cap.006; a invasão

128 38 0
                                    

O céu já começava a se tingir de laranja, refletindo o fim de mais um dia em Pandora. O som das folhas que balançavam suavemente nas árvores e o canto dos pássaros criavam uma harmonia natural que acalmava todos os habitantes da aldeia. Dorian observava, fascinado pela beleza selvagem do lugar, enquanto Sylwanin e Neytiri treinavam com seus arcos ao longe. Era um momento de tranquilidade, até que um som estridente cortou o ar, abafando o canto das aves e trazendo consigo um presságio de destruição.

Uma frota de naves humanas avançava no horizonte, com soldados fortemente armados desembarcando rapidamente. O caos se instaurou em segundos. Os Na'vi, pegos de surpresa, tentavam organizar uma defesa, mas a força dos invasores era avassaladora. Tiros rasgavam o ar, incendiando árvores e solo. Os animais selvagens fugiam em todas as direções, enquanto os guerreiros Na'vi se preparavam para a batalha.

Dorian, atordoado pelo estrondo dos disparos, não teve tempo de reagir. Um soldado humano, vestindo uma armadura pesada, atirou em sua direção, e ele sentiu uma dor insuportável atravessando seu abdômen. Ao olhar para baixo, viu o sangue escorrendo e seu corpo cedendo ao chão, enquanto o cenário ao redor parecia se desfazer em fumaça e gritos. Seus olhos pesaram, e ele sabia que o fim estava próximo, afinal, ele já havia sentido isso em seu corpo humano, anos atrás.

Tsu'tey, que liderava os guerreiros Na'vi naquela área, viu quando Dorian caiu. Seu coração gelou por um momento, mas logo foi tomado pela determinação. Ele era um guerreiro orgulhoso, mas também sabia quando devia ceder à compaixão. O jovem humano já era considerado parte da aldeia, e perder mais uma vida seria insuportável. Sylwanin, ao perceber o que acontecia, correu em direção a Dorian, tentando protegê-lo, mas seu caminho foi bloqueado por uma saraivada de tiros.

Com um rugido de desespero, Sylwanin se colocou na linha de fogo para proteger o corpo inconsciente de Dorian. Os projéteis a atingiram sem piedade, e ela caiu ao lado do jovem, seus últimos suspiros carregando a esperança de que havia conseguido proteger alguém que ela via como um irmão. Neytiri, ao longe, presenciou a queda de seu amigo mais leal e de sua irmã mais velha. Um grito agudo saiu de seus lábios, uma dor primal que ecoou pela floresta. Mas ela não podia parar. Não naquele momento. Não quando havia tantas vidas em risco.

Tsu'tey, vendo o sacrifício de Sylwanin, correu até Dorian, que ainda respirava, e o levantou em seus braços fortes. O corpo do jovem avatar era leve, embora maior que o corpo de Tsu'tey, quase sem vida, e seu sangue encharcava o peito de Tsu'tey. Ele correu, cada passo pesado como se o chão tentasse impedi-lo de avançar. Sabia o que precisava fazer: levar Dorian até as árvores sagradas, onde talvez a Mãe Ewya pudesse salvá-lo.

Enquanto os tiros e gritos ecoavam atrás dele, Tsu'tey correu pela floresta densa, usando cada gota de sua força para não deixar que a morte reivindicasse mais uma vida naquele dia. Seu coração estava pesado, não apenas pelo corpo de Dorian em seus braços, mas também pela perda iminente de Sylwanin. O guerreiro sentia a dor da perda em seu peito, mas sabia que tinha que continuar.

Ao chegar às árvores sagradas, Tsu'tey caiu de joelhos, depositando cuidadosamente o corpo de Dorian sobre o solo sagrado. Ele estava gravemente ferido, sua respiração era superficial, e seus olhos se moviam lentamente, como se lutasse para permanecer consciente.

- Mãe Ewya... - Tsu'tey murmurou, suas mãos sujas de sangue apertando o solo com desespero. - Eu imploro, salve-o. Não o leve agora.

As árvores ao redor pareciam murmurar em resposta, suas folhas tremulando com o vento suave que passava. Tsu'tey sentiu uma conexão profunda com a terra e com Ewya, algo que ia além das palavras. Ele sabia que estava nas mãos da grande mãe agora. Ele fechou os olhos e se entregou à prece, sua voz rouca e quebrada implorando pelo perdão e pela intervenção divina.

Neytiri chegou logo depois, suas mãos trêmulas tocando o ombro de Tsu'tey. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas ela não derramava mais lágrimas. A dor pela perda de Sylwanin estava cravada em sua alma como uma lança. Ela havia morrido para proteger Dorian, e agora, tudo que Neytiri podia fazer era confiar em Ewya para salvar pelo menos uma vida naquele dia sangrento.

- Ele vai sobreviver? - Neytiri perguntou com a voz embargada, sem conseguir esconder a esperança misturada com o desespero.

Tsu'tey olhou para ela, seus olhos escurecidos pela incerteza.

- Está nas mãos de Ewya, agora. Fizemos tudo o que podíamos.

Os minutos pareciam horas. O silêncio ao redor era denso, quebrado apenas pelo som do vento nas folhas e pelo respiro irregular de Dorian. Neytiri ajoelhou-se ao lado dele, tocando levemente seu rosto pálido. Ela sabia que ele estava pendurado por um fio, entre a vida e a morte, e tudo que podiam fazer era esperar.

Tsu'tey, exausto, recostou-se contra uma das árvores, sentindo o peso do dia cair sobre seus ombros. Ele havia perdido tantos de seus irmãos e irmãs naquele ataque. Sylwanin, sua amada, estava morta, e a dor de sua perda ecoava profundamente dentro dele. A responsabilidade de salvar Dorian havia sido sua única motivação para continuar lutando.

Os momentos passaram lentamente, até que, de repente, as folhas ao redor começaram a brilhar levemente. Tsu'tey abriu os olhos, sentindo a energia da floresta mudar. Neytiri também percebeu, e seus olhos se arregalaram com uma nova esperança. As raízes das árvores começaram a se mover em direção ao corpo de Dorian, envolvendo-o suavemente como se o abraçassem.

- Ewya ouviu nossas preces - sussurrou Neytiri, observando enquanto a vida de Pandora começava a envolver o jovem humano.

Os dois assistiram em silêncio, sem ousar se mover, enquanto a energia de Ewya envolvia Dorian, curando suas feridas e restaurando sua força lentamente. A morte, que havia pairado tão próxima, agora parecia se afastar, dando espaço para a vida. Mas, enquanto Dorian se recuperava, a dor pela perda de Sylwanin e tantos outros guerreiros ainda queimava intensamente nos corações de todos.

Tsu'tey olhou para Neytiri, e embora soubessem que haviam conseguido salvar uma vida, o preço pago naquele dia ecoaria para sempre em suas almas.

[...]

No laboratório a máquina onde o corpo humano de Dorian estava começou a apitar loucamente, uma fumaça branca saiu do complexo fazendo Grace Augustine correr para ver qual era o problema.

-- Ele está convulsionando. _ a voz de Grace soou em desespero ao ver o corpo de Dorian em choque. - O que aconteceu?

-- Não voltar _ a voz de Dorian soou pelo local quando os espasmo pararam.

-- O que significa? _ Grace queria entender.

-- Escola. _ os olhos de Dorian rolaram nas orbitas. - Não voltar lá.

-- Por que? _ Grace o segurou pelos ombros. - Dorian? Por que não voltar?

-- Todos mortos.

Aquelas foram as últimas palavras de Dorian, seu corpo humano havia desfalecido naquele complexo, Dorian havia morrido nos braços de Grace Augustine em uma tarde fria de Pandora.

𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔  ; tsu'tey ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora