cap.010; a verdade

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O sol começava a desaparecer atrás das montanhas flutuantes de Pandora, enquanto uma leve brisa atravessava a grande floresta, balançando as folhas enormes e fazendo os galhos sussurrarem segredos antigos. At'ok estava sentado à beira de uma das clareiras da aldeia, observando o céu que agora se tingia de tons alaranjados e púrpura. Havia uma inquietação crescente em seu coração, algo que ele não conseguia compreender completamente. Desde a chegada de Jake Sully, uma estranha familiaridade tomava conta de sua mente, como se ele o conhecesse de algum lugar — mas de onde?

At'ok tentou afastar esses pensamentos, concentrando-se no que sabia com certeza. Ele era parte do clã Omaticaya, um guerreiro aceito por Eywa e respeitado pelo povo. Ele sempre foi diferente, com seus cinco dedos em vez dos quatro dos Na'vi, mas o clã o aceitara mesmo assim, tratando-o como um dos seus. Ainda assim, essa nova presença — Jake Sully — parecia perturbar algo dentro de si, como se despertasse memórias há muito adormecidas. Memórias que ele não conseguia acessar, mas que pareciam estar ali, nas profundezas de sua mente.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro fresco da floresta, tentando se acalmar. As visões fragmentadas de uma vida passada continuavam a rondá-lo. Ele via máquinas, edifícios metálicos e humanos em uniformes, vozes e gritos em uma língua que ele mal conseguia entender. Mas tudo isso era tão confuso e distante que ele mal conseguia formar um pensamento claro sobre essas lembranças. O que ele sabia com certeza é que o que quer que houvesse acontecido antes de ser resgatado pelos Na'vi, não fazia mais parte de quem ele era. Ele era At'ok agora, e isso deveria bastar.

Porém, algo em Jake Sully o incomodava. Algo o atraía e o deixava ao mesmo tempo desconfortável.

[...]

No coração da aldeia, Tsu'tey andava de um lado para o outro, sua inquietação crescendo a cada momento que passava. Ele não gostava nem um pouco da presença de Jake Sully entre os Na'vi, e a ideia de que At'ok se aproximasse daquele forasteiro o incomodava profundamente. Tsu'tey havia lutado para proteger seu povo dos humanos no passado, e agora via a história se repetindo diante de seus olhos.

— Ele é perigoso, Neytiri — disse Tsu'tey, sua voz baixa, mas cheia de frustração. — Você sabe disso. Não podemos confiar nele. E não quero que At'ok se aproxime dele.

Neytiri, que estava próxima, preparando algumas ervas para um ritual de cura, levantou os olhos e encarou Tsu'tey. Ela compreendia os sentimentos dele, mas também sabia que não poderia ignorar o papel que Jake desempenhara no passado, e o que ele representava para o futuro de Pandora.

— Eu sei o que você sente, Tsu'tey — disse Neytiri calmamente. — Mas Jake não é mais um inimigo. Ele está provando seu valor. At'ok tem o direito de decidir por si mesmo o que sente.

— Decidir por si mesmo? — Tsu'tey quase riu, amargo. — Ele não se lembra de quem ele era! Não tem ideia de quem são os "povos do céu" e do que fizeram. E agora você quer que ele confie nesse Jake Sully, como se fosse um dos nossos?

Neytiri respirou fundo, mantendo sua calma. Ela sabia que a relação entre Tsu'tey e At'ok era complicada. Tsu'tey o tratava como um irmão, mas agora, o ciúme se infiltrava em suas ações e palavras. Ele temia perder At'ok para Jake Sully, tanto como guerreiro quanto como amigo.

— Tsu'tey — disse Neytiri suavemente, aproximando-se dele. — Jake não é o inimigo aqui. E At'ok... ele merece saber a verdade. Nós não podemos mantê-lo no escuro para sempre.

Tsu'tey virou o rosto, claramente frustrado. Ele não queria ouvir mais nada, não queria acreditar que alguém dos "povos do céu" pudesse ter um lugar entre eles. Mas no fundo, ele sabia que Neytiri tinha razão. Ainda assim, ele não conseguia ignorar o sentimento de traição que crescia dentro dele.

𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔  ; tsu'tey ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora