mais do que na situação vexatória que sua amiga se encontrava, mas fazer o quê? Tinha acontecido. A mercenária era a namorada de sua amiga Dunyazard, e nunca havia sequer ouvido falar numa Candice, que aparentemente era alguém que o general não só conhecia como respeitava.

 Estava dividida entre pôr a mão no fogo para defender o caráter de sua amiga, que já sofria um milhão de preconceitos por ser uma mercenária, ou ficar chocada com a possibilidade de que ela traísse sua outra amiga Dunya. Olhou para a última com preocupação, pois ninguém encararia de boa saber que sua amada a estaria traindo. A outra não parecia chocada, então a preocupação da dançarina diminuiu.

 Certeza que isso não passava de um engano!

 Ao mesmo tempo que ela se acalmava, percebeu que uma pequena multidão se formava para ver o barraco. Como podia a nação da sabedoria, famosa pela carga de trabalho insana de seus acadêmicos, ter tempo o bastante para o povo ficar sendo voyeur de briga? Mas aparentemente para isso havia tempo de sobra, pois todos estavam olhando para lá muito atentamente. Nilou até viu alguém sair da aglomeração para comprar um gulab jamom, depois voltar para lá com o doce para comer enquanto apreciava o espetáculo.

 A dançarina amava espetáculos, mas não desse tipo!

 Dehya não só não se sentiu intimidada pela acusação de Cyno, como gargalhou com gosto, o que o irritou ainda mais. Nilou sabia que a mercenária era uma guerreira habilidosa, mas não sabia se era sábio irritar alguém com um poder como o do general Mahamatra.

  - Como você pode rir de algo tão sério Dehya? Candice vale tão pouco para você?

  - Ai Cyno, calma, você não está sabendo né?

  - Do quê? Vocês terminaram? Impossível, Candice teria escrito uma carta para me avisar algo tão importante na vida dela.

  - Nada disso meu caro general, eu, ela, e Dunya estamos experimentando a modernidade, em outras palavras somos um trisal.

  - Isso não existe, você não tem vergonha de mentir assim?

  - Como você é desatualizado hein Cyno? Totalmente normal três pessoas estarem num relacionamento, eu pego as duas, elas se pegam, e está tudo bem.

 A cara do general era do mais profundo horror! Para falar a verdade, nem Nilou havia ouvido falar sobre uma coisa desse tipo, Dehya era avançada... até demais! A multidão ficou em silêncio por um momento, e um dos gulab jamon do cara que estava apreciando a briga caiu no chão, quase como um efeito narrativo para aumentar o choque do que a mercenária havia dito.

 Caramba, que linha de raciocínio bizarramente abstrata ela se meteu! Parecia quase uma das estudantes da Akademya, era melhor ela parar de analisar a vida da mesma maneira que uma peça, ou outro artefato cultural, caso contrário ficaria doidinha que nem os acadêmicos.

 Cyno continuava olhando para a mercenária com as feições expressando o mais puro choque, junto com uma repulsa fruto de algum fundamento moral muito central para a vida dele. Dehya o olhava esperando que ele se recuperasse, seria por estar preocupada com ele? ... não, estava mais para uma estratégia de batalha, pois a outra vivia dizendo algo como " a chave da vitória, é deixar que seus inimigos façam seus movimentos primeiro". Então todos aguardam em silêncio ao que o general faria em seguida.

 Foi uma espera bem das torturantes.

 Nilou percebeu que ele tinha voltado ao normal, quando o viu retornar a sua expressão neutra de sempre.

Mascarada e MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora