Sentada à beira da cama, observo S/n dormir tranquilamente, o aparelho de respiração emitindo um zumbido constante ao fundo. Cada suspiro dela, cada pequeno movimento, se torna algo precioso, uma memória que tento gravar eternamente em minha mente. O medo de perdê-la se entrelaça com a dor de saber que esse dia está chegando, um contraste doloroso com a paz do seu sono.

A verdade é que, na quietude desses momentos, percebo o quão perdida me sinto ante a iminência de sua partida. Não consigo imaginar meus dias sem a sua presença, sem seu sorriso que ilumina tudo ao redor, sem suas palavras que sempre encontram um jeito de me fazer sentir esperança, mesmo nos dias mais sombrios. S/n é, sem dúvida, a dona dos meus sorrisos mais sinceros e puros, a luz que guia meu caminho através da escuridão.

O pensamento de recomeçar, de seguir em frente sem ela ao meu lado, é uma realidade que meu coração se recusa a aceitar. Como vou lidar com o silêncio que sua ausência trará? Como meu coração, tão repleto do amor que sinto por ela, vai se curar da fissura que sua partida inevitavelmente causará? E os sorrisos... Como poderei sorrir novamente, sabendo que o motivo mais verdadeiro dos meus sorrisos não estará mais aqui para compartilhá-los comigo?

Cada momento ao lado de S/n se tornou uma tentativa desesperada de gravar cada detalhe na memória, de viver intensamente enquanto ainda podemos. Mas mesmo assim, a pergunta sobre como seguirei em frente sem ela permanece sem resposta, pairando sobre mim como uma nuvem carregada, pronta para desabar.

Entretanto, em meio à dor e à incerteza, uma coisa se torna clara: a importância de aproveitar cada segundo ao lado dela, de amar e ser amada de volta, de criar memórias que, espero, tragam algum conforto nos dias que virão. S/n me ensinou sobre força, sobre coragem, e sobre a beleza efêmera da vida. E talvez, de alguma forma, essa seja a chave para recomeçar - encontrar um propósito em honrar sua memória, em viver de uma maneira que faria S/n orgulhosa.

Por agora, tudo o que posso fazer é segurar sua mão, cantarolar nossa canção e prometer a mim mesma que, de alguma forma, encontrarei um caminho através da dor. Porque o amor que compartilhamos, apesar de destinado a um final trágico, é um amor que transforma, que inspira, que permanece. E é esse amor que, espero, me guiará para sorrir novamente, carregando sempre um pedaço de S/n comigo.

(...)

-- quero que você faça um discurso no meu funeral -- S/n fala derrepente

-- acho que não gostaria de falar sobre seu funeral agora... -- falo um pouco hesitante

-- sabemos que ele está chegando, precisaremos falar sobre ele em algum momento... E eu quero que faça um discurso. Quero algo bonito, melancólico e impactante...

A respiração de S/n, embora frágil, carregava um peso de determinação em suas palavras, um lembrete de sua força inabalável mesmo diante da adversidade mais cruel. Meu coração apertava com a ideia, cada palavra sobre o fim parecendo um golpe, mas entendia sua necessidade de enfrentar a realidade, de deixar tudo organizado, de alguma forma tentando nos preparar para o inevitável.

-- Eu... -- comecei, engolindo em seco, lutando contra a emoção que ameaçava transbordar. -- Eu faria qualquer coisa por você, você sabe disso. Mas falar sobre... isso... é difícil. Muito difícil.

S/n segurou minha mão, seu toque frágil, mas firme, como se tentasse transferir um pouco de sua coragem para mim. Eu podia ver nos seus olhos - aqueles olhos que sempre me fascinaram e guiaram - uma mistura de tranquilidade e tristeza. Ela estava se despedindo à sua maneira, garantindo que suas últimas vontades fossem conhecidas, respeitadas.

-- Eu sei que é difícil, Ariana, mas... -- ela fez uma pausa, buscando forças. -- Mas é importante para mim. Eu quero que as pessoas se lembrem, que sintam, que... entendam um pouco de tudo isso. De nós. E eu sei que você conseguirá transmitir isso como ninguém.

Respirei fundo, tentando reunir minha própria coragem, buscando palavras que pudessem, de alguma forma, atender ao seu pedido. Um discurso que pudesse encapsular tudo o que S/n significava para mim e para todos que tiveram a sorte de conhecê-la. Algo bonito, melancólico, impactante... exatamente como ela queria.

-- Tudo bem -- consenti, finalmente, uma promessa silenciosa de que faria jus à sua confiança em mim. -- Eu farei. Farei algo que... que te faça justiça, que fale sobre sua coragem, sua luz, sua luta... Sobre o amor que você espalhou por onde passou.

S/n sorriu, um daqueles sorrisos que sempre conseguiram iluminar os dias mais sombrios, e eu sabia que, independentemente do quão difícil fosse, eu encontraria a força necessária para honrar seu pedido. Porque, no final, era uma última forma de mostrar meu amor por ela, um amor que, apesar de destinado a enfrentar a maior das dores, permaneceria eterno, um farol na tempestade, guiando-me sempre.

My Eternal Sunshine (Ariana/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora