𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔 ; tsu'tey ✓

prólogo; sangue por sangue

    O suor escorria frio sob sua pele maltratada pelo tempo, terra, areia e barro estavam impregnados em sua pele como uma cola, como se pertencesse ali, mas não fazia parte dele, só parte de algo que ele fazia.
   Era noite e o sol escaldante já tinha sumido a tanto tempo do céu, porém o calor e a sensação da enorme bola de fogo queimando seu corpo ainda continuavam nele.
  Os banhos não eram permitidos naquele perímetro, eles nem tinham com o que se banhar, afinal, aquilo não era uma casa de repouso, aquela era a fronteira da guerra.
  Eles estavam na trincheira a tanto tempo que era possível esquecer o próprio nome em um local tão inóspito como aquele.

  Jovens entre seus 16 anos até adultos com seus quase 60 anos estavam espalhados pelo pequeno gazebo, alguns - como Dorian - tiveram a enorme sorte, ou o grande azar, de vir com a primeira remessa de soldados e ganhar camas decentes, outros dormiam em sacos de dormir espalhados pelo local e outros dormiam até no chão batido pela sola dos sapatos.
  Eles eram um monte de pontos verdes em um vasto deserto cheio de inimigos pronto para o ataque.

Era estranho pensar que a Terra tinha evoluído e morrido, e mesmo assim os seres humanos continuavam a lutar uns contra os outros de maneira rude e antiga.
  Na escola eles aprendem sobre a primeira e segunda guerra já na infância, na fase adolescente eles aprendiam sobre os animais extintos e o que levou eles à extinção.

Dorin não ficou surpreso com a resposta.
Humanos.
   A raça humana havia iniciado guerras, matado e jogado jovens em uma sarjeta. Eles haviam começado o apocalipse verde, sem árvores, sem água decente, o ar era terrível de respirar e mesmo assim eles evoluíram até ali, para se matarem uns aos outros.
  Era cômico pensar que tudo o que os humanos tocavam levavam a morte e desolação.

  Dorin não se lembra de ter visto um animal vivo que não seja por trás de uma tela de televisão comentando algo sobre os cientistas fazerem clones errados, algo que o fez se questionar ainda mais sobre os humanos.
Ele lembrava de ouvir histórias sobre um grande ecossistema no céu, anos luz dali, longe de toda dor e miséria, longe daquele mundo devastado pela guerra e pela fome.

  Pandora.
O planeta lunar achado a anos atrás pelos cientistas, o planeta não tinha somente o verde e azul, ele tinha todas as cores que um dia a terra teve, ele era vivo e gerava vida.
   Às vezes ele sonhava em como iria sair dali e ter seus sonhos construídos em outro lugar.

Afinal, ele nasceu na Terra, mas ele nunca se sentiu em casa ali.

   Dorian estava tão envolto em seus pensamentos que não viu quando seu amigo passou entre os outros soldados, alguns já dormindo, outros lendo cartas de casa e outros até conversando entre si. O homem se sentou na cama ao lado, uma toalha de rosto em seu ombro, a água era escassa, dada para poucos homens e usada com sabedoria, com um riso saindo de seus lábios o mesmo tirou a toalha de seu ombro e a jogou no amigo.
  Dorian levou um susto e pulou na cama, se sentando rapidamente ele encarou seu colega de batalhão e amigo de guerra.

-- Céus, Jake! _ exclamou. - Você me assustou pra caralho.

   Jake Sully sorriu, sua risada reverberou pelo local e ele se deitou em sua cama, os braços cruzados para trás da caneca e os seus olhos indo até o amigo que continuava sentado,a toalha em mãos e o rosto inexpressivo.

-- O que está em sua mente? _ Jake puxou o livro sagrado do baú entre as camas.

  Eis algo que Dorian não entendia.
Jake Sully era ateu, ele nunca acreditou em Deus ou qualquer ser celestial, mesmo assim ele ainda orava para voltar para casa, ele lutava para voltar a sua mãe doente e ao irmão gêmeo que nem mandava mensagem para ele a anos.
  A vida poderia ser confusa para alguns.

  Quando Jake não obteve respostas ele encarou seu amigo de canto, com um negar de cabeça ele se sentou e pôs o livro de lado.

-- Novamente cara? _ Jake se inclinou suavemente para encarar o amigo que tinha o rosto vidrado no chão. - Sabe que isso não é para nós. Somos soldados do governo.