S/n sempre foi uma garota incrível, sempre cheia de ótimo e entusiasmo. Eu não me lembro a última vez que vi S/n triste, nem mesmo quando ela recebeu o diagnóstico de uma doença terminal, nem o prognóstico trágico e inevitável foi capaz de tirar o brilho de seu rosto e a leveza de sua aura...

Desde pequena, eu sempre fui do tipo que se contentava com o ordinário. Nunca fui de sonhar alto ou desejar o inalcançável. Isso, até conhecer S/n. Ela entrou na minha vida como um furacão, bagunçando todas as minhas certezas e me fazendo questionar o porquê de eu nunca querer mais. Desde crianças, nossa amizade foi o tipo de constante que eu não sabia que precisava, até enfrentar a possibilidade de perdê-la.

Nossa história tomou um rumo completamente inesperado em uma tarde qualquer de outubro. Eu a visitei, como fazia frequentemente desde que ela foi diagnosticada. S/n lutava contra uma doença cruel, dessas que te roubam um pouco mais a cada dia, mas seu espírito permanecia indomável. Naquele dia, ela estava especialmente pensativa, seus olhos vagando além da janela do quarto que parecia ter se tornado seu mundo inteiro.

-- Você sabe, Ari -- ela começou, quebrando o silêncio que havia se instalado entre nós -- eu sempre quis viver um romance, algo bonito que poderia até mesmo ser tema de livros ou filmes...-- Ela falou com um brilho lindo em seu olhar, algo que transcendeu a palidez e o cansaço que seu corpo manifestava. -- Acho que seria tão lindo e... dramático, não acha?

Eu sorri, um tanto desconfortável com a sinceridade em sua voz. S/n sempre teve esse dom de sonhar acordada, de desejar o extraordinário em um mundo que frequentemente nos oferecia apenas o medíocre.

-- Seria incrível -- concordei, tentando imaginar como seria ser a protagonista de uma história dessas, ao invés de uma mera coadjuvante na minha própria vida.

Foi nesse momento, entre a luz suave que invadia o quarto e o sorriso esperançoso de S/n, que uma ideia louca começou a se formar em minha mente. E se eu pudesse dar isso a ela? Um romance digno de ser lembrado, uma história que ela poderia chamar de sua, mesmo que o destino insistisse em contar os nossos dias.

-- O que você diria se a gente tentasse viver esse romance?-- As palavras escaparam antes que eu pudesse ponderar as implicações. Era uma loucura, eu sabia. S/N e eu éramos amigas, melhores amigas, mas nada além disso. Além do mais, com o tempo sendo um luxo que não podíamos nos dar, embarcar em uma fantasia dessas parecia imprudente, para dizer o mínimo.

Mas então, eu vi. O sorriso que se abriu em seu rosto foi como um amanhecer, dissipando qualquer sombra de dúvida que pudesse existir em minha mente.

-- Eu diria que você está completamente maluca -- ela riu, a alegria contagiante em sua voz -- mas seria a coisa mais incrível que alguém já fez por mim.

E foi assim que tudo começou. Naquele momento, sem que eu realmente entendesse a magnitude do que estava por vir, eu me comprometi a dar a S/n um romance para chamar de seu. Eu não tinha ideia de como faria isso, nem o que isso significaria para nós. Eu só sabia que, pela primeira vez na vida, eu queria alcançar o inalcançável. E talvez, só talvez, eu também descobrisse o que significava viver verdadeiramente.

A decisão de criar uma história de amor para S/n, apesar de nascer de uma ideia espontânea e quase irracional, tornou-se um propósito para mim. Nos dias que se seguiram, eu me dediquei a planejar como poderia tornar realidade esse sonho. Eu queria mais do que apenas um gesto simbólico; desejava criar momentos que fossem tão vibrantes e inesquecíveis quanto a própria S/n.

Naquela manhã, eu sabia que ela teria que fazer mais uma bateria de exames. Sua mãe a levaria tão cedo que talvez nem mesmo os galos tivessem acorados. Eu me levantei cedinho para colocar meu plano em ação. Passei na melhor floricultura da região, comprei suas favoritas: tulipas lilás. Escrevi uma pequena carta e então comprei seu chocolate favorito.

As dez em ponto, eu estava no hospital. Perderia um dia de aula, porém, valeria apena no futuro.

-- posso entrar?-- pergunto parada no batente da porta

-- Ari! Você não deveria estar na escola?-- ela pergunta e eu dou de ombros

-- prefiro estar aqui, prometi que te daria um romance... -- respondo entrando no quarto, seu rosto, a pesar de um pouco pálido e cansado, se iluminou com um brilho lindo.

Ela me observou enquanto eu colocava as tulipas lilás em um vaso próximo à sua cama, e sua expressão se transformou em pura alegria quando viu a carta e o chocolate que eu havia deixado ao lado das flores.

-- Você realmente está levando isso a sério, não está? -- S/n perguntou com um sorriso que me fez esquecer, por um momento, a gravidade de sua situação.

-- Claro que estou -- respondi, sentando-me ao lado dela na cama. -- Cada dia é uma nova página da nossa história.

Ela abriu a carta, e eu pude ver seus olhos brilharem com as palavras que eu havia escrito. Palavras que falavam de esperança, de sonhos e da beleza que ela trouxe à minha vida. Ao terminar de ler, ela me olhou com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso que era tudo o que eu precisava para saber que estava no caminho certo.

-- Eu não sei como agradecer por tudo isso, Ari -- ela disse, segurando minha mão. -- Você está tornando os meus dias muito mais felizes.

Nós passamos o resto do dia juntas, falando sobre tudo e sobre nada, rindo e até mesmo chorando um pouco. Era um daqueles momentos raros e preciosos que você sabe que vai se lembrar para sempre, independente do que o futuro traga.

Ao final do dia, quando a luz do sol começou a desaparecer no horizonte, eu sabia que tinha feito a escolha certa. Dar a S/n este romance, viver cada momento ao máximo, era a minha maneira de lutar contra a impotência que a situação dela me fazia sentir. Era a minha maneira de mostrar a ela, e talvez a mim mesma, que mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, podemos encontrar beleza, amor e razões para sorrir.

Antes de ir embora, eu a abracei forte, prometendo voltar no dia seguinte com mais uma página da nossa história para vivermos juntas. Eu não sabia quantas páginas teríamos, mas estava determinada a fazer com que cada uma delas contasse. Naquele momento, eu percebi que, embora eu estivesse tentando dar a S/n um romance, ela estava me ensinando sobre a força, a coragem e a beleza de viver verdadeiramente cada momento. E por isso, eu seria eternamente grata.

My Eternal Sunshine (Ariana/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora