cap.004; dançando no fogo

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A fumaça voou por sua face como uma nuvem cinza, o cheiro da nicotina rodeou todo o perímetro.

O som da noite era como música para os seus ouvidos machucados pelo tempo. Dorian estava sentado do lado de fora do complexo, as luzes noturnas estavam ligadas mostrando a vista escura da floresta. Era assustadoramente grande.
Um cigarro aceso estava entre os seus dedos, mas ele não fumava, ele havia parado a alguns anos atrás, ao contrário de Grace Augustine, essa que fumava do lado de dentro do complexo naquele exato momento, é como dizem: o melhor momento para um cigarro é quando a sua mente está barulhenta demais para você perceber.

– Amanhã é o dia. _ Dorian sussurrou para si mesmo. - Amanhã!

Amanhã ele iria mais uma vez ficar com o povo Na'vi, esses que estavam se familiarizando rapidamente ao homem, até mesmo Tsu'tey, jovem e arrisco, estava se aproximando profundamente de Dorian, eles tinham se grudado como ímãs, eles eram irmãos de coração agora, ao menos era o que Tsu'tey gostava de pensar.

Amanhã será um dia especial para os Na'vi.
Eles iriam fazer a grande caça, e depois iriam para o festival ritualístico dos Na'vi. Nem um humano, ou avatar, era permitido naquele santuário, mas, mesmo assim, eles aceitaram Dorian. Nem mesmo Grace tinha sido aceita totalmente ao povo, mesmo sendo chamada de mãe, ela ainda tinha muito o que aprender.

– Amanhã.

[...]

A manhã chegou tão rápido que Dorian quase desmaiou de emoção enquanto andava pelo local em busca de algo para se firmar, ele estava entrando no seu corpo Na'vi, em seu avatar, quando Grace o parou.

– Não me deixe de fora. _ Grace apontou para ele. - Quero saber de tudo mais tarde.

– Sim, senhora. _ concordou com um largo sorriso. - Vou deixar você atualizada.

O avatar de Dorian estava na escola, ele havia deixado ele dormir ali.
  Acordar em outro corpo ainda era confuso, era meio enjoativo, mas Dorian fazia isso parecer fácil quando se levantava em seus 2 metros de altura azul, com tranças e um receptor de Eywa, ou algo do tipo que ele ainda não tinha entendido direito.

-- Dorian? _ a voz calma e suave de Sylwanin soou pelo local.

Era como o som dos anjos, o sotaque forte da nativa era algo que fazia o coração de Dorian palpitar fortemente, passando por entre as paredes da escola ele encarou a nativa, essa que sorriu largamente para o homem.

-- Oi! _ acenou desajeitado, por algum motivo ele sempre ficava desajeitado ao redor do trio.

  Para Dorian, Tsu'tey, Neytiry e  Sylwanin eram os mais difíceis de agradar, eram adolescentes ao qual estavam crescendo para se tornarem pessoas do povo. Tsu'tey logo seria olo'kyetan do povo Omaticaya, já  Sylwanin seria sua esposa e próxima tsahik; enquanto Neytiri era a princesa deles. Já Dorian, bem, ele era só o Dorian... humano, sem graça, com um corpo sendo controlado, só Dorian.

-- Ele chegou? _ Tsu'tey apareceu na porta, um largo sorriso no rosto quando viu Dorian. - Vamos! Vamos caçar.

-- Claro, deixe-me só... tirar essas roupas. _ apontou para suas roupas ainda humanas.

  Em três meses ele conseguiu a amizade do povo Na'vi, ele conseguiu o respeito dos Na'vi como guerreiro forte e sábio, ele era o primeiro guerreiro que aparecia para eles, algo que fazia todos o respeitarem. Dorian era bom com arco e flecha, algo que ganhou a atenção de Tsu'tey, não só sua atenção, mas como sua devoção.
  Por ser, mentalmente, mais velho que todos os três jovens Na'vis, o mesmo tinha se tornado como um 'líder' espiritual para os mesmos.
   Sylwanin gostava da cultura terrestre, ela amava ouvir as histórias de Dorian.
Neytiri amava o modo como ele era curioso, e estava sempre perto dos artesanatos, ele era bom nisso.
 Já Tsu'tey gostava da guerra; ele amava ouvir como Dorian fora um guerreiro para o clã terrestre, como ele tinha ganhado cicatrizes na sua face humana - uma face desconhecida para o povo - e como ele usava qualquer tipo de arma - desde armas de fogo, até armas brancas, até pequenos arcos e flechas, e até mesmo lanças.

Os três amavam Dorian, e eles amarem Dorian fizeram o povo amar Dorian.
  Dorian era do povo, e o povo era Dorian.

[...]

  A caçada havia sido perfeita, Dorian tinha dado o último golpe na caça e feito o banquete.
Ah, o banquete!

  Música, dança e até mesmo rituais feitos pelos Na'vi.
Aquilo era um banquete aos olhos de Dorian, um baquete para seu aprendizado.

-- Venha! _ Tsu'tey puxou o amigo. - Nós pintamos o corpo para dança.

-- Pintamos? _ Dorian o encarou.

-- Eu pinto pra você. 

  Tsu'tey banhou a mão em uma tinta feita de plantas, era algo pastoso e branco, era gelado ao toque, algo que fez o corpo de Dorian se arrepiar ao pequeno toque dos dedos de Tsu'tey em sua pele. Ele foi pintado no rosto até o largo peito, Tsu'tey parecia bem a vontade enquanto fazia a pintura, já Dorian podia sentir aquele formigamento estranho no estomago quando seu antigo parceiro tocava seu corpo.

  Amor.

Essa seria uma boa palavra para aquilo.
Depois de tanto tempo juntos, depois de todos os dias de conversas fiadas, até mesmo caçadas falhas, Dorian podia dizer que estava se apaixonando por Tsu'tey, depois de tantas pessoas humanas no laboratório, ele fora se apegar justamente ao Na'vi persuasivo e acanhado.
  Dorian estava gostando de Tsu'tey mais do que amigos.

-- Agora nós dançamos. _ Tsu'tey o puxou para cima.

  Rosto ao rosto, porém Dorian tinha que olhar para baixo, seu avatar sendo mais alto que o Na'vi.
Oh! Aqueles lábios eram uma tentação, e quando ele sorriu? Céus e terras se moveram para ele não beija-lo ali mesmo.

-- Vamos dançar então! _ sorriu de volta.

    Eles dançaram, riram, conversaram, comeram.
Era uma enorme comemoração, e Dorian fazia parte dela naquele momento, ele fazia parte do povo Na'vi, mesmo não sendo um Na'vi.

[...]

-- Foi... mágico. _ Dorian sorriu.

-- Você viu onde fica? _ Quaritch apareceu na sala.

-- Não! _ mentiu. - Eles me vendaram para chegar lá.

-- Afinal ele não é um deles. _ Grace falou. - Muito bem, vamos todos dormir. Fez um bom trabalho soldado.

-- Obrigado, doutora.

𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔  ; tsu'tey ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora