O brilho dourado do sol nascia sobre as montanhas flutuantes de Pandora, lançando luz sobre as florestas e rios abaixo, enquanto uma suave brisa acariciava as folhas gigantescas. Os primeiros pássaros e criaturas da floresta começaram seu canto matinal, saudando o novo dia. Entre essas criaturas vivia At'ok, um jovem Na'vi de pele azul, mas com uma característica curiosa que o separava dos outros: ele tinha cinco dedos em cada mão.
At'ok, como era conhecido por seu povo, havia sido acolhido pela tribo dos Omaticaya há muitos ciclos. Embora parecesse ser como qualquer outro jovem Na'vi, havia algo em sua presença que o tornava especial. Ele não tinha lembranças claras de uma vida anterior, apenas fragmentos confusos de um tempo distante, cheio de máquinas estranhas e figuras metálicas. Ele se lembrava vagamente de um lugar que chamavam de "escola" e dos sons de uma língua que ele quase não entendia. As lembranças eram nebulosas, como sonhos que desaparecem assim que você acorda. At'ok não tinha certeza de quem ele era antes de despertar entre os Omaticaya, mas sabia que agora pertencia à floresta e ao seu povo.
Quando fora encontrado gravemente ferido, levado às árvores sagradas, Eywa havia respondido às preces de Tsu'tey e Neytiri. A grande mãe aceitou o estranho em seu seio, e ele renasceu como parte do clã. Os curandeiros, liderados por Mo'at, cuidaram de suas feridas, e as raízes sagradas das árvores o conectaram à vida de Pandora. Assim, o povo o chamou de At'ok, que significa "aquele que retorna" em seu idioma. Ele recebeu seu novo nome como um renascimento, uma chance de começar de novo.
Ao longo do tempo, At'ok aprendeu os costumes, a língua e os modos de viver dos Na'vi. Ele se tornou um excelente caçador e um guerreiro promissor. Mas, mesmo sendo aceito e amado pelo clã, algo nele permanecia diferente. O fato de ter cinco dedos nas mãos — em vez dos quatro típicos dos Na'vi — era notado, mas nunca questionado abertamente. O povo acreditava que essa característica singular era um sinal de sua conexão especial com Eywa. At'ok aceitava isso com humildade, mas, em seu coração, sempre sentia uma pontada de curiosidade sobre quem ele realmente era e de onde vinha.
Certa manhã, enquanto caçava nas profundezas da floresta ao lado de seus companheiros de clã, At'ok notou como seus dedos extras lhe davam uma leve vantagem. Ele podia segurar o arco com mais firmeza, e sua mira era mais precisa. Ele também escalava as árvores com mais facilidade do que os outros, seus dedos adicionais proporcionando uma aderência extra nas superfícies. Alguns de seus amigos, como Tar'ey e Za'ni, riam e faziam brincadeiras afetuosas sobre suas mãos "esquisitas", mas ele levava tudo numa boa. Ele sabia que não era desprezo, apenas afeto disfarçado de gozação.
— Ei, At'ok, você acha que Eywa lhe deu esses dedos a mais para segurar mais flechas? — provocava Tar'ey, rindo alto, enquanto escalavam uma árvore em busca de frutos para o café da manhã.
— Ou talvez para segurar você mesmo quando se desequilibra! — Za'ni acrescentava, piscando para ele com um sorriso travesso.
At'ok apenas sorria, balançando a cabeça. Era verdade que seus dedos extras eram incomuns, mas ele nunca questionava a Mãe, pois tinha uma profunda confiança em sua sabedoria. Ele acreditava que tudo tinha um propósito, e Eywa o guiaria conforme seu destino. Além disso, sua vida com o povo era feliz, e ele não via razão para perturbar essa paz interna com dúvidas ou questionamentos sobre o passado.
Após a caçada bem-sucedida, At'ok sentou-se à sombra de uma árvore imensa, observando a aldeia ao longe. Ele gostava de se perder em pensamentos em momentos como esse, quando podia sentir a pulsação da floresta ao seu redor. Em dias como aquele, ele se lembrava vagamente de sons metálicos e de vozes humanas ecoando em sua mente, mas os detalhes eram sempre incertos, como uma fumaça que desaparecia ao tentar tocá-la. Ele tentou se concentrar, se forçar a lembrar, mas quanto mais tentava, mais as memórias pareciam escapar.
Seu coração, no entanto, estava em paz. Ele tinha uma família, um lar e uma conexão profunda com Eywa. Os eventos do passado — o ataque na escola, a morte de Sylwanin, o sacrifício de tantas vidas — pareciam pertencer a outra existência, uma da qual ele não fazia mais parte.
[...]
Mo'at, a respeitada tsahik, observava At'ok de longe enquanto ele caminhava entre as árvores. Ela o conhecia desde o dia em que ele fora trazido ferido e sem memória. Desde então, ela sempre o tratara como um filho do clã, mas em seu íntimo, sabia que havia algo de extraordinário nele. Como sacerdotisa, ela sentia uma conexão mais profunda com Eywa, e podia pressentir os mistérios que cercavam o jovem. Por mais que ele se sentisse em casa entre os Na'vi, havia um caminho que ele ainda precisava trilhar.
Uma tarde, enquanto At'ok estava na floresta, Mo'at se aproximou dele em silêncio. Seu andar era gracioso, como o de um felino, e quando ela o chamou, sua voz soava serena, quase mística.
— At'ok _ disse ela, tocando levemente seu ombro. — Caminhe comigo.
Ele olhou para a sábia anciã e assentiu, sem questionar. Sabia que quando Mo'at o chamava para uma conversa, sempre havia algo importante por trás de suas palavras. Eles caminharam lado a lado pela floresta, ouvindo o canto dos pássaros e o murmúrio do vento nas folhas.
— Você tem vivido entre nós como um de nós, e Eywa o aceitou _ começou Mo'at, sua voz baixa, mas carregada de significado. — Mas há perguntas em seu coração, perguntas que você teme fazer.
At'ok hesitou. Ele nunca tinha falado de suas dúvidas com ninguém, nem mesmo consigo mesmo. Porém, Mo'at, com seus olhos sábios, parecia enxergar através dele, como se pudesse ver diretamente em sua alma.
— Eu... _ começou ele, mas sua voz falhou. — Eu não sei. Às vezes, sinto que há algo mais... algo que não entendo.
Mo'at parou e virou-se para ele, seus olhos brilhando com a sabedoria acumulada ao longo dos anos.
— O que você não entende, jovem At'ok, é que não há separação entre você e Eywa. Tudo o que você precisa saber, ela já lhe deu. Mas o que você procura não está nas estrelas, nem em memórias perdidas. Está aqui _ ela disse, colocando a mão sobre o coração dele. — Você é um com a Mãe, e ela é uma com você. Não tema o que é desconhecido. Não tema quem você foi. Aceite o que você é agora.
As palavras de Mo'at penetraram fundo na alma de At'ok. Ele compreendia, mesmo que não completamente. O passado, embora misterioso, não precisava defini-lo. Ele era At'ok, um filho de Pandora, e essa era a verdade que importava.
[...]
A vida na aldeia continuava como sempre, com as tarefas diárias e as preparações para a grande caçada anual. At'ok participava de todas as atividades com entusiasmo, caçando, ajudando na construção de abrigos e aprendendo mais sobre a vida em Pandora. Ele formara fortes laços com seus amigos, especialmente com Tsu'tey, que o tratava como um irmão. A confiança e o respeito mútuo entre eles eram inegáveis, e At'ok se sentia grato por essa nova vida.
Certa noite, durante uma cerimônia sob a grande Árvore das Almas, At'ok sentiu algo profundo ao conectar-se com Eywa. Era como se a Mãe estivesse lhe revelando algo que ele não conseguia colocar em palavras. Visões de criaturas desconhecidas — máquinas voadoras, figuras com uniformes e armas de fogo — passavam diante de seus olhos, misturadas a imagens de Pandora e do povo. Ele viu-se entre eles, mas também fora deles, como se pertencesse a dois mundos ao mesmo tempo.
Depois da cerimônia, ele ficou inquieto. Caminhou sozinho até uma clareira iluminada pelo luar, tentando entender o que aquelas visões significavam. Ele amava seu povo, sua casa, mas por que essas imagens continuavam a assombrá-lo?
— O que você quer de mim, Eywa? _ ele sussurrou ao vento. — Por que me mostra essas coisas?
A resposta veio na forma de uma brisa suave que lhe acariciou o rosto, trazendo consigo o cheiro familiar das árvores e flores da floresta. Ele fechou os olhos e respirou fundo, permitindo que a paz de Pandora o envolvesse mais uma vez.
Talvez ele nunca soubesse de onde veio. Talvez essas lembranças nunca ficassem claras. Mas ele tinha algo mais importante agora: uma vida entre os Na'vi, uma conexão inquebrável com Eywa, e a certeza de que ele pertencia àquele lugar.
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𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔 ; tsu'tey ✓
Fanfiction---------- ❝𝐚𝐯𝐚𝐭𝐚𝐫❞ Dorian tinha o olhar melancólico, um humano com problemas de dormir e um soldado ao qual fora para a guerra muito cedo. O destino do mesmo estava traçado, além dos planetas do sistema solar, seu futuro de vida estava...